TEXTO ORIGINAL
1 Et dicebat: “Tunc exultat diabolus, cum devotionem et letitiam cordis servi Dei, que provenit ex munda oratione et aliis bonis operibus, extinguere vel impedire potest.
2 Nam, si diabolus de suo aliquid in servo Dei habere potest, nisi servus Dei fuerit sapiens et si, quam citius poterit, illud non deleat vel destruat contritione et confessione et operis satisfactione, in brevi tempore de uno capillo facit trabem unam, semper ibi adiciendo”.
3 Et ait: “Servus Dei in comedendo, dormiendo et aliis necessitatibus suo corpori cum discretione satisfacere debet, ut frater corpus non valeat murmurare dicens:
4 Ego non possum stare erectus et insistere orationi, nec in tribulationibus meis letari et alia bona opera operari, pro eo quod michi non satisfacis”.
5 Item dicebat, quod si servus Dei suo corpori cum discretione satisfacit satis bono modo et honeste sicut poterit,
6 et frater corpus, in oratione et vigiliis et aliis bonis operibus anime vellet esse pigrum, negligens vel somnolentum, quod ipsum castigare debet tamquam malum et pigrum armentum, quia vult comedere et non vult lucrari, nec honus portare.
7 Si vero propter inopiam et paupertatem frater corpus suas necessitates [in] infirmitate et sanitate habere non potest, dum honeste et cum humilitate fratri suo vel suo prelato illas petierit amore Dei, et sibi non dantur, patienter sustineat amore Domini et sibi a Domino pro martyrio imputabitur.
8 Et quoniam fecit quod suum est, videlicet quod petiit suam necessitatem, excusatur a peccato, etiam si corpus inde magis infirmaretur”.
9 Et in hoc summum et precipuum studium habuit beatus Franciscus, licet a principio sue conversionis usque ad diem mortis sue valde afflixerit corpus suum, videlicet quod semper fuit sollicitus interius et exterius habere, [et] conservare in se letitiam spiritualem.
TEXTO TRADUZIDO
96. Irmão corpo
1 E dizia: “O diabo fica exultante quando consegue extinguir ou impedir a devoção e a alegria do coração do servo de Deus, que provém da oração limpa e das outras boas obras.
2 Pois se o diabo pode ter alguma coisa de seu no servo de deus, se o servo de Deus não for sábio e se, o mais depressa que puder, não o apague ou destrua pela contrição, pela confissão e pela satisfação da obra, em pouco tempo faz de um cabelo uma trave, aumentando cada vez mais”.
3 E disse: “O servo de Deus deve satisfazer a fome, o sono e as outras necessidades de seu corpo com discrição, para que o irmão corpo não possa murmurar, dizendo:
4 “Eu não posso ficar em pé e insistir na oração, nem posso me alegrar em minhas tribulações e fazer outras obras boas, porque não me satisfazes”.
5 Também dizia que se o servo de Deus não satisfaz seu corpo com discrição, de um modo bastante bomm e honesto, como puder,
6 e o irmão corpo, na oração, nas vigílias e em outras obras boas da alma quiser ser preguiçoso, negligente e sonolento, deve castigá-lo como um animal mau e preguiçoso, porque quer comer e não produzir nem carregar a carga.
7 Entretanto, se o irmão corpo não pode satisfazer suas necessidades na doença e na saúde por escassez e pobreza, quando pede o que precisa a seu irmão ou prelado, honesta e humildemente, por amor de Deus, e não lhe for dado, suporte pacientemente por amor do Senhor, o Senhor vai dar-lhe o mérito do martírio.
8 E como fez o que podia, isto é, pediu o que necessitava, fica livre de pecado, mesmo que o corpo fique mais doente por causa disso”.
9 Nisso o bem-aventurado Francisco sempre empenhou o maior e o principal esforço, embora seu corpo tenha sido muito afligido desde o princípio de sua conversão até o dia de sua morte, porque sempre foi solícito em ter e conservar, exterior e interiormente a alegria espiritual.