TEXTO ORIGINAL
XLVIII - De eodem.
Quadam namque die stabat foris una puella,
In gremio cuius mulier recubabat; et ecce,
Concitat ad predam furtim lupus illico gressus.
Huncque puella videt, set credens quod canis esset,
Non timet; intendit scrutandis crinibus. Ipsam
Mox lupus aggreditur, vasto concludit yatu
Ipsius vultum, truculentaque bestia raptam
Faucibus in silvam cepit deducere predam.
Protinus exurgit mulier stupefacta, memorque
Magnifice Clare, vocat, interpellat eandem:
‘Succurre, pia virgo, precor, succurre; puellam
Hanc tibi commendo’. Satis est. Mirabile dictu!
Que portabatur, infert infantula contra
Sevum raptorem: ‘Portabis, latro, puellam
Tante commissam domine?’ Confusus ad ista,
Mox lupus in terram predam deponit; eaque
Dimissa, velut interceptus latro, recedit.
TEXTO TRADUZIDO
XLVIII – Ainda o mesmo assunto.
Certo dia, estava ao ar livre uma menina, em cujo regaço uma mulher se recostara. Eis que, de repente, chega um lobo furtivamente para a caça. A menina o viu, mas não teve medo, porque pensou que fosse um cão. Continuou a mexer nos cabelos. De repente, o lobo agrediu. Numa grande mordida, abocanhou-lhe o rosto, e o truculento animal começou a levar a presa nos dentes para o mato. A mulher logo se levantou, espantada, e, lembrando-se de Clara, a magnífica, chamou-a e a interpelou: “Virgem piedosa, eu te peço, socorre esta menina que eu te recomendo!”.
Foi o bastante. Que maravilha! A criança que estava sendo levada virou-se contra o cruel raptor e lhe disse: “Ó ladrão, vais levar uma menina recomendada a uma senhora tão grande?”.
Confuso diante disso, o lobo logo soltou a presa no chão. Deixando-a como um ladrão surpreendido, foi embora.