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TEXTO ORIGINAL

Actus Beati Francisci et sociorum eius - 5

Caput V   De morte gratiosa fr. Bernardi.

1 Tante sanctitatis erat fr. Bernardus quod s. Franciscus, dum viveret, magno illum venerabatur affectu, frequenti commendabat eloquio et in sua absentia magnis preconiis extollebat. 2 Accidit autem ut, dum s. Franciscus quadam die devote orationi insisteret, fuit sibi revelatum quod fr. Bernardus, Domino permittente, a multis et acutissimis impugnabatur demonibus.
3 Hec dum s. Franciscus compassiva mente de filio tam dilecto pensaret, per multos dies lacrimis orans, recommendabat D. Ihesu Cristo fr. Bernardum, ut de tot insidiis illi dare victoriam dignaretur. 4 Et dum in dicta oratione esset s. Franciscus pervigil sedulus ac attentus, ecce facta est ad eum divina responsio: “Francisce, ne timeas; quia omnes temptationes, quibus fr. Bernardus impetitur, date sunt illi ad exercitium et coronam; 5 et in fine de omnibus ipsum impugnantibus palman et victoriam cum gaudio reportabit. Et ipse fr. Bernardus est unus de commensalibus regni Dei”. 
6 De qua responsione s. Franciscus gavisus est gaudio magno valde (cfr. Mat 2,10), gratias immensas referens D. Ihesu Cristo. Et ex tunc de illo amplius non dubitavit et non timebat, 7 sed semper maiori gaudio et ampliori dilectione afficiebatur ad eum. Quam dilectionem non solum in vita sed autem in morte monstravit.
8 Unde in morte b. Francisci, tanquam patriarcha Iacob, astantibus filiis et devote lacrimantibus pro recessu tam amabilis patris dixit s. Franciscus: “Ubi est primogenitus meus (cfr. Gen 49,3)? Veni, fili, ut benedicat tibi anima mea priusquam moriatur (cfr. Gen 27,4)”.
9 Tunc fr. Bernardus dixit fr. Helie secreto, qui erat tunc vicarius Ordinis: “Pater, vade ad dexteram sancti, ut te benedicat”. 10 Cum autem fr. Helias se posuisset ad dexteram eius et s. Franciscus, pre lacrimis cecutiens, manum dexteram super caput fr. Helie posuisset, dixit: “Istud non est caput primogeniti mei fr. Bernardi”. 
11 Tunc fr. Bernardus accessit ad sinistram eius. S. autem Franciscus manus, cancellatis brachiis, commutando, sinistram posuit super caput fr. Helie, dexteram vero super caput (cfr. Gen 48,14) fr. Bernardi, dicens fr. Bernardo: 12 “Benedicat te Pater D. Ihesu Cristi in omni benedictione spirituali in celestibus in Cristo (cfr. Eph 1,3). 13 Sicut primus electus es in Ordine isto ad dandum exemplum evangelicum, ad imitandum Cristum in evangelica paupertate, quia non solum tua liberaliter obtulisti et pro Cristi amore autem integre dispersisti, sed etiam temetipsum in odorem suavitatis sacrificium (cfr. Lev 2,9) obtulisti.
14 Benedictus ergo sis a D. Ihesu Cristo et a me, pauperculo servo eius, benedictionibus sempiternis, ingrediens et regrediens, vigilans et dormiens, vivens et moriens. 15 Qui benedixerit tibi benedictionibus repleatur, et qui maledixerit tibi non erit immunis. Esto dominus fratrum tuorum (Gen 27,29) et tuo imperio cuncti subiaceant. 16 Et quoscumque volueris recipere ad Ordinem istum, recepti sint; et quoscumque emittere, emittantur; et nullus fratrum habeat potestatem super te; et quocumque volueris, possis libere pergere vel morari”.
17 Cum autem iste tam benedictus filius appropinquaret ad mortem, quia fratres post mortem b. Francisci ipsum paterno venerabantur affectu, ex diversis partibus convenerunt ad eum: 18 inter quos affuit ille ierarchicus et divinus fr. Egidius, qui, cum vidisset fr. Bernardum, dixit cum gaudio magno: “Sursum corda, fr. Bernarde, sursum corda!”. 19 Fr. autem Bernardus dixit uni fratri secrete, ut pararet locum contemplationi aptum, ubi fr. Egidius posset celestia contemplare.
20 Cum autem pervenisset fr. Bernardus ad illam extremam horam migrandi, fecit se erigi et astantibus fratribus dixit: “Fratres carissimi, nolo vobis dicere multa verba; sed considerare debetis quod statum quem ego habui vos habetis et istum quem ego habeo estis etiam habituri. 21 Invenio autem in anima mea quod pro mille mundis equalibus isti nollem non servisse D. Ihesu Cristo; et de omni offensa quam feci accuso me Salvatori meo, D. Ihesu Cristo, et vobis. Rogo vos, fratres mei carissimi, ut diligatis vos invicem (cfr. Ioa 13,34)”.
22 Et post hec verba et alia salubria hortamenta, cum reclinasset se in lecto, facta est facies eius splendida nimis et leta, non sine admiratione omnium qui astabant. 23 Et in ipsa letitia anima illa felix cum victoria sibi a Cristo antea promissa ad gaudia transivit beatorum.
Ad laudem et gloriam Domini.

