Página de Estudos das Fontes Pesquisadas

  • Fontes Franciscanas
  • Fontes Biográficas
  • Espelho da Perfeição Menor

TEXTO ORIGINAL

Speculum Perfectionis (minus) - 27

[27]
1 Abbas Sancti Benedicti de Monte Subasio concessit beato Francisco et fratribus suis ecclesiam sancte Marie de Portiuncula pro magis paupere, quam haberet et voluit, quod, si Dominus augmentaret fratres, quod esset caput totius religionis, quod et concessit beatus Franciscus. 2 Et gavisus est de loco fratribus concesso et quia ita vocabatur et quia pauperior ecclesia erat de districtu Assisii, et de cognomine eius; 3 cognominabatur enim Portiuncula a contrata, que sic antea vocabatur; in quo prefigurabatur, quod futura esset mater et caput pauperum Minorum Fratrum. 4 Nam dicebat beatus Franciscus: “Propterea voluit Dominus, ut nulla alia ecclesia fratribus concederetur et quod de novo aliquam ecclesiam tunc primi fratres non construerent nec haberent, nisi illam, quoniam illa fuit quedam prophetia que adimpleta est in adventu Minorum Fratrum”. 5 Et licet paupercula et quasi iam destructa esset per multum tempus, semper homines civitatis Assisii et illius contrate habuerunt in illa magnam devotionem.
6 Et licet abbas et monachi libere concessissent beato Francisco et eius fratribus illam ecclesiam sine datione aliqua, 7 tamen beatus Franciscus tanquam peritus magister, qui domum suam voluit edificare supra firmam petram (cfr. Mat 7,24)videlicet congregationem suam supra magnam paupertatem et humilitatem, annuatim mictebat abbati fiscellam plenam pisciculis, qui vocantur lasche; 8 ut fratres nullo tempore habeant proprium locum, nec in aliquo permanerent, qui non esset sub dominio aliquorum, ita quod fratres non haberent potestatem vendendi vel alienandi quoquo modo. 9 Et cum fratres portabant monachis pisciculos annuatim, ipsi propter humilitatem beati Francisci, qui ex voluntate sua illud faciebat, dabant beato et fratribus suis quoddam vas plenum oleo.
10 Nos vero, qui fuimus cum (cfr. 2Pet 1,18) beato Francisco, testimonium per­hibemus (cfr. Ioa 21,24; 3Ioa 12), quod ipse cum affirmatione de illa ecclesia per multam prerogativam, quam Dominus ibi ostendit, sibi revelatum fuit, quod inter alias omnes ecclesias huius seculi, quas beata Virgo diligit, diligit illam ecclesiam. 11 Et circa mortem suam hanc ecclesiam fratribus in testamentum reliquit, ut semper a fratrlbus haberetur in maxima devotione et reverentia, 12 et voluit, quod esset sub ordinatione generalis, qui semper ibi familiam sanctam poneret, fratres clericos et laicos, qui servirent eis, et voluit, quod spetialiter locus ille conservaretur purus et sanctus in himnis et laudibus Domini; 13 et dicebat: “Quoniam si fratres et loca ipsorum, ubi manent, a puritate et honestate, que convenit, aliquo tempore deviaverint, iste locus, volo, quod sit speculum et bonum exemplum totius religionis et quoddam candelabrum ante thronum Dei (cfr. Apoc 4,5) et beatam Virginem, propter quod Dominus propitietur defectibus et culpis fratrum et conservet semper et protegat religionem et plantulam suam”.
14 Fratres vero qui olim ibi morabantur, servabant voluntatem patris; macerabant enim carnem suam, non solum ieiuniis, sed vigiliis multis, frigore et nuditate (cfr. 2Cor 11,27) et labore manuum (cfr. Ps 127,2) suarum. 15 Multotiens enim, ut non starent otiosi, ibant et iuvabant pauperes homines in agris eorum, et ipsi postea dabant aliquando eis de pane amore Dei. 16 Et sic conservabant sanctitatem loci et cum continua oratione die noctuque et continuo silentio 17 et, si aliquando loquerentur post terminum silentii, cum maxima devotione et honestate, que ad laudem Dei et animarum salutem (cfr. 1Pet 1,9) pertinebant, tractabant. 18 Et si contingeret raro, ut aliquis aliqua verba inutilia vel otiosa inciperet loqui (cfr. Mat 12,36)statim ab alio corrigebatur. 19 Et hiis et aliis virtutibus sanctificabant se ipsos et locum.

