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TEXTO ORIGINAL

Legenda Sanctae Clarae Virginis - 18

18 Porro in ieiuniis tantus erat rigor abstinentiae suae, ut de viatico tenui, quod sumebat, vix corporaliter viveret, nisi eam virtus alia sustentaret. Sanitatis namque tempore maiorem quadragesimam et quadragesimam S. Martini episcopi in pane et aqua ieiunans, solis diebus dominicis vinum, si habebat, gustabat. 
Et ut mireris, auditor, quod imitari non potes, tribus diebus in hebdomada, secunda videlicet, quarta et sexta feria, nihil in illis quadragesimis sumebat in cibum. Sic alternati dies penuriosae refectionis et dies actae mortificationis sibi invecem succedebant, ut vigilia perfectae inediae, quasi in festum solveretur panis et aquae. 
Non mirum si tanta rigiditas multo tempore observata, Claram infirmitatibus subdidit, si vires consumpsit, si vigorem corporis enervavit. Compatiebantur propterea sanctae matri devotissimae filiae, ac mortes illas, quas quotidie voluntarie sustinebat, lacrymis deplorabant. Prohibuere tandem beatus Franciscus et Episcopus Assisii, sanctae Clarae illud trium dierum exitiale ieiunium, praecipientes ut nullum transeat diem, quin saltem unciam et dimidiam panis sumat in pastum.
Cumque gravis afflictio corporum, afflictionem ex more generet animorum, longe aliter effulgebat in Clara: servabat enim in omni sua mortificatione vultus festivos et hilares, ut vel non sentire, vel deridere videretur angustias corporales. Ex quo liquido datur intelligi, quia sancta laetitia, quae interius abundabat, exterius redundabat; quoniam flagella corporis levigat amor cordis.

TEXTO TRADUZIDO

Legenda de Santa Clara Virgem - 18

18 Pois tamanho era o rigor de sua abstinência nos jejuns que mal teria podido sobreviver corporalmente com o leve sustento que tomava, se outra força não a sustentasse. Enquanto teve saúde, jejuando a pão e água na quaresma maior e na do bispo São Martinho, só provava vinho aos domingos, quando tinha. 
E para que admires, leitor, o que não podes imitar, não tomava nada de alimento durante essas quaresmas em três dias por semana, nas segundas, quartas e sextas-feiras. Sucediam-se assim os dias de acerba mortificação, de modo que uma véspera de privação total precedia um festim de pão e água. 
Não é de admirar que tamanho rigor, mantido durante muito tempo, tivesse predisposto Clara à doença, consumindo as forças e enfraquecendo o corpo. Por isso, as filhas muito devotas tinham compaixão da santa madre e lamentavam com lágrimas aquelas mortes que suportava voluntariamente, todos os dias. Por fim, São Francisco e o bispo de Assis proibiram-lhe o esgotador jejum dos três dias, ordenando que não deixasse passar um só dia sem tomar para sustento pelo menos uma onça e meia de pão. 
Mas, embora em geral uma grave aflição do corpo afete o espírito, o que brilhava em Clara era muito diferente: ficava sempre de cara festiva e alegre em suas mortificações, parecendo que não sentia ou que se ria dos apertos corporais. Por isso, podemos ver claramente que a santa alegria que lhe sobrava dentro extravasava fora, porque o amor do coração tornava leves os castigos corporais.