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Discurso do Papa João Paulo II

Esta visita me dá muita alegria. Não estava prevista, mas um vosso protetor oculto me disse: É preciso ir às clarissas. Acolhi essa sugestão porque é realmente difícil separar esses dois nomes: Francisco e Clara, esses dois fenômenos: Francisco e Clara, essas duas lendas: Francisco e Clara. 
Não celebramos, neste ano, o centenário de Santa Clara; quando o celebrardes, devereis fazê-lo com grande solenidade. É difícil separar os nomes de Francisco e Clara. É algo profundo, algo que não pode ser entendido a não ser com critérios de espiritualidade franciscana, cristã, evangélica; não podemos entendê-lo com critérios humanos. O binômio Francisco-Clara é uma realidade que só se entende com categorias cristãs, espirituais, do céu. 
Mas também é uma realidade desta terra, desta cidade, desta Igreja. Tudo tomou corpo aqui. Não se trata só do espírito; nem são nem eram espíritos puros; eram corpos, pessoas, espíritos. 
Mas, na tradição viva da Igreja, do cristianismo inteiro, não ficou apenas a lenda. Ficou o modo como São Francisco via sua irmã, o modo como ele se desposou com Cristo; ele via a si mesmo na imagem dela, imagem de Cristo, em que via retratada a santidade que devia imitar; via a si mesmo como um irmão, um pobrezinho à imagem da santidade desta esposa autêntica de Cristo em que encontrava a imagem da Esposa perfeitíssima do Espírito Santo, Maria Santíssima. Não é só lenda humana, mas uma lenda divina digna de ser contemplada com categorias diferentes, de se contemplar na oração. 
Este é o lugar onde chegam, há quase oito séculos, muitos peregrinos para contemplar a lenda divina de Clara junto a Francisco. Não há dúvida de que isso influiu muito na vida da Igreja, na história da espiritualidade cristã. Foi um dos momentos decisivos. A vida dedicada totalmente a Cristo por parte de Francisco e de sua irmã Clara, e de tantos irmãos e irmãs de muitos lugares da Europa e do mundo, abriu um caminho para as vocações. Eu mesmo vivi muitos anos perto de um mosteiro de clarissas em Cracóvia e conheço outros lugares de minha pátria onde a tradição viva de Santa Clara e São Francisco encontrou sempre eco ao longo dos séculos na Igreja e no mundo. 
Só quero acrescentar a seguinte impressão. Este não é um discurso oficial, dos que se lêem no Osservatore Romano, é um discurso improvisado. Neste momento quero dizer-vos somente, caríssimas religiosas clarissas irmãs de Santa Clara, uma preocupação que manifestei aos bispos com palavras claras. A vós quero confiá-las diretamente: estou preocupado e estamos preocupados, os bispos desta terra, porque as vocações femininas estão começando a ficar escassas, as vocações religiosas femininas. Parece que a mulher contemporânea, principalmente a jovem, não sente essa vocação. Por isso, eu as convido a rezar; desejo que reproduzais em nossa época o milagre de São Francisco e Santa Clara, porque a jovem, a mulher contemporânea, deve voltar a encontrar-se nesta vocação, nesta missão, neste esplêndido carisma, escondido certamente e desprovido de exterioridades aparentes, mas, quão profundo! quão feminino! 
Esposa verdadeira, a alma feminina é capaz de amor pleno e irrevogável para com um esposo invisível. É verdade que é invisível, mas, como é visível! Entre todos os esposos possíveis do mundo, é certo que Cristo é o Esposo mais visível de todos os visíveis; é sempre visível, mas permanece invisível e visível na alma consagrada a Deus. 
São Francisco descobriu Deus uma vez, mas depois voltou a descobri-lo com Clara ao seu lado. Em nossa época é necessário repetir a descoberta de Santa Clara, porque é importante para a vida da Igreja. Não imaginais como sois importantes para a vida da Igreja. Não imaginais como sois importantes para a vida da Igreja vós, escondidas, desconhecidas; quantos problemas, quantas coisas dependem de vós. É necessário re-descobrir esse carisma, essa vocação; urge redescobrir a lenda divina de Francisco e Clara. 
Uma palavra final. O meu amigo que me sugeriu, ou melhor, me obrigou, a vir às clarissas — vós o conheceis — disse-me também que Santa Clara é padroeira celestial de um dos meios de comunicação social. Por isso, encomendo-vos também as comunicações sociais. Consideradas como tais, são estruturas misteriosas, diria eu, da natureza, mais do que sobrenaturais. Como todas as coisas da natureza, como todas as suas estruturas, são ao mesmo tempo seu sujeito passivo, capaz de assumir realidades sobrenaturais; porque, se com os meios de comunicação transmite-se a palavra humana, o pensamento humano, será que não se pode transmitir a palavra divina, a palavra evangélica? Por que não poderia agir com força a palavra divina através dos meios de comunicação? 
“Inter mirifica”, com estas palavras começa o documento conciliar sobre os meios de comunicação social. Eu os recomendo este “Inter mirifica”, e também às pessoas — algumas estão presentes — que dedicam seu afã às comunicações sociais.