TEXTO TRADUZIDO

Espelho da Perfeição Menor - 27

[27]
1 O abade de São Bento do Monte Subásio doou ao bem-aventurado Francisco e seus frades a igreja de Santa Maria da Porciúncula, que era a mais pobre que possuía, e quis que, se o Senhor aumen­tasse os frades, fosse a cabeça de toda a religião, o que também o bem-aventurado Francisco concedeu. 2 E alegrou-se com o lugar concedido aos frades, porque tinha esse nome e porque era a mais pobre igreja do distrito de Assis, e por causa do seu apelido. 3 De fato, era chamada de Porciúncula, pela região, que já tinha esse nome; nisso prefigurava que seria a futura mãe e ca­beça dos pobres Frades Menores. 4 Pois o bem-aventurado Francisco dizia: “Foi por isso que o Senhor não quis que outra igreja fosse concedida aos frades nem e os primeiros frades não construíssem nem tivessem outra igreja nova, a não ser aquela, por­que essa foi uma profecia cumprida com a chegada dos Frades menores”. 5 E embora pobrezinha e já quase destruída, os habitantes de Assis e daquela região sempre tive­ram grande devoção por ela.
6 E ainda que.o abade e os monges ti­vessem concedido livremente aquela, igreja ao bem-aventurado Francisco e seus frades, sem nenhum encargo, 7 o bem-aventurado Francisco, como sábio mestre, que quis edificar sua casa sobre uma rocha (cf. Mt 7,24) firme, isto é, sua congregação sobre uma grande pobreza e humildade, anualmente enviava anualmente ao abade uma cesta cheia de peixinhos, chamados lascas, 8 para que os frades jamais tivessem um lugar próprio nem permanecessem em outro que não estivesse sob o domínio de alguém, de forma que de modo algum os frades ti­vessem o poder de vender ou de alienar. 9 E, quando anualmente os frades levavam os peixinhos aos monges, por causa da humildade do bem-aventurado Francisco que fazia isso só porque queria, eles davam ao santo e a seus frades um vaso cheio de óleo.
10 E nós que vivemos com (cf. 2Pd 1,18) o bem-aventurado Francisco, damos testemunho (cf. Jo 21,24; 3Jo 12) de que ele afirmou que lhe fora revelado sobre aquela igreja que, pelas muitas graças que o Senhor ali mos­trou, o que entre todas as outras igrejas deste mundo que a Bem-aventurada Virgem ama, ama especialmente aquela igreja. 11 E, perto de sua morte, legou esta igreja aos frades em tes­tamento, para que os frades sempre tivessem por ela a maior devo­ção e respeito, 12 e quis que estivesse sob as ordens do Geral; que ali sempre poria uma comunidade santa, de irmãos clérigos e leigos, que os servissem, e quis que aquele lugar fosse conservado especi­almente puro e santo com hinos e louvores do Senhor. 13 E acres­centava: “Porque, se os :frades e os lugares onde moram em algum tempo se desviarem da pureza e da dignidade que convém, quero que este lugar seja espelho e bom exemplo para toda a religião e um candelabro ante o trono de Deus (cf. Ap 4,5) e da Bem-aventurada Virgem, pelo que o Senhor seja propício diante dos defeitos e culpas dos fra­des, conserve sempre e proteja sua religião e plantinha”.
14 Os frades que antigamente lá moravam observavam a von­tade do pai; mortificavam sua carne não somente com jejuns, mas também com muitas vigílias, frio, nudez (cf. 2Cor 11,27) e traba­lho de suas mãos (cf. Sl 127,2). 15 Muitas vezes, para não ficarem ociosos, iam ajudar os pobres em seus campos, e depois eles lhes davam pão por amor de Deus. 16 E assim conserva­vam a santidade do lugar com oração contínua, de dia e de noite, com silêncio constante 17 e, se alguma vez falavam após terminar o silêncio, faziam-no com a maior devoção e dignidade, como con­vém ao louvor de Deus e à salvação das almas (cf. 1Pd 1,9). 18 E se acontecesse, raramente, que alguém começasse a falar alguma pa­lavra inútil ou ociosa (cf. Mt 12,36), imediatamente era corrigi­do por outro. 19 E por estas e outras virtudes santificavam a si mes­mos e ao lugar.