Sicut manifestum est
Este é um documento básico para entender Santa Clara e seu amor à pobreza de Jesus Cristo. E para entender o que eram os “usos de S.Damião”.
Logo que foi obrigada a aceitar a Regra de São Bento e se deu conta de que ela não continha o seu ideal de pobreza, Clara pediu ao papa Inocêncio III este “privilégio”. Naquele tempo, muita gente pedia privilégios ao Papa e diversos novos institutos religiosos se sentiram na necessidade de pedir privilégios para preservar sua inspiração, quando a Igreja começou a obrigá-los a aceitar regras antigas. A originalidade de Clara está em ter pedido o algo novo: que ninguém pudesse impedir suas Irmãs de serem pobres.
Embora atestada pela Legenda, pelo Processo de Canonização e pela própria Clara, a existência de um documento dado pelo Papa Inocêncio III foi posta em dúvida até recentemente, quando Becker, Godet e Matura apresentaram na sua edição dos “Écrits” um texto bem fundamentado em três pergaminhos antigos. Desse livro tomamos o original latino para a tradução que damos a seguir. Lembramos que o Bullarium Franciscanum não o traz com o nome de Inocêncio III porque só começa com Honório III. Mas também não o apresenta entre as cartas de Inocêncio IV.
Estudiosos de peso rejeitam hoje este documento, dizendo que pode ter sido de Inocêncio IV, principalmente porque o Privilégio de Gregório IX contido na carta Sicut manifestum est, nem alude a ele. Por minha opinião, acho válida a argumentação de Z. Lazzeri no artigo Il “Privilregium Paupertatis” concesso da Inocenzo III, e che cosa fosse in origine, publicado no AFH XII (1918), págs. 27-276, em que até acredita que, mais do que aprovar a pobreza de Clara, Inocêncio a autoriza a começar um novo tipo de vida religiosa.