TEXTO ORIGINAL
1 Sero diei sabbati post vesperas ante noctem qua migravit ad Dominum beatus Franciscus, multe aves, que dicuntur laude, supra tectum domus in qua iacebat beatus Franciscus, non multum [alte] volabant et faciebant rotam ad modum circuli cantando.
2 Nos vero qui fuimus cum (cfr. 2Pet 1,18) beato Francisco, qui de ipso hec scripsimus, testimonium p[er]hibemus (cfr. Ioa 21,24; 3Ioa 12), quod multotiens audivimus ipsum dicentem:
3 “Si locutus fuero imperatori, supplicabo ei, ut amore Dei et mei precaminis interventu faciat constitutum et scriptum, ut nullus homo capiat sorores laudas vel faciat ipsis quidquam mali.
4 Similiter quod omnes potestates civitatum et domini castrorum et villarum teneantur quolibet anno in Nativitate Domini compellere homines ad prohiciendum de frumento et aliis [granis] per vias extra civitates et castella, ut habeant ad comedendum, maxime sorores laude et alie aves in die tante solemnitatis.
5 Et quod ad reverentiam Filii Dei, quem in presepio inter bovem et asinum reclinavit (cfr. Luc 2,7) beata Virgo mater eius tali nocte omnis homo in ipsa nocte satis debeat dare de annona fratribus bobus et asinis;
6 similiter quod in Nativitate Domini omnes pauperes a divitibus debeant saturari”.
7 Nam beatus Franciscus maiorem reverentiam habebat in Nativitate Domini, quam in nulla alia solemnitate Domini, quoniam, licet in aliis eius solemnitatibus Dominus salutem nostram operatus sit, tamen ex quo natus fuit nobis (cfr. Is 9,6), ut dicebat beatus Franciscus, oportuit nos salvari.
8 Propterea volebat ut tali die omnis christianus in Domino exultaret et pro eius amore, qui semetipsum dedit (cfr. Tit 2,14) nobis, omnis homo non tantum pauperibus cum hilaritate esset largus, sed etiam animalibus et avibus.
9 Dicebat beatus Franciscus de lauda: “Soror lauda habet caputium sicut religiosi, et est humilis avis, que vadit libenter per viam ad inveniendum sibi aliqua frumenta, etiamsi invenerit ea inter stercora animalium, extrahit tamen ea et comedit.
10 Volando laudat Dominum, sicut boni religiosi despicientes terrena, quorum semper in celis est conversatio (cfr. Phip 3,20).
11 Preterea eius vestimentum terre assimilatur, videlicet penne eius, exemplum prebens religiosis, ut non colorata et delicata vestimenta habere debeant, sed quasi mortua ad modum terre”.
12 Et propterea, quia beatus Franciscus in sororibus laudis considerabat hec predicta, multum diligebat eas et libenter videbat.
TEXTO TRADUZIDO
110. As irmãs cotovias
1 Na tarde do sábado depois das Vésperas, antes da noite em que o bem-aventurado Francisco migrou para o Senhor, muitos pