Página de Estudos das Fontes Pesquisadas

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TEXTO ORIGINAL

Compilação de Assis - 120

[120]
1 Unde quodam tempore, cum reverteretur ab Urbe, quando scilicet stetit apud dominum Leonem per aliquot dies, illa die qua exivit ab Urbe per totum diem pluit;
2 et quia erat tunc valde infirmitius, equitabat;
3 sed ad dicendum horas suas descendit de equo, stans iuxta viam, licet plueret et esset totus balneatus.
4 Et ait: “Si cum pace et quiete vult comedere corpus cibum suum, qui cum corpore pariter fit esca vermium, cum quanta pace et quiete deberet anima recipere cibum suum, qui est ipse Deus!”.
5 Et dicebat: “Tunc exultat diabolus, cum devotionem et letitiam cordis servi Dei, que provenit ex munda oratione et aliis bonis operibus, extinguere vel impedire potest.
6 Nam, si diabolus de suo aliquid in servo Dei habere potest, nisi servus Dei fuerit sapiens et si, quam citius poterit, illud non deleat vel destruat contritione et confessione et operis satisfactione, in brevi tempore de uno capillo facit trabem unam, semper ibi adiciendo”.
7 Et ait: “Servus Dei in comedendo, dormiendo et aliis necessitatibus suo corpori cum discretione satisfacere debet, ut frater corpus non valeat murmurare dicens:
8 Ego non possum stare erectus et insistere orationi, nec in tribulationibus meis letari et alia bona opera operari, pro eo quod michi non satisfacis”.
9 Item dicebat, quod si servus Dei suo corpori cum discretione satisfacit satis bono modo et honeste sicut poterit,
10 et frater corpus, in oratione et vigiliis et aliis bonis operibus anime vellet esse pigrum, negligens vel somnolentum, quod ipsum castigare debet tamquam malum et pigrum armentum, quia vult comedere et non vult lucrari, nec honus portare.
11 Si vero propter inopiam et paupertatem frater corpus suas necessitates [in] infirmitate et sanitate habere non potest, dum honeste et cum humilitate fratri suo vel suo prelato illas petierit amore Dei, et sibi non dantur, patienter sustineat amore Domini et sibi a Domino pro martyrio imputabitur.
12 Et quoniam fecit quod suum est, videlicet quod petiit suam necessitatem, excusatur a peccato, etiam si corpus inde magis infirmaretur”.
13 Et in hoc summum et precipuum studium habuit beatus Franciscus, licet a principio sue conversionis usque ad diem mortis sue valde afflixerit corpus suum, videlicet quod semper fuit sollicitus interius et exterius habere, [et] conservare in se letitiam spiritualem.
14 Immo dicebat quod, si servus Dei studuerit semper habere et conservare letitiam interius et exterius, quod provenit e munditia cordis, demones nichil sibi nocere possunt, dicentes:
15 “Quoniam ex quo in tribulatione et prosperitate letitiam habet servus Dei, aditum intrandi ad ipsum non valemus invenire, nec sibi nocere”.
16 Nam quadam vice reprehendit unum de sociis suis, quia videbatur sibi quod haberet tristitiam et tristem faciem.
17 Et dixit ad eum: “Cur habes tristitiam et dolorem de tuis offensis?
18 Inter te et Deum habeas, et ora ipsum ut per misericordiam suam tibi reddat letitiam salutaris (cfr. Ps 50,14) sui;
19 et coram me et aliis studeas semper habere letitiam, quia non convenit ut servus Dei coram fratre suo vel alio ostendat se accidiosum et tribulatam habere faciem.
20 “Et quoniam scio quod demones invident michi de beneficiis, que michi Dominus largitus est per misericordiam suam, cum michi per me nocere non possunt, insidiantur et student michi nocere per socios meos.
21 Si vero per me et socios meos nocere non possunt, cum confusione magna recedunt.
22 Immo quandoque si essem temptatus et accidiosus, cum considero letitiam socii mei, occasione illius letitie de temptatione et accidia revertor ad letitiam interiorem”.

