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TEXTO ORIGINAL

Sacrum Commercium S.Francisci cum domina Paupertat - 8

Capitulum 8 - Recordatio Paupertatis in paradiso.

1 “Fui quandoque in paradiso Dei (cfr. Apoc 2,7), ubi erat homo nudus, immo in homine et cum homine nudo deambulans totam illam speciosissimam paradisum (cfr. Gen 2,25; 3,8), nihil timens, nihil dubitans et nihil adversi suspicans. 
2 Putabam cum eo esse in sempiternum, quoniam iustus, bonus, sapiens ab Altissimo est creatus et positus in amenissimo et pulcherrimo loco. 
3 Eram gaudens nimis et ludens coram eo omni tempore (cfr. Prov 8,30), quia, nihil proprietatis habens, totus de Deo erat. 
4 Sed heu subiit inopinatum malum, ab initio creature penitus inauditum, cum infelix ille, qui in decore suo olim perdidit sapientiam, serpentem (cfr. Ez 28,17; Gen 3,1) ingressus, qui in celo stare non potuit, fraude aggressus est eum, ut, sicut ipse, prevaricator efficeretur divini mandati. 
5 Credidit miser male suadenti, acquievit, consensit, et, oblitus Dei creatoris sui (cfr. Deut 32,18), primum imitatus est transgressorem. 
6 Erat primo nudus, dicente Scriptura de ipso, sed non erubescebat (cfr. Gen 2,25), quia innocentia erat plena in eo. 
7 Peccante vero cognovit se nudum esse et, pre erubescentia currens ad folia ficuum, sibi perizomata (cfr. Gen 3,7) fecit. 
8 Videns ergo socium meum transgressorem effectum et opertum foliis, quoniam aliud non habebat, elongata sum ab eo, et stans a longe lacrimabili vultu ipsum cepi respicere. 
9 Exspectabam eum qui salvam mefaceret a pusillanimitate spiritus et tempestate (cfr. Ps 54,9) tanta. 
10 Et factus est repente de celo sonus (cfr. Act 2,2) totam concutiens paradisum et cum eo lux splendidissima de celo emissa est. 
11 Et respiciens vidi Dominum maiestatils deambulantem in paradiso ad auram post meridiem (cfr. Gen 3,8), gloria inenarrabili et indicibili refulgentem. 
12 Comitabantur eum multitudines angelorum voce magna clamantium et dicentium: 
13 “Sanctus, Sanctus, Sanctus Dominus Deus Sabaoth, plena est omnis terra glória (Is 6,3) tua. Milia milium ministrabant ei et decies centena milia assistebant ei (Dan 7,10). 
14 Cepi, ego fateor, pavens et tremens nimis, tota stupore et horrore deficere, et corpore tepens, corde vero palpitans, de profundis clamavi (Ps 129,1), dicens:
15 “Domine miserere, Domine miserere. Non intres in iudicium cum servo tuo, quia non iustificabitur in conspectu tuo omnis vivens (Ps 142,2)”. 
16 Et dixit mihi: “Vade abscondere te modicum ad momentum, donec pertranseat indignatio (Is 26,20) mea”. 
17 Statimque vocavit socium meum dicens: “Adam, ubi es?” At ipse: “Vocem tuam, Domine, audivi et timui, eo quod nudus essem et abscondi me (Gen 3,9-10)”. 
18 Vere nudus, quia de Ierusalem in Iericho descendens incidit in latrones, qui ante omnia exspoliaverunt eum (cfr. Luc 10,30) nature bono, amissa similitudine Creatoris. 
19 Ipse autem Rex altissimus, sed non minus benignissimus, expectavit penitentiam eius, data sibi occasione revertendi ad eum. 
20 Verum miser declinavit cor suum, in verba prorumpens malitie ad excusandas excusationes in peccatis (cfr. Ps 140,4). 
21 Sic et culpam auxit et accumulavit penam, thesaurizans sibi iram in die ire et indignationis iusti iudicii Dei (cfr. Rom 2,5). 
22 Non pepercit sibi nec semini suo post se, terribili maledicto mortis omnes adiciens. 
23 Iudicantibus vero omnibus qui assistebant, eiecit eum Dominus de paradiso voluptatis (cfr. Gen 3,23) iusto sed non minus misericordi iudicio. 
24 Et ut reverteretur in terram, de qua sumptus erat (cfr. Gen 3,19), dixit ei, temperans multum, maledictionis sententiam; 
25 fecit ei tunicas pelliceas (cfr. Gen 3,21), mortalitatem eius in eis designans, vestibus innocentie exspoliatis. 
26 Videns ergo socium meum indutum pellibus mortuorum, ex toto recessi ab eo, quia ad multiplicandos labores, ut dives fieret, proiectus erat. 
27 Ivi proinde vaga et profuga super terram (cfr. Gen 4,12), plorans et eiulans nimis. 
28 Ab eo tempore non inveni ubi requiesceret pes (cfr. Gen 8,9) meus, Abraham, Isaac et Iacob et ceteris iustis accipientibus in promissione divitias et terram fluentem lac et mel (cfr. Ex 3,17). 
29 In omnibus istis requiem quesivi et non inveni (cfr. Sir 24,11; Ier 45,3), Cherubim cum flammeo gladio atque versatili (cfr. Gen 3,24) stante ante ianuam paradisi, quousque veniret Altissimus de sinu Patris (cfr. Ioa 1,18) in mundum, qui me dignantissime requisivit”.

