Página de Estudos das Fontes Pesquisadas

  • Fontes Franciscanas
  • Fontes Biográficas
  • Bernardo de Bessa
  • Livro dos Louvores de São Francisco

TEXTO ORIGINAL

Liber de Laudibus Beati Francisci - 8

Caput VIII - De transitu et translatione beati Francisci.

8 1 Excurso denique praesentis militiae tempore, feliciter Pater sanctus migravit ad Christum anno incarnationis Domini MCCXXVI, aetatis autem suae XLV°. Nam quasi XXV annorum erat, quando a saeculi statu perfecte conversus est. 2 Duobus deinde annis habitum eremiticum gessit. 3 Tertio conversionis suae anno in sanctae Dei Genitricis semperque Virginis Mariae basilica, quae ab antiquo sancta Maria de Angelis vocabatur, novum fratrum Minorum Ordinem inchoavit habitumque coelitus inspiratum, ipsa, quam praecipua devotione colebat patrocinante, suscepit, sub quo reliquum vitae suae in omni sanctitate perficiens anno a sua conversione XX. felix initium eodem quo inceperat loco fine beatissimo consummavit.  4 Resolutionis autem suae non solum tempus praescivit, sed etiam ipsum circiter, cum recessurus esset, diem praedixit.

5 In ipsa transitus sui hora inter alios, quibus visus est ascendens in coelum, fratri cuidam, viro sancto in oratione suspenso, purpuream indutus dalmaticam cum innumera sequentium turba tamquam princeps maximus in admirabili gloriae decore apparuit; 6 qui tandem ad amoenissima loca perveniens, palatium mirae magnitudinis et singularis deliciarum plenitudinis intravit multorum ibi fratrum praeditus gloriosa comitiva.

7 Venit autem matrona illustrissima ex Romanis domina Iacoba de Septemsoliis, devotissima viri Dei, ad visitandum eum cum magno, ut tantam decebat dominam, comitatu, quae apparatum multum, prout tanto videbatur funeri, ministravit. 8 Eam ipse, quam in Christo docuerat quamque pro virilitate virtutum fratrem Iacobam nominabat, ante transitum suum videre volens, mandaverat iam vocari. 9 Sed cum iturus nuntius praesto esset, ecce ad fratrum ostium multus equorum et famulorum strepitus devotae discipulae ad doctorem et patrem praeclarissimum sibi venientis.10 Ipsam ergo Sanctus missam a Domino, ut optabat, vidit et gavisus est. 11 Cumque aliquantulum respirans prae gaudio visionis ipsius plus vivere putaretur, voluit ipsa partem suae comitivae remittere, ut Sancti finem cum paucioribus exspectaret. 12 Quod prohibens dixit: “Ego sabbato in sero recedam; tu die sequenti poteris cum societate reverti”.

13 Die igitur et hora qua dixerat, collectus est Sanctus ad Dominum, aeterna secum mansione moraturus. 14 Flebant fratres pii Patris solatio destituti, flebant et virgines Christi, quae ipsius fuerant secutae vestigia, flebili voce dicentes: “Cur nos, Pater, miseras deseris, aut cui relinquis filias desolatas?”.

15 Sepultum est corpus eius sanctissimum apud Assisium in ecclesia beati Georgii, ubi nunc est monasterium sanctae Clarae. 16 Indeque post paucos annos ad ecclesiam, quae sibi prope muros civitatis auctoritate domini Gregorii Papae noni, qui et primarium lapidem fundamenti posuerat, construebatur, quae collis paradisi vocatur, cum ingenti apparatu et veneratione translatum, tanta propter hoc ex vicinis urbibus populorum multitudine congregata, ut, civitate illos capere non valente, per campos gregum more turmatim accumberet.

17 Praefatus etiam dominus Papa Gregorius, cuius certa sperabatur ad hanc translationis solemnitatem praesentia corporalis, sed tunc temporis aliis quibusdam urgentibus Ecclesiae impediebatur negotiis, solemnes illuc cum suis litteris nuntios destinavit.18 quibus suae non solum insperatae causam absentiae necessariam declaravit, sed et filiis, quos paterno consolabatur affectu, de quodam mortuo per beatum Franciscum resuscitato certius intimavit; 19 ad hoc per eosdem nuntios crucem auream, opere quidem gemmario pretiosam, sed omni auro et gemmis pretiosius lignum crucis dominicae complectentem; insuper ornamenta et vasa quaecumque ad altaris ministerium pertinentia nec non etiam decentissima solemnibus usibus indumenta transmisit. 20 Sed et alia non modica tam ad eiusdem fabricae quam ad solemnitatis impensas donaria deputavit. 21 Acta est translationis huius solemnitas VIII. kalendas Iunii anno Domini MCCXXX.