TEXTO TRADUZIDO

Compilação de Assis - 120

[120]
1 Por isso, certa ocasião, quando estava voltando de Roma, quando esteve na casa do senhor Leão por alguns dias, no dia em que saiu de Roma, choveu o dia inteiro.
2 E como estava muito doente, ia a cavalo.
3 Mas para dizer as suas horas, desceu do cavalo, ficando em pé ao lado da estrada, apesar da chuva e de ter ficado todo molhado.
4 E disse: “Se o corpo quer comer em paz e com sossego, a sua comida, que acaba sendo pasto dos vermes, com quanta paz e sossego deveria a alma receber sua comida, que é o próprio Deus!”.
5 E dizia: “O diabo fica exultante quando consegue extinguir ou impedir a devoção e a alegria do coração do servo de Deus, que provém da oração limpa e das outras boas obras.
6 Pois se o diabo pode ter alguma coisa de seu no servo de Deus, se o servo de Deus não for sábio e se, o mais depressa que puder, não o apague ou destrua pela contrição, pela confissão e pela satisfação da obra, em pouco tempo faz de um cabelo uma trave, aumentando cada vez mais”.
7 E disse: “O servo de Deus deve satisfazer a fome, o sono e as outras necessidades de seu corpo com discrição, para que o irmão corpo não possa murmurar, dizendo:
8 “Eu não posso ficar em pé e insistir na oração, nem posso me alegrar em minhas tribulações e fazer outras obras boas, porque não me satisfazes”.
9 Também dizia que se o servo de Deus não satisfaz seu corpo com discrição, de um modo bastante bom e honesto, como puder,
10 e o irmão corpo, na oração, nas vigílias e em outras obras boas da alma quiser ser preguiçoso, negligente e sonolento, deve castigá-lo como um animal mau e preguiçoso, porque quer comer e não produzir nem carregar a carga.
11 Entretanto, se o irmão corpo não pode satisfazer suas necessidades na doença e na saúde por escassez e pobreza, quando pede o que precisa a seu irmão ou prelado, honesta e humildemente, por amor de Deus, e não lhe for dado, suporte pacientemente por amor do Senhor, o Senhor vai dar-lhe o mérito do martírio.
12 E como fez o que podia, isto é, pediu o que necessitava, fica livre de pecado, mesmo que o corpo fique mais doente por causa disso”.
13 Nisso o bem-aventurado Francisco sempre empenhou o maior e o principal esforço, embora seu corpo tenha sido muito afligido desde o princípio de sua conversão até o dia de sua morte, porque sempre foi solícito em ter e conservar, exterior e interiormente a alegria espiritual.
14 Até dizia que, se o servo de deus se esforçar sempre por ter e conservar a alegria interior e exteriormente, o que provém da limpeza do coração, os demônios não podem fazer-lhe nenhum mal, dizendo:
15 “Porque o servo de Deus mantém a alegria na tribulação e na prosperidade, não conseguimos achar nenhuma porta para entrar nele, nem para prejudicá-lo”.
16 Pois certa vez repreendeu um de seus companheiros porque lhe parecia que estava com tristeza e com a cara triste.
17 E lhe disse: “Por que tens tristeza e dor por tuas ofensas?
18 Guarda isso entre ti e deus e para a Ele para que por sua misericórdia te devolva a alegria de sua salvação;
19 e diante de mim e dos outros procura ter sempre alegria, porque não convém que um servo de Deus mostre diante de seu irmão ou de outro um rosto amargo e atribulado.
20 “Eu sei que os demônios me odeiam por causa dos benefícios que Deus me deu por sua misericórdia. Como não pode me fazer mal por mim, tentam e se esforçam por me prejudicar através de meus companheiros.
21 Mas se não conseguem a mim e a meus companheiros, retiram-se com uma grande confusão.
22 Se alguma vez eu me encontrasse tentado e abatido, se vir a alegria de meu companheiro, acho que por causa dessa alegria vou voltar da tentação e do aborrecimento para a alegria interior”.