TEXTO ORIGINAL
Caput VI - Qualiter primo fugit persecutiones patris et propinquorum, stando cum sacerdote Sancti Damiani in cuius fenestra proiecerat pecuniam.
16.
1 Ex dicta igitur visione et allocutione Crucifixi gavisus surrexit signo crucis se muniens, et ascendens equum assumensque pannos diversorum colorum, ad civitatem quae dicitur Fulgineum pervenit, atque ibi venditis equo et omnibus quae portaverat, ad ecclesiam Sancti Damiani continuo est reversus.
2 Et invento illic sacerdote pauperculo, cum magna fide et devotione osculans manus eius, obtulit illi pecuniam quam portabat et propositum suum per ordinem enarravit.
3 Obstupefactus sacerdos, et subitam eius conversionem miratus, recusabat haec credere, et sibi putans illudi, noluit apud se illius pecuniam retinere.
4 At ipse pertinaciter insistens, verbis suis fidem facere nitebatur et sacerdotem orabat enixius ut eum secum permitteret commorari.
5 Acquievit tendem sacerdos de mora illius, sed timore parentum pecuniam non recepit.
6 Quare verus pecuniarum contemptor in quamdam fenestram proiciens ipsam, velut pulverem vilipendit.
7 Moram igitur faciente (cfr. Mat 25,5) ipso in loco praefato, pater ipsius ut sedulus explorator circuivit quaerens (cfr. 1Pet 5,8) quid actum sit de filio suo.
8 Et cum audisset eum sic mutatum in loco iam dicto taliter conversari, tactus dolore cordis intrinsecus (Gen 6,6) et ad subitum rerum eventum turbatus, convocatis amicis et vicinis (cfr. Luc 15,6) citissime cucurrit ad eum.
9 Ipse autem, quia erat novus miles Christi (cfr. 2Tim 2,3), ut audivit minas persequentium eorumque adventum praescivit, dedit locum irae (cfr. Rom 12,19) paternae et ad quamdam occultam caveam quam ad hoc sibi paraverat accedens, ibi per mensem integrum latitavit.
10 Quae cavea, uni tantum de domo patris erat cognita, ubi cibum sibi quandoque oblatum edebat occulte, orans iugiter lacrimarum imbre perfusus ut Dominus liberaret eum a persecutione nociva et ut pia vota ipsius benigno favore compleret.
TEXTO TRADUZIDO
Capítulo 6 – Como fugiu pela primeira vez das perseguições do pai e dos parentes, ficando com o sacerdote de São Damião, em cuja janela jogara o dinheiro.
16.
1 Após a mencionada visão e fala do Crucificado, levantou-se alegre, fazendo o sinal da cruz, montou a cavalo e pegou panos de diversas cores, indo para a cidade de Foligno e, tendo aí vendido o cavalo e tudo que levara, voltou logo para a igreja de São Damião.
2 Tendo encontrado aí aquele sacerdote pobrezinho, beijou sua mão com grande fé e devoção e lhe ofereceu o dinheiro que levava, contando direitinho o seu propósito.
3 O sacerdote ficou estupefato e, admirado de sua súbita conversão, recusava-se a acreditar nisso; e achando que estava sendo enganado não quis ter aquele dinheiro consigo.
4 Mas ele, insistindo com pertinácia, procurava fazer com que acreditasse em suas palavras e pedia mais fortemente ao sacerdote que lhe permitisse morar com ele.
5 Afinal o sacerdote concordou quanto à morada, mas, por medo dos parentes, não recebeu o dinheiro.
6 Por isso, verdadeiro desprezador do dinheiro, jogou-o em uma janela, dando-lhe o valor de pó.
7 Enquanto ele morava nesse lugar, o pai, como cuidadoso explorador, dava voltas para saber o que tinha acontecido com o filho.
8 Quando soube que ele estava tão mudado e morava de tal forma no referido lugar, foi tocado por uma dor interna no coração, e conturbado por aquela mudança inesperada, convocou amigos e vizinhos, e se dirigiu rapidamente para ele.
9 Ele, porém, como era um novo soldado de Cristo, quando ouviu as ameaças dos perseguidores e percebeu que estavam chegando, deixou que a ira paterna extravasasse e foi para uma cova que tinha preparado para isso, e ficou escondido por um mês inteiro.
10 A cova só era conhecida por uma pessoa da casa paterna, e lá ele comia escondido o alimento que lhe davam de vez em quando, orando continuamente, lavado por uma torrente de lágrimas, para que o Senhor o livrasse dessa perseguição nociva e para que cumprisse com bondoso favor os seus piedosos votos.