Página de Estudos das Fontes Pesquisadas

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  • Espelho da Perfeição Menor

TEXTO ORIGINAL

Speculum Perfectionis (minus) - 31

[31]
1 Cum maneret beatus Franciscus apud sanctam Mariam de Portiuncula, ibat quandoque per villas et ecclesias in circuitu civitatis Assisii annuntiando et predicando hominibus, ut facerent penitentiam. 2 Et portabat scopam ad scopandas ecclesias. 3 Nam multum dolebat beatus Franciscus, cum intraret aliquam ecclesiam et videret ipsam non mundatam, 4 et propterea semper, quando predicaverat populo, finita predicatione faciebat congregari omnes sacerdotes, qui aderant ibi, in aliquo remoto loco, ut a secularibus non audiretur, et predicabat eis de salute animarum 5 et maxime, ut curam et sollicitudinem haberent conservandi mundas ecclesias et altaria et omnia, que pertinent ad celebranda divina mysteria.
6 Cum quadam die beatus Franciscus scoparet quandam ecclesiam cuiusdam ville, statim rumor de ipso factus est in illa villa, maxime quia libenter ab hominibus audiebatur et videbatur. 7 Ut autem audivit quidam, Iohannes nomine, vir mire simplicitatis, qui arabat in quodam suo agro prope ecclesiam illam, statim ivit ad ipsum, inveniens illum scopantem ecclesiam; 8 et dixit ad eum: “Frater, da michi scopam, quia volo te adiuvare”; 9 et accipiens scopam ab ipso scopavit residuum. 10 Et sedentibus illis dixit ille ad beatum Franciscum: “Frater, iam diu est, quod habui voluntatem serviendi Deo et maxime postquam de te et de tuis fratribus rumorem audivi; sed nesciebam, qualiter ad te venirem. 11 Sed postquam Deo placuit, ut te viderem, volo facere, quicquid tibi placuerit”.
12 Beatus Franciscus considerans eius fervorem exultavit in Domino maxime, quia tunc paucos habebat fratres, et quia sibi videbatur propter eius puram simplicitatem, quod deberet esse bonus religiosus,13 qui dixit ei: “Frater, si vis esse de societate nostra, oportet, quod expropries te de omnibus tuis, que sine scandalo habere potes, et des ea pauperibus (cfr. Mat 19,21) secundum consilium sancti Evangelii, quia illud idem fratres nostri, qui potuerunt, fecerunt”. 14 Quo audito statim ivit in agrum, ubi dimiserat boves, et solvit illos et duxit unum coram beato Francisco et dixit ad eum: 15 “Frater, tot annis servivi patri meo et omnibus de domo mea; licet parva sit portio hereditatis mee, volo istum bovem accipere pro portione mea et dare illum pauperibus, sicut tibi melius videbitur secundum Deum”.
16 Videntes autem parentes et eius fratres, qui adhuc erant parvi, quod volebat eos dimictere, ceperunt ipsi et omnes de domo tam fortiter lacrimari, quod motus est inde ad pietatem beatus Franciscus, 17 et ait ad illos: “Parate comestionem, ut insimul comedamus, et nolite plangere, quoniam letos vos faciam”. 18 Illi autem statim paraverunt, et comederunt omnes cum letitia. 19 Post comestionem dixit ad eos sanctus: “Iste filius vester vult servire Deo, de quo debetis gaudere, 20 et non solum secundum Deum verum etiam secundum seculum illud imputatur vobis in honorem et profectum animarum et corporum, quia de carne vestra honoratur Deus, et omnes fratres nostri erunt vestri filii et fratres. 21 Et quia creatura Dei est et summo Creatori vult servire cui servire regnare est, non possum nec debeo ipsum reddere vobis, 22 sed ut de ipso habeatis consolationem, volo, quod ipse expropriet se vobis de isto bove tanquam pauperibus, licet pauperibus aliis deberet dari (cfr. Mat 19,21)secundum consilium sancti Evangelii”. 23 Et consolati sunt et de verbis et de bove, quia pauperes erant.
24 Et quia beatus Franciscus nimis diligebat puram et sanctam simplicitatem semper in se et in aliis, statim quod induit eum pannos religionis, ducebat illum pro socio suo. 25 Erat enim ille tante simplicitatis, quod ad omnia que faciebat beatus Franciscus, credebat se teneri. 26 Unde, cum beatus Franciscus staret in aliquo loco in oratione, et ipse volebat ipsum respicere, ut eius se gestibus omnibus conformaret. 27 Unde, si beatus Franciscus flecteret genua aut iungeret manus ad celum (cfr. Deut 32,40) aut spueret vel tussiret, et ipse similiter faciebat. 28 Et cepit ipsum beatus Franciscus cum multa letitia de huiusmodi simplicitatibus redarguere; 29 qui respondi” ei: “Frater, ego promisi facere omnia que tu facis; unde volo facere que tu facis”. 30 Et mirabatur inde et delectabatur beatus Franciscus videns ipsum in tanta simplicitate et puritate. 31 Nam tantum cepit in omnibus virtutibus et moribus perfectus esse, quod beatus Franciscus et alii fratres mirabantur plurimum de eius perfectione, in qua et mortuus est, 32 unde eum post mortem sanctus Franciscus sanctum Iohannem appellabat narrans inter fratres eius conversionem.