TEXTO TRADUZIDO

Sacrum Commercium S.Francisci cum domina Paupertat - 8

Capítulo 8 – Lembrança da pobreza no paraíso.

1 “Estive, uma vez, no paraíso de Deus (cfr. Ap 2,7), onde estava o homem nu e até passeando no homem ecom o homem nu naquele belíssimo jardim (cfr. Gn 2,25; 3,8), sem temer nada, sem duvidar de nada, e sem suspeitar de nenhuma coisa adversa. 
2 Eu achava que ia ficar com ele para sempre, porque foi criado pelo Altíssimo justo, sábio, e colocado num lugar ameníssimo e muito bonito. 
3 Estava muito alegre e brincando diante dele todo o tempo (cfr. Pr 8,30), porque, não tendo nenhuma propriedade, era todo de Deus. 
4 Mas ai! Sofreu um mal inesperado, jamais ouvido desde o começo da criação, quando aquele infeliz, que outrora tinha perdido a sabedoria, e não pôde ficar no céu, entrou numa serpente, (cfr. Ez 28,17; Gn 3,1) e o agrediu, para que o homem, como ele mesmo, se tornasse um prevaricador do mandamento divino. 
5 O infeliz deu ouvidos e consentiu com quem lhe dava mau conselho e, esquecido de seu Criador, Deus, imitou o primeiro transgressor. 
6 Antes, ele estava nu, mas não se envergonhava como disse a Escritura sobre ele (cfr. Gn 2,25), porque, nele, a inocência era completa. 
7 Mas, quando pecou, percebeu que estava nu e, por causa da vergonha, correndo às folhas de figueira, fez uma tanga para si (cfr. Gn 3,7). 
8 Vendo que meu companheiro se tornara transgressor e estava coberto de folhas, pois não tinha outra coisa, afastei-me dele e, ficando de longe, comecei a olhá-lo com lágrimas no rosto. 
9 esperava quem me salvasse da pusilanimidade do espírito e de tamanha tempestade (cfr. Sl 54,9). 
10 De repente, veio do céu um rumor (cfr. At 2,2) sacudindo todo o paraíso e, com ele, foi enviada do céu uma luz esplendisíssima. 
11 Quando olhei, vi o Senhor da majestade passeando no paraíso na brisa depois do meio dia (cfr. Gn 3,8), refulgindo de glória inenarrável e indizível. 
12 Acompanhavam-no multidões de anjos, clamando com voz forte e dizendo: 
13 “Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus dos exércitos, cheia está a terra inteira de tua glória (Is 6,3). Mil milhares serviam-no, e dez centenas de milhares assistiam-no (Dn 7,10). 
14 Comecei, eu confesso, a me apavorar e a tremer muito, a desmaiar toda de estupor e de horror, com o corpo fraquejando mas o coração palpitando, clamei das profundezas (Sl 129,1), dizendo: 
15 “Senhor, misericórdia! Senhor, misericórdia! Não leves teu servo a julgamento, porque nenhum vivente poderá justificar-se diante de ti (Sl 142,2)”. 
16 E Ele me disse: “Vai escondeste um pouco, por um momento, até que passe a minha indignação”
17 E chamou logo em seguida o meu companheiro, dizendo: “Adão, onde estás?”E ele: “Ouvi tua voz, Senhor, e fiquei com medo, porque estava nu, e me escondi (Gn 3,9-10)”. 
18 Na verdade estava nu, porque, descendo de Jerusalém a Jericó, caiu na mão dos ladrões, que antes de tudo despojaram-no (cfr. Lc 10,30) da bondade da natureza, pois perdera a semelhança com o Criador. 
19 Mas o próprio Rei altíssimo, e não menos bondosíssimo, esperou sua conversão, dando-lhe oportunidade de voltar a Ele. 
20 Mas o miserável deixou seu coração fraquejar, rompendo em palavras de malícia para se desculpar dos pecados cometidos (cfr. Sl 140,4). 
21 E assim aumentou a culpa e acumulou mais penas, entesourando para si a ira para o dia da ira e da indignação do justo juízo de Deus (cfr. Rm 2,5). 
22 Não poupou a si mesmo nem à sua descendência, que veio depois dele, juntando para todos a terrível maldição da morte. 
23 E quando todos os presentes o julgaram, o Senhor expulsou-o do paraíso do prazer, (cfr. Gn 3,23) por um julgamento justo mas não menos misericordioso. 
24 E, para que voltasse à terra, da qual tinha sido tomado (cfr. Gn 3,19), ditou-lhe a sentença da maldição, bem temperada; 
25 fez para ele túnicas de pele (cfr. Gn 3,21), designando nelas a sua mortalidade, despojado que foi a das vestes da inocência. 
26 Quando vi meu companheiro vestido com as peles dos mortos, afastei-me de uma vez dele, porque tinha sido expulso para trabalhar bastante para ficar rico. 
27 Por isso andei errante e fugitiva pela terra (cfr. Gn 4,12), chorando e gemendo demais. 
28 Desde esse tempo não encontrei onde descansar meu pé (cfr. Gn 8,9), enquanto Abraão, Isaac, Jacó e os outros justos recebiam como promessa as riquezas e a terra onde corria leite e mel (cfr. Ex 3,17). 
29 Em todos eles procurei repouso e não encontrei (cfr. Eclo 24,11; Jr 45,3), pois diante da porta do paraíso estava um querubim com uma espada de fogo vibrante (cfr. Gn 3,24), até que o Altíssimo viesse do seio do Pai (cfr. Jo 1,18) para o mundo, e Ele me procurou com a maior dignidade.