43). No tempo em que Frei João de Parma era lente em Nápoles, antes de ser ministro geral, passando uma vez por Bolonha estando a comer na hospedaria com o seu companheiro e outros frades de passagem, entraram outros frade e o levantaram à força da mesa para leva-lo a comer na seção dos enfermos. Mas ele, vendo que o companheiro ficava lá e ninguém o convidava, voltou para junto dele, dizendo: “Não vou comer em outro lugar a não ser com o meu companheiro”. Os convidados acharam que aquele gesto foi pouco delicado, mas para João foi uma grande cortesia e fidelidade integral.
Outra vez, quando era geral e querendo repousar um pouco, foi ao convento de Ferrara,onde tinha morado por sete anos. Observando que eram sempre os mesmos frades que se acomodavam à mesa com ele, todos os dias os mesmos no almoço e no jantar, percebeu que o guardião, Frei Guilherme de Bucea, parmense, fazia preferências de pessoas. Isso o desagradou muito, segundo aquele verso: : O homem imprudente desagrada naquilo em que quer dar prazer”.
Uma tarde, quando Frei João estava lavando as mãos para o jantar, o frade que servia perguntou ao guardião: “A quem devo convidar?”. O guardião respondeu: “Chama Frei Tiago de Pavia, Frei Avanzio, e mais este e aquele”.
Esses já tinham lavado as mãos e estavam atrás do geral, que já os tinha visto antes. Então, no ardor do espírito, inspirado, eu acho, pelo espírito divino, começou a dizer em forma de parábola: “Sim, sim. Chama Frei Tiago de Pavia, chama Frei Avanzio, chama este e aquele. Pega dez partes para ti! (cfr. 1Re 11-13) Essa é a canção do ganso”.
Por isso ficaram confusos e cheios de rubor, ouvindo essas palavras, aqueles que tinham sido convidados por Adonias (cfr. 1Re 1,41), e não foi menor a confusão do guardião, que disse ao ministro: “Padre, eu invitava estes para te fazer companhia para fazer uma honra para ti, pois me pareciam os mais dignos”. Mas o ministro respondeu: Por acaso não diz a Sagrada Escritura, para o louvor de Deus, que Ele fez o pequeno e o grande e cuida de todos? (Sb 6,7). E o Senhor: deixai que os pequenos venham a mim (Mt 19,34)? São Tiago diz: Deus escolheu os pobres aos olhos do mundo (Tg 2,5); e finalmente o próprio Senhor diz, no capítulo XIV de São Lucas (Lc 14, 112-13): Quando fazes um almoço ou um jantar, não convides os teus amigos nem os teus irmãos, nem os parentes, nem os vizinhos ricos, para que eles te repaguem o convite e tu tenhas a recompensa. Mas, quando fizeres um banquete, chama os pobres, etc.
Eu escutei essas palavras, porque estava ali perto. Então o que servia perguntou ao guardião: “Então, quem devo chamar?”. Ele respondeu: “Faze o que disser o ministro”. E o ministro disse: “Vai e chama os irmãos pobres do convento, porque este é um ofício em que todos podem acompanhar o ministro”. O frade que servia foi ao refeitório e disse aos frades mais fracos e mais pobres, aqueles que raramente comiam fora do refeitório: “O ministro geral vos convida para jantar com ele; por isso eu vos mando, da parte dele, para ir depressa para junto dele”. E assim foi feito.
De fato, Frei João de Parma, ministro geral, que, quando ia, numa ocasião não prevista, a um convento dos frades menores, que comessem com ele os frades mais pobres ou, todos juntos, ou então ora estes e ora aqueles, durante todo o tempo em que ficava na hospedaria (isto é, até quando não fosse ao refeitório comum para comer, o que sempre fazia depois de um breve repouso da viagem e da fadiga, se ficava por algum tempo em algum lugar), para que a sua vinda fosse para eles alívio e alegria...
Frei João de Parma era uma pessoa à disposição de todos, sem particular preferência por ninguém, e era cortês e generoso na mesa, ao ponto de, se houvesse um bom vinho diante dele, mandava servir igualmente para todos, ou o derramava numa jarra para que todos bebessem.
E todos achavam que isso era uma cortesia e uma grande caridade (pp. 445-447).