Página de Estudos das Fontes Pesquisadas

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  • Documentos Papais
  • Gregório IX

4. Deus Pater (1228)

Esta carta é provavelmente de 1228, pouco antes da ida do Papa a Assis para canonizar São Francisco. Ela foi encontrada por Wadding (1251, n.17) no formulário de Marino de Éboli, vice-chanceler da Cúria Romana, e não tinha destinatário. Wadding entendeu que a carta era escrita a Santa Clara e suas irmãs por diversas razões internas do texto e Caetano Esser, depois de estudos exaustivos, concorda com ele. 
Hugolino, mesmo depois de Papa, mantém sua correspondência com Clara e, neste documento, que é um excelente resumo do sentido da vida contemplativa na Igreja, demonstra mais uma vez a grande contribuição que deu à Igreja do seu tempo. 
Dezesseis anos antes, Francisco também tinha iniciado sua Forma de Vida para Clara e as Irmãs, recordando a participação delas na vida da Trindade. 
A idéia do amargo que se transforma em doce está no Testamento de Francisco e no Testamento de Clara. 
Nas duas cartas que possuímos, Hugolino de Segni pede orações a Santa Clara. Pensamos que o Autor da Legenda conheceu essas cartas, ou a sua fama, e por isso disse que o papa escreveu muitas vezes pedindo orações. 
Texto latino do BF I, pag. 37.

TEXTO ORIGINAL

4. Deus Pater (1228)

Dilectae filiae abbatissae et conventui monialium inclusarum Sanci Damiani Assisii. 
1 Deus Pater, cui vos in ancillas obtulistis, misericorditer in filias vos adoptans, unigenito Filio suo Domino Iesu Christo, operante Spiritus Sancti gratia, desponsavit, in regno caelorum cum Sponso caelesti feliciter coronandas. Unde cum Sponsum vestrum super omnia diligere teneamini, qui diligentes se diligens, suos efficit cohaeredes, ita in eum tantum totis affectibus delectari debetis, ut nihil unquam vos ab eius caritate valeat separare. Ad hoc enim divinitus inspiratae vos in claustris reclusistis, ut mundo, et quae sunt in mundo, salubriter abdicatis, Sponsum vestrum incorrupto amplexantes amore, curratis in odorem unguentorum ipsius, donec vos introducat in suae cubiculum Genitricis, amoris sui dulcedine perpetuo recreandas. 
2 Haec utique, si, ut confidimus, et pro certo speramus, attente et diligenter consideratis, quae nunc amara videntur, vobis salubriter indulcescunt, mollescunt dura et aspera leniuntur, ut gloriemini, si quae pro Christo pati meremini, qui pro nobis probrosae mortis sustinuit passionem. Verum, quia inter amaritudines innumeras et angustias infinitas, quibus affligimur incessanter, vos estis consolatio nostra, universitatem vestram rogamus et hortamur in Domino Iesu Christo ac per apostolica vobis scripta mandamus, quatenus, quemadmodum accepistis a nobis, ambulantes (W abundantes) Spiritu et viventes, posteriorum oblitae, semper ad anteriora vos cum Apostolo extendatis, aemulando charismata meliora, ut magis ac magis virtutibus abundantes, Deum glorificari faciatis in vobis, et nostrum gaudium impleatis, qui vos tamquam speciales filias (immo, si fas est dicere, dominas, quia Domini nostri sponsas), intima complectimur caritate. 
3 Quia vero, sicut confidimus, unus cum Christo spiritus estis factae, postulamus a vobis ut in orationibus vestris semper nostri memoriam facientes, pias manus elevetis ad Deum, supplicantes instanter, ut qui scit nos in tantis periculis constitutos pro humana fragilitate non posse subsistere, sua virtute nos roborans, ministerium nobis ab ipso commissum sic det digne peragere, ut ipsi ad gloriam, angelis ad gaudium, nobis et commissis nostro regimini proveniat in salutem” etcetera.

TEXTO TRADUZIDO

4. Deus Pater (1228)

À dileta filha abadessa e à comunidade das monjas reclusas de São Damião de Assis... 
1 Deus Pai, a quem vos oferecestes como servas, adotou-vos em sua misericórdia como filhas e vos desposou, por obra e graça do Espírito Santo, com seu único Filho, o Senhor Jesus Cristo, para coroar-vos felizmente com o celeste Esposo no reino dos céus. Portanto, obrigadas a amar acima de tudo vosso Esposo, que ama os que o amam e os faz seus co-herdeiros, deveis deleitar-vos só nele, de tal maneira que jamais possa separá-las coisa alguma de seu amor. Para isso vos encerrastes no claustro por inspiração divina e renunciastes vantajosamente ao mundo, a fim de abraçar vosso esposo com um amor incorruptível e correr atrás do aroma de seus perfumes até que vos introduza no quarto de sua Mãe e vos recreie perpetuamente com a doçura de seu amor. 
2 Confiamos e esperamos que essas coisas, se pensardes com atenção e diligência, parecem amargas agora, mas vão ser saudavelmente doces, o que é duro vai ficar macio e o que é áspero vai se suavizar. E vos gloriareis de ter sofrido alguma coisa por Cristo que por nós suportou o sofrimento de uma morte vergonhosa. Mas como, no meio das numerosas amarguras e infinitas angústias que sem cessar nos afligem, vós sois nossa consolação, rogamos a vossa comunidade e vos exortamos no Senhor Jesus Cristo, mandando por este escrito apostólico que, como vos concedemos, andeis e vivais segundo o espírito, esquecendo o que já passou e, com o Apóstolo, aspirando pelo que está adiante, competindo pelos melhores carismas. Desse modo, crescereis cada dia mais em virtudes, fareis com que Deus seja glorificado em vós e nos enchereis de gozo, pois vos abraçamos com íntimo amor como filhas prediletas, ou melhor, se podemos dizê-lo, como senhoras, pois sois esposas de nosso Senhor. 
3 Mas porque, como confiamos, vos fizestes um só espírito com Cristo, pedimos que em vossas orações, lembrando-se sempre de nós, eleveis as piedosas mãos ao céu, suplicando insistentemente que Aquele que sabe que nós, colocados no meio de tantos perigos, não podemos aguentar por nossa fragilidade, nos dê força por sua virtude, conceda-nos dar conta tão digna-mente do ministério que nos confiou que redunde em glória para Ele, alegria para os anjos e salvação para os que foram confiados ao nosso governo, etc.