TEXTO TRADUZIDO

Actus Beati Francisci et sociorum eius - 5

Capítulo V — A graciosa morte de Frei Bernardo

1 Frei Bernardo era de tanta santidade que São Francisco, enquanto viveu, venerava-o com grande afeto, recomendava-o falando muitas vezes dele e, na sua ausência, exaltava-o com muitos elogios. 2 Aconteceu, porém, que num dia em que São Francisco estava persistindo devotamente na oração, foi-lhe revelado que Frei Bernardo, por permissão de Deus, estava sendo assaltado por numerosos demônios muito espertos.
3 Como São Francisco ficou pensando compassivamente nessas coisas a respeito de um filho tão amado, orou em lágrimas por muitos dias, recomendando Frei Bernardo ao Senhor Jesus Cristo, para que se dignasse dar-lhe a vitória sobre tantas insídias. 4 Enquanto São Francisco estava rezando assim, vigilante, zeloso e atento, foi-lhe dada uma resposta divina: “Francisco, não temas, porque todas as tentações que atacam Frei Bernardo foram-lhe dadas para exercitá-lo e coroá-lo. 5 No fim de todos os assaltos, vai ter a palma da vitória com alegria”.
6 Com essa resposta, São Francisco teve uma enorme alegria (cfr. Mt 2,10), dando muitas graças a nosso Senhor Jesus Cristo. A partir daí, nunca mais duvidou disso e nem tinha medo, 7 mas se afeiçoava a ele com uma alegria cada vez maior e com um afeto cada vez mais amplo. E demonstrou esse afeto não só durante a vida como também na hora da morte.
8 Por isso, na morte do bem-aventurado Francisco, como o patriarca Jacó, estando os filhos presentes e chorando devotamente pelo afastamento de um pai tão amável, São Francisco disse: “Onde está meu primogênito (cfr. Gn 49,3)? Vem, filho, para que, antes de morrer, minha alma te abençoe” (cfr. Gn 27,4)”. 
9 Então Frei Bernardo disse em segredo a Frei Elias, que era então Vigário da Ordem: “Pai, vai para a direita do santo, para que te abençoe”. 10 Mas, quando Frei Elias se pôs à direita dele e São Francisco, que estava ficando cego por causa das lágrimas, colocou a mão direita sobre a cabeça de Frei Elias, disse: “Esta não é a cabeça de meu primogênito Frei Bernardo”.
11 Então Frei Bernardo foi para a esquerda dele. Mas São Francisco, cruzando os braços, mudou a mão e pôs a esquerda sobre a cabeça de Frei Elias e a direita sobre a cabeça de Frei Bernardo, dizendo a Frei Bernardo: 12 Que te abençoe o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, com toda bênção espiritual nos céus em Cristo (cfr. Ef 1,3). 13 Como o primeiro, foste escolhido nesta Ordem para dar um exemplo evangélico, para imitar Cristo na pobreza evangélica porque não só ofereceste liberalmente o que era teu e, por amor de Cristo, distribuíste tudo, mas também ofereceste a ti mesmo para o odor de um sacrifício de suavidade (cfr. Lc 2,9).
14 Abençoado sejas, pois, pelo Senhor Jesus Cristo e por mim, pobrezinho servo dele, com as bênçãos eternas, quando entrares e quando saíres, acordado e dormindo, vivendo e morrendo. 15 Quem te abençoar fique repleto de bênçãos e quem te amaldiçoar não ficará imune. Sê o senhor de teus irmãos (Gn 27,29) e submetam-se todos ao teu comando. 16 Os que quiseres receber nesta Ordem, sejam recebidos, E os que quiseres demitir, sejam demitidos. Nenhum frade tenha poder sobre ti. E que possas ir ou permanecer onde quiseres”.
17 Quando esse filho abençoado chegou perto da morte, como os frades veneravam-no com afeto paterno, reuniram-se ao redor dele de diversas partes. 18 Entre eles estava aquele hierárquico e divino Frei Egídio que, quando viu Frei Bernardo, disse com enorme alegria: “Corações para o alto, Frei Bernardo, corações para o alto!”. 19 Frei Bernardo, porém, disse em segredo a um dos frades que preparasse um lugar adequado para a contemplação, em que Frei Egídio pudesse contemplar as coisas do céu.
20 E quando Frei Bernardo chegou à hora extrema de migrar, fez com que o erguessem e disse aos frades que estavam ao redor: “Irmãos caríssimos, não quero dizer-vos muitas palavras, mas deveis considerar que o estado que eu tive, é o que tendes, e o que eu tenho vós também tereis. 21 Isto encontro na minha alma: por mil mundos iguais a este não queria deixar de ter servido a nosso Senhor Jesus Cristo; e me acuso de toda ofensa que fiz ao meu Salvador, o Senhor Jesus Cristo, e a vós. Rogo-vos meus irmãos caríssimos, que vos ameis uns aos outros (cfr. Jo 13,34)”.
22 Depois dessas palavras, e de outras salutares exortações, tendo deitado, seu rosto tornou-se muito esplêndido e alegre, para admiração de todos os presentes. 23 E, nessa alegria, sua alma feliz passou para as alegrias dos bem-aventurados com a vitória que Cristo já lhe prometera.
Para louvor e glória do Senhor.