TEXTO ORIGINAL
Caput 18. Qualiter induxit et docuit primos fratres ut irent pro eleemosyna quia verecundabantur.
1 Cum coepisset beatus Franciscus habere fratres, tantum laetabatur de conversione illorum et quod Dominus dederat ei societatem bonam, atque in tantum diligebat et venerabatur eos quod non dicebat eis ut irent pro eleemosynis; 2 maxime quia videbatur ei quod verecundabantur ire: unde, parcens illorum verecundiae, quotidie solus ibat pro eleemosyna.
3 Cumque nimis fatigaretur ex hoc, maxime quia fuerat homo delicatus in saeculo et debilis secundum naturam, atque prae nimia abstinentia et afflictione adhuc erat magis debilitatus, 4 consideransque quod tantum laborem solus portare non poterat et quod ipsi ad hoc idem erant vocati, licet verecundarentur hoc facere, quia etiam hoc nondum plene cognoscebant, nec erant ita discreti quod dicerent: Nos etiam volumus ire pro eleemosyna; 5 dixit eis: “Carissimi fratres et filioli mei, nolite verecundari ire pro eleemosyna quiaDominus pro nobis se fecit (cfr. 2Cor 8,9) pauperem in hoc mundo, cujus exemplo elegimus viam verissimae paupertatis. 6 Haec est enim hereditas nostra quam acquisivit et reliquit nobis Dominus Jesus Christus et omnibus qui suo exemplo volunt vivere in sanctissima paupertate. 7 In veritate dico vobis quod multi ex nobilioribus et sapientioribus hujus saeculi venient ad istam congregationem, et pro magno honore et gratia habebunt ire pro eleemosyna. 8 Ite ergo confidenter et animo gaudenti pro eleemosyna cum benedictione Dei; et magis libere et gaudenter ire debetis pro eleemosyna quam ille qui de una nummata afferret centum denarios; 9 quoniam offeretis illis amorem Dei a quibus petetis eleemosynam, dicentes: Amore Domini Dei facite nobis eleemosynam, cujus comparatione nihil est caelum et terra”.
10 Quia vero pauci adhuc erant fratres, non poteratillos binos mittere, sed unumquemque separatim misit(cfr. Luc 10,1) per illa castella et villas. 11 Et factum est, cum redirent cum eleemosynis quas invenerant, unusquisque ostendebat beato Francisco eleemosynas suas, quas acquisiverat. Et dicebat unus alteri: “Ego majorem eleemosynam acquisivi quem tu”. 12 Et ex hoc gavisus est beatus Franciscus cernens eos ita hilares et jucundos; et ex tunc quilibet libentius petebat licentiam eundi pro eleemosyna.
TEXTO TRADUZIDO
Capítulo 18. Como induziu e ensinou os primeiros frades a pedir esmolas, porque tinham vergonha.
1 Quando São Francisco começou a ter irmãos, alegrava-se tanto com a conversão deles e que o Senhor lhe dera uma boa companhia, e tanto os amava e venerava que não os mandava pedir esmolas, 2 sobretudo porque percebia que tinham vergonha de ir. Então, poupando-os da vergonha, ia todos os dias pedir esmolas sozinho.
3 Como isso o cansava muito, principalmente porque no século tinha sido um homem delicado e de frágil compleição, e também porque ficara ainda mais debilitado pela demasiada abstinência e austeridade. 4 Considerando que não podia carregar sozinho todo esse peso e que os outros eram chamados à mesma tarefa, mesmo que tivessem vergonha de fazer isso, porque ainda não sabiam bem como se fazia e não eram tão sensíveis para dizer: “Também nós queremos pedir esmolas”, 5 ele lhes disse: “Caríssimos irmãos e filhinhos meus, não vos envergonheis de pedir esmola, porque o Senhor se fez (cf. 2Cor 8,9) pobre por nós neste mundo e, a seu exemplo, escolhemos o caminho da mais verdadeira pobreza. 6 Pois esta é nossa herança, que o Senhor Jesus Cristo adquiriu e deixou para nós e para todos os que, a seu exemplo, querem viver na santíssima pobreza. 7 Na verdade, digo-vos que muitos dos mais nobres e mais sábios deste século virão a esta congregação e considerarão uma grande honra e graça ir pedir esmolas. 8 Então, ide esmolar com confiança e de ânimo alegre, com a bênção de Deus; e deveis ir esmolar com mais liberdade e alegria do que aquele que com uma moedinha conseguisse cem denários, 9 porque ofereceis o amor de Deus a quem pedis esmola, dizendo: Dai-nos uma esmola por amor do Senhor Deus. Comparando com Ele, o céu e a terra são um nada”.
10 Mas porque os frades ainda eram poucos, não pôde enviá-los dois a dois, mas enviou (cf. Lc 10, I) cada um em separado pelos castelos e vilas. 11 E aconteceu que, quando eles voltavam com as esmolas que tinham encontrado, cada um mostrava ao bem-aventurado Francisco suas esmolas recebidas. E um dizia ao outro: “Eu consegui uma esmola maior do que a tua”. 12 O bem-aventurado Francisco alegrou-se por vê-los alegres e contentes. Desde então, cada um pedia espontaneamente a permissão de ir esmolar.