TEXTO TRADUZIDO

Livro dos Louvores de São Francisco - 8

Capítulo VIII - Trânsito e transladação do bem-aventurado Francisco

8 1 Finalmente, decorrido o tempo da presente combate, o santo pai migrou de maneira feliz para Cristo, no ano de 1226 da encarnação do Senhor, no quadragésimo quinto ano de sua idade. Pois tinha quase vinte e cinco anos quando se converteu perfeitamente do estado do século. 2 Depois, usou o hábito de eremita durante dois anos. 3 No terceiro ano de sua conversão, na basílica da sempre Virgem Maria, Mãe de Deus, que desde antigamente se chamava Santa Maria dos Anjos, ele iniciou a Ordem dos Frades Menores e recebeu o hábito inspirado pelo céu, sob o patrocínio daquela que venerava com especial devoção; nele completando o resto de sua vida em toda santidade. No vigésimo ano de sua conversão, consumou com fim beatíssimo o feliz início no mesmo lugar em que começara. 4 Não somente soube com antecedência o tempo de sua morte, mas também predisse até o dia em que partiria.

5 Na mesma hora de seu trânsito, entre outros que o viram subindo ao céu, apareceu a um frade, homem santo suspenso em oração, vestindo dalmática de púrpura com inúmera multidão de seguidores, como príncipe máximo em admirável ornamento de glória;6 ele, chegando finalmente a lugares muito amenos, entrou em palácio de admirável grandeza e de singular plenitude de delícias, acompanhado aí por gloriosa comitiva de muitos frades.

7 Chegou uma matrona muito ilustre de Roma, a senhora Jacoba de Settesogli, muito devota do homem de Deus, para visitá-lo com grande séquito, como convinha a tão grande dama, que deu muita pompa, como se podia ver, a tão grande funeral: 8 E ele, querendo vê-la antes de seu trânsito, já mandara que fosse chamada aquela que ele instruíra em Cristo e que, pela virilidade de suas virtudes, ele chamava de Frei Jacoba. 9 Mas, quando já se aprontara o mensageiro que deveria ir, eis à porta dos irmãos grande rumor de cavalos e de servos da devota discípula que chegava ao preclaríssimo mestre e pai.10 Então, o santo viu, como desejava, a enviada pelo Senhor e alegrou-se. 11 Como ele respirou um pouco melhor pela alegria de ve-la, pensou-se que viveria mais, e ela quis mandar de volta uma parte de sua comitiva para esperar com poucos o fim do santo.12 Opondo-se a isto, ele disse: “Partirei sábado à tarde; tu, no dia seguinte, poderás retornar com a comitiva”.

13 Assim, no dia e na hora que dissera, uniu-se o santo ao Senhor para morar com ele na eterna mansão. 14 Choravam os frades, privados do conforto do piedoso pai; choravam também as virgens de Cristo que haviam seguido seus passos, dizendo com voz flébil: “Por que abandonas a nós, míseras, ou a quem deixas as filhas desoladas?”

15 Seu santíssimo corpo foi sepultado em Assis, na igreja de São Jorge, onde agora está o mosteiro de Santa Clara. 16 Daí, poucos anos depois, foi transladado com enorme pompa e veneração para a igreja que lhe era construída perto dos muros da cidade com a autorização do senhor Papa Gregório IX, que também colocara a primeira pedra do alicerce, na chamada Colina do Paraíso. Reuniu-se tão grande multidão de pessoas das cidades vizinhas que, não podendo a cidade comportá-las, acomodavam-se em grupos pelos campos, como os rebanhos.

17 O referido senhor Papa Gregório, cuja presença corporal a esta solenidade de transladação era dada como certa, mas nesse tempo estava impedido por outros negócios urgentes da Igreja, enviou solenes mensageiros para lá com suas cartas, 18 nas quais não só explicou a causa necessária de sua ausência inesperada, mas também fez saber com mais certeza aos filhos, que ele consolava com paternal afeto, a respeito de um morto ressuscitado por meio do bem-aventurado Francisco. 19 Além disso, mandou pelos mesmos núncios uma cruz de ouro, preciosa pela arte do ourives, mas encerrando a madeira da cruz do Senhor, mais preciosa do que todo o ouro e gemas. Além disso, mandou ornamentos e todos os vasos usados no ministério do altar, bem como belíssimas vestes para as funções solenes. 20 Também destinou muitos outros donativos, tanto para a construção, quanto para a solenidade. 21 Realizou-se a solenidade desta transladação aos vinte e cinco de maio de 1230.