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TEXTO ORIGINAL

Legenda Maior - I,1

Incipit vita beati Francisci. 

Caput I - De conversatione sancti Francisci in habitu saeculari. 


1 Vir erat in civitate Assisii, Franciscus nomine, cuius memoria in benedictione est (cfr. Iob 1,1; Sir 45,1), pro eo quod Deus ipsum in benedictionibus dulcedinis benigne praeveniens (cfr. Ps 20,4), et de praesentis vitae periculis clementer eripuit et caelestis gratiae donis affluenter implevit. 
2 Etenim, cum inter vanos fuerit hominum filios (cfr. Ps 61,10) iuvenili aetate nutritus in vanis, et post aliqualem litterarum notitiam lucrativis mercationum deputatus negotiis, superno sibi assistente praesidio, nec inter lascivos iuvenes, quamvis effusus ad gaudia, post carnis petulantiam abiit, nec inter cupidos mercatores, quamquam intentus ad lucra, speravit in pecunia et thesauris (cfr. Sir 31,8). 
3 Inerat namque juvenis Francisci praecordiis divinitus incita quaedam ad pauperes miseratio liberalis, quae secum ab infantia crescens (cfr. Iob 31,18), tanta cor ipsius benignitate repleverat, ut iam Evangelii non surdus auditor, omni proponeret se petenti tribuere (cfr. Luc 6,30), maxime si divinum allegaret amorem. 
4 Cum autem semel negotiationis intentus tumultibus, pauperem quemdam pro amore Dei petentem eleemosynam, praeter morem solitum, vacuum repulisset, statim ad cor reversus, cucurrit post ipsum, et eleemosyna illi clementer impensa, promisit Domino Deo, quod numquam ex tunc, dum adesset possibilitas, petentibus pro amore Domini se negaret; 
5 quod usque ad mortem indefessa pietate observans, copiosa in Deum dilectionis et gratiae incrementa promeruit. 
6 Aiebat enim post, cum iam perfecte Christum induerat (cfr. Gal 3,27), quod etiam exsistens in habitu saeculari, vocem divini expressivam amoris audire vix umquam sine cordis immutatione valebat. 
7 Porro mansuetudinis lenitas cum elegantia morum, patientia et tractabilitas supra humanum modum, munificentiae largitas ultra suppetentiam facultatum, quibus bonae indolis adolescens certis florere conspiciebatur indiciis, 
8 quaedam videbantur esse praeludia, quod copiosior super eum foret in posterum divinae benedictionis abundantia diffundenda. 
9 Quidam sane vir de Assisio valde simplex, ut creditur, eruditus a Deo, cum aliquando per civitatem eunti obviaret Francisco, deponebat pallium, 
10 sternebat ipsius pedibus vestimentum (cfr. Luc 19,36), asserens omni fore Franciscum reverentia dignum, utpote qui esset in proximo magna facturus et ob hoc ab universitate fidelium magnifice honorandus.

TEXTO TRADUZIDO

Legenda Maior - I,1

Começa a vida do bem-aventurado Francisco. 

Capítulo I – Do comportamento de São Francisco quando vivia como secular. 


1 Havia um homem na cidade de Assis, cuja memória é abençoada, pelo fato de que Deus, preparando-o bondosamente nas bênçãos da doçura, arrancou-o clementemente dos perigos da vida presente e o encheu abundantemente de dons da graça. 
2 Pois, como foi nutrido nas vaidades na juventude, entre os filhos vaidosos dos homens, e, depois de algum conhecimento das letras, foi encarregado dos negócios lucrativos das mercadorias, com o auxílio divino que lhe foi dado, nem foi atrás dos jovens lascivos e da petulância da carne, ainda que fosse efusivo nas alegrias, nem pôs sua esperança em dinheiro ou tesouros, entre os ávidos mercadores, embora buscasse ter lucros. 
3 Pois nascera no fundo coração do jovem Francisco, inspirada por Deus, uma certa comiseração liberal pelos pobres, que, crescendo com ele desde a infância, enchera seu coração de tamanha bondade que – como alguém que já não era um ouvinte surdo do Evangelho – propôs-se a dar a todos que lhe pedissem, principalmente se alegassem o amor de Deus. 
4 Pois uma vez, quando estava com toda a atenção nas complicações de uma negociação, contrariamente a seu costume despediu sem nada um pobre que lhe pediu uma esmola por amor de Deus. Logo que tomou consciência, correu atrás dele, e, tendo dado uma esmola bem clemente, prometeu ao Senhor Deus que, a partir daí, nunca, se fosse possível, se negaria aos que pedissem por amor de Deus. 
5 Cumprindo isso até a morte, observando-o com uma piedade incansável, mereceu um crescimento abundante do amor e da graça de Deus. 
6 Pois dizia, mais tarde, quando já se havia revestido perfeitamente de Cristo (cfr. Gl 3,27), que mesmo quando estava com a roupa secular mal podia ouvir uma voz falando do amor divino sem sentir sempre uma mudança no coração. 
7 Além disso, a suavidade da mansidão com a elegância de costumes, a paciência e a afabilidade sobre-humana a liberalidade maior do que permitiam seus recursos, indícios pelos quais se via que o adolescente de boa índole estava florescendo, 
8 demonstravam ser alguns prelúdios de que a abundância da bênção divina, que ainda haveria de difundir-se mais copiosamente sobre ele. 
9 De fato, um cidadão de Assis muito simples, como se crê, ensinado por Deus, quando se encontrava alguma vez com Francisco indo pela cidade, tirava o manto, 
10 estendia a roupa sob seus pés, dizendo que Francisco seria digno de toda reverência, porque em breve faria grandes coisas, e por isso deveria ser magnificamente honrado por todos os fiéis.