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TEXTO ORIGINAL

1 Legenda Minor Cap III

[Cap III. – De S. Clarae obitu].

1 Quadraginta duobus annis virgo preclara in stadio iam cucurrerat altissime paupertatis, cum ecce ad bravium superne vocationis, precedente languore multiplici propinquabat. 
2 Vigore siquidem carnis in annis prioribus austeritati penitentie succumbente, posteriora temporum dura occupavit infirmitas, ut que sana locupletata fuerat meritis operum, infirma locupletior fieret meritis pas-sionum. 
3 Cuius miranda virtus, qualiter fuerit in infirmitate perfecta, hinc maxime liquet, quod in XXVIII annorum languore diutino non murmur sonuit, non querimonia, sed semper ab eius ore sanctum colloquium, semper procedebat actio gratiarum. 
4 Excrescentibus autem infirmitatibus, cum propinquaret ad exitum, nulloque per dies decem et septem alimento suscepto, tanta, quod est dictu mirabile, in illis fuit diebus a Domino fortitudine vigorata, ut omnes ad se venientes in Christi servitio confortaret. 
5 Egrediendi tandem de corpore proximante iam hora, omnipotentis Domini famula, cum sic animam suam fiducialiter allocuta fuisset: 
6 Vade secura, vade, quia bonum habes conductum, cuidam ex Sororibus sacris familiariter sciscitanti, cui sic loqueretur, et quid etiam tam attente respiceret, benigne respondit: 
7 Animam meam benedicitonibus preventam a Domino alloquor, et iam reginam Angelorum et dominam preclara visione contemplor. 
8 Vix sermonem impleverat, et ecce quasi media noctis hora in vestibus albis turba ingreditur virginum, que omnes aurea serta suis capitibus deferentes, unam comitabantur elegan-tiorem pre ceteris, ex cuius corona tanti splendoris gloria refulgebat, ut noctem illam in diei lucem converteret, nullaque videntium matrem ipsam fore Domini dubitaret. 
9 Que cum sacro illo virginum cetu procedens ad lectulum, in quo sponsa Filii decubabat, et amantissime se super eam inclinans, amplexumque strictissimum prestans, proferri iussit a virginibus mire pulchritudinis pallium, quo virginis Clare corpus honorifice texit; sicque disparens, in celestia se recepit. 
10 Circumstabant matris cubiculum filie quam citius orphanande intrinsecus gladiante dolore pertransite, foris exuberantium lacrimarum imbre copioso perfuse, inter quas Agnes virgo Deo devota, ipsiusque germana, primaque in omnis perfectionis itinere socia, lacrimosis pre aliis efflagitabat singultibus, ne se relicta discederet, ut quemadmodum simul Christo con-nupserant, sic etiam simul ex hac vita migrantes, celestem patriam introirent. 
11 Ipsa vero hilari facie ac suavi Soorores demulcens alloquio: Nolite, inquit, flere, nolite turbari, quia magnam vobis consolationem facturus est Dominus; et tu mihi carissima soror Agnes, ne feras, quod nunc discedo moleste, quia sic placet Altissimo, et tu, iuxta quod mente desideras, post modicum me sequeris. 
12 Igitur anno Domini MCCLIII in crastino beati Laurentii anima illa sanctissima premio laureanda perenni de carnis ergastulo egreditur, temploque corporis iam soluto, spiritus feliciter migravit ad astra. 
13 Paucis interiectis diebus, Agnes ad Agni nuptias evocata, sororem Cla-ram, iuxta quod sibi ab eadem, dum adhuc viveret prophetica fuerat re-velatione predictum, ad eternas delicias subsecuta transivit, ubi ambe Syon filie, natura gratia et regno germane, Deo iubilant sine fine. 
14 Desolatis ex hoc remanentibus filiabus pro tante matris abscessu, exspectantibusque consolationem dominicam iuxta promissum ipsius, superne fulgor miserationis infulsit. 
15 Cepit enim illico preclarisisma virgo Clara miraculorum coruscare prodigiis, dum ad ipsius invocationem devotam demones ex obsessis eiciebantur corporibus et egritudines varie curabantur. 
16 Sed et claudis gressus, cecis visus, maniacis et vesanis discretio reddebatur ac sensus. 
17 Nonnulli etiam parvuli de Assisii comitatu, prefate virginis nomine fiducialiter a matribus invocato, de ipsis luporum faucibus sunt et dentibus eruti, invalescente peste illa tunc temporis in finibus regionis illius ad prevaricantium hominum punienda flagitia, sed tam pie matris iam cum Christo regantis interveniente suffragio, mirabiliter effugata. 
18 Horum igitur et similium operum mirandorum fama crebrescente veridica, et ad summum perlata pontificem, dominum scilicet Alexandrum, totius religiositatis amicum, qui virginis sanctitatem precipuam in vita ipsius, experientia certa cognoverat, post inquisionem legitimam et examinationem diligentem virtutum, quas in sponsa sua pius ac iustus Dominus de excelso monstraverat, ipsam de omnium fratrum suorum ac prelatorum tunc in curia romana pre-sentium concordi consilio et assensu, duxit sanctorum catalogo sollemniter adscribendum. 
19 Clara itaque dum viveret meritis, et iam in abyssum absorpta perpetue claritatis, sed et preclarioribus a die transitus sui usque in presens miraculorum prodigiis coruscare non cessans, luce clarius manifestat, quod qui paupertatis, obedientie et castitatis votum perfecte servaverit, tanquam totius perfectionis evangelice ad claris contuendam obtutibus introducetur superne glorie claritatem.
20 Intercede pro nobis, oramus, ad Christum, paupercularum pia mater et socia virginum, ut Regi glorie militantium acies, quas tuis sacris meritis, precibus et exemplis, ad salutaris attraxisti penitentie gemitum, perfecteque iustitiae normam, tuis etiam interventivis presidiis post te trahas ad gaudium et gloriam sempiternam, quo nos perducat rex noster et dux, Christus Iesus crucifixus, cui cum Patre et Spiritu Sancto est omnis honor et gloria per infinita secula seculorum. Amen.

TEXTO TRADUZIDO

1 Legenda Menor Cap III

[Cap. III - A morte de santa Clara]

1 A virgem preclara já tinha corrido quarenta e dois anos no estádio da altíssima pobreza quando se aproximou a recompensa da vocação superna, precedida por múltiplos sofrimentos. 
2 Sucumbindo o vigor da carne à austeridade da penitência nos primeiros anos, seus últimos tempos foram ocupados por uma dura enfermidade, de forma que a que, quando sadia, se enchera com os méritos das obras, doente tornou-se ainda mais rica pelos méritos dos sofrimentos. 
3 Sua virtude admirável, quanto foi perfeita na doença, fica demonstrado principalmente porque em 28 anos de um sofrimento contínuo não se ouviu nenhuma murmuração, nenhuma queixa, mas de sua boca sempre procediam um santo colóquio e ação de graças. 
4 Mas com o crescimento das doenças, quando se aproximava da saída, sem tomar nenhum alimento durante 17 dias, é digno de admiração que foi revigorada pelo Senhor por tão grande fortaleza, que confortava a todos os que vinham visitá-la no serviço de Cristo. 
5 Quando se aproximou a hora de sair do corpo, a serva do Senhor onipotente falou assim confiantemente com a sua alma: 
6 Vai segura, vai, porque tens um bom guia. A uma das Irmãs sagradas que perguntou familiarmente com quem estava falando desse jeito, e o que estava olhando com tanta atenção, respondeu bondosamente: 
7 Falo com a minha alma já repleta de bênçãos pelo Senhor, e já estou contemplando a senhora e rainha dos anjos numa clara visão. 
8 Mal tinha acabado de falar e eis que, pela meia noite, entrou um grupo de virgens com roupas alvas, todas levando coroas de ouro em suas cabeças, e acompanhando uma mais elegante do que as outras, de cuja coroa refulgia a glória de tão grande esplendor que aquela noite foi transformada em dia, e nenhuma das que viu duvidou de que fosse a própria mãe do Senhor. 
9 A qual, aproximando-se com aquele grupo sagrado de virgens da cama em que jazia a esposa do Filho, e inclinado-se amorosissimamente sobre ela, dando-lhe um abraço bem apertado, mandou que as virgens trouxessem um pálio de admirável beleza, com o qual cobriu honrosamente o corpo da virgem Clara. Depois, desaparecendo, recolheu-se aos céus. 
10 Rodeavam o cubículo da mãe as filhas que em breve deveriam ficar órfãs, atravessadas interiormente pela dor como uma espada, exteriormente banhadas pelo copioso rio de lágrimas exuberantes. Entre elas estava Inês, virgem devotada a Deus, irmã dela, a primeira companheira no caminho de toda perfeição, e mais do que as outras implorava com seus soluços que não a abandonasse, para que, como juntas tinham desposado Cristo, assim também migrassem juntas desta vida, entrando na pátria celeste. 
11 Mas ela mesma, com um rosto alegre e suave, falou consolando as Irmãs: Não choreis, não vos perturbeis, porque o Senhor vai dar-vos uma consolação. E tu, minha caríssima irmã Inês, não leves a mal porque te deixo agora, porque assim apraz ao Altíssimo, e tu, de acordo com o que desejas, vais me seguir dentro em breve. 
12 Por isso, no ano 1253, no dia seguinte à festa de São Lourenço, aquela alma santíssima saiu do cárcere da carne para receber o prêmio perene, e já dissolvido o templo do corpo, o espírito migrou feliz para os astros. 
13 Passados poucos dias, Inês foi chamada às núpcias e, de acordo com o que fora predito por uma revelação profética enquanto ela ainda vivia, seguiu sua irmã Clara para onde as duas filhas de Sion, irmãs pela natureza, pela graça e pelo reino, alegram-se em deus sem fim. 
14 Para as filhas que ficaram desoladas depois disso pelo afastamento de tão grande mãe e esperavam a consolação do Senhor como lhes fora prometido, brilhou o fulgor da miseração superna. 
15 Pois a virgem Clara começou bem depressa a cintilar pelos prodígios dos milagres, quando ao invocá-la com devoção os demônios eram expulsos dos corpos dos obesos e diversa doenças eram curadas. 
16 Também eram devolvidos o caminhar aos coxos, a visão aos cegos, a discrição e o bom senso aos maníacos e doidos. 
17 Também algumas crianças do condado de Assis, quando suas mães invocavam com confiança o nome da referida virgem, foram tirados até da boca e dos dentes dos lobos, pois essa peste grassava naquele tempo nos confins da região para punir as maldades dos homens pecadores, mas foi afastada pela intercessão de tão piedosa mãe, que já reinava com Cristo 
18 Pois quando foi crescendo a fama verdadeira dessas obras admiráveis e de outras semelhantes, e chegou ao sumo pontífice, o senhor Alexandre, amigo de toda religiosidade, que conhecera a principal santidade da virgem durante sua vida e por experiência certa, depois de uma pesquisa legitima e de uma avaliação diligente das virtudes, que em sua esposa o piedoso e justo Senhor tinha demonstrado do excelso, com conselho comum e o consentimento de todos os seus irmãos e prelados que estavam então na cúria romana, mandou que ela fosse incluída solenemente no catálogo dos santos. 
19 Assim Clara, pelos seus méritos enquanto viveu, e já absorvida no abismo da perpétua claridade, não deixando de brilhar por seus prodígios ainda mais preclaros desde o dia de seu trânsito até o presente, manifesta mais claramente do que a luz que aquele que observar perfeitamente o voto de pobreza, obediência e castidade, como de toda perfeição evangélica será introduzido na claridade da glória superna para constituir os olhares claros.
20 Intercede por nós, vos pedimos, junto de Cristo, mãe piedosa das pobrezinhas e companheira das virgens, para que o exército dos militantes do rei da glória, que pelos teus sagrados méritos, preces e exemplos, atraíste para o gemido da penitência salutar, para a norma da justiça perfeita, também por teus presídios intercessivos arrastes atrás de ti para o gozo e a glória sempiterna, para onde nos leve o nosso rei e comandante, Cristo Jesus crucificado, ao qual com o Pai e o Espírito Santo cabem toda honra e glória pelos infinitos séculos dos séculos. Amém.