TEXTO TRADUZIDO

Espelho da Perfeição Menor - 31

[31]
1 Quando o bem-aventurado Francisco morava em Santa Maria da Por­ciúncula, ia às vezes pelos povoados e igrejas ao redor da cidade de Assis, anunciando e pregando aos ho­mens para fazerem penitência. 2 Levava uma vassoura para varrer as igrejas, 3 pois o bem-aventurado Francisco ficava muito condoído quando entrava em uma igreja e a via suja. 4 Por isso, sempre que pre­gava ao povo, terminada a pregação, mandava reunir todos os sa­cerdotes que lá estavam, num lugar separado para não ser ouvido pelos seculares, pregava a eles sobre a salvação das almas e, 5 so­bretudo, que tivessem cuidado e solicitude em conservar limpas as igrejas, os altares e tudo o que se relaciona com a celebração dos mistérios divinos.
6 Certo dia, quando o bem-aventurado Francisco varria a igreja de um povo­ado, correu logo a notícia que ele estava na vila, principalmente porque as pessoas tinham prazer em ouvi-lo e vê-lo. 7 Sabendo disso, um certo João, homem de admirável simplicidade e que estava a arar seu campo perto daquela igreja, foi logo até ele e encontrou-o varrendo a igreja. 8 E disse-lhe: “Ir­mão, dá-me a vassoura, pois quero ajudar-te”. 9 Tomando-lhe a vassoura, varreu o que faltava. 10 Sentando-se ambos, ele disse ao bem-aventurado Francisco: “Irmão, faz tempo que tenho vontade de ser­vir a Deus, sobretudo depois que ouvi falar de ti e de teus frades. Mas, não sabia como chegar a ti. 11 Mas, depois que foi do agra­do de Deus que te visse, quero fazer o que te aprouver”.
12 Vendo seu fervor, o bem-aventurado Francisco exultou no Senhor, sobre­tudo porque na época tinha poucos frades e lhe parecia que, devi­do à sua pura simplicidade, ele viria a ser um bom religio­so. 13 Ele lhe disse: “Irmão, se queres participar de nossa com­panhia, é necessário que te desfaças de todos os bens que, sem es­cândalo, possas ter e os dês aos pobres (cf. Mt 19,21) conforme o conselho do santo Evangelho, porque assim agiram também to­dos os frades que puderam”. 14 Ouvindo isso, foi logo até o campo onde havia deixado os bois, soltou-os, levou um deles para o bem-aventurado Francisco e lhe disse: 15 “Irmão, por tantos anos servi a meu pai e todos os de minha casa. Embora seja pequena a parte da minha herança, quero receber este boi como minha parte e dá-lo aos po­bres, conforme melhor te parecer diante de Deus”.
16 Mas seus pais e irmãos, que eram ainda pequenos, vendo que queria deixá-los, começaram a chorar tão copiosamente com todos os da casa que o bem-aventurado Francisco foi tomado de compaixão, 17 e disse: “Preparai uma refeição, comamos juntos e não choreis, porque vos alegrarei”. 18 Logo eles prepararam e comeram com alegria. 19 Após a refeição, o santo lhes disse: “Este vosso filho quer servir a Deus. E disso deveis alegrar-vos. 20 E isso vale para vós como honra e proveito para as almas e para os corpos não somente segundo Deus, mas também segundo o mundo, porque Deus é honrado com vossa carne e todos os nossos frades serão filhos e irmãos vossos. 21 E por ser criatura de Deus e querer servir ao sumo Criador, a quem servir é reinar, não posso nem devo en­tregá-lo a vós. 22 Mas, para terdes algum consolo com ele, quero que ele se desfaça deste boi em vosso favor, já que sois pobres, embora, conforme o conselho do santo Evangelho, devesse dá-lo outros pobres” (cf. Mt 19,21). 23 E ficaram consolados tanto pe­las palavras quanto pelo boi, pois eram pobres.
24 E porque o bem-aventurado Francisco sempre amava muito em si e nos ou­tros a pura e santa simplicidade, logo que lhe vestiu o hábito da Ordem, levava-o como seu companheiro. 25 Ele tinha tanta simplici­dade que se julgava obrigado a fazer tudo que o bem-aventurado Francisco fazia. 26 Por isso; quando o bem-aventurado Francisco estava em algum lugar em oração, ele queria vê-lo, para imitar todos os gestos dele. 27 Assim, se o bem-aventurado Francisco se ajoelhasse, se erguesse as mãos ao céu (cf. Dt 32,40), ou cuspisse ou tossisse, ele fazia a mesma coisa. 28 O bem-aventurado Francisco começou a censurá-lo, com muita alegria, por essa simplicidade. 29 Ele respondeu: “Irmão, prometi fazer tudo o que tu fazes; por isso, que­ro fazer o que tu fazes”. 30 Com isso, o bem-aventurado Francisco se admirava e se alegrava, vendo que tinha tanta simplicidade e pureza. 31 Depois, começou a ser tão perfeito em todas as virtudes e costumes que o bem-aventurado Francisco e os outros frades muito se admiravam de sua perfeição, na qual morreu. 32 Por isso, depois de sua morte, São Francisco o chamava de São João, narrando aos frades a sua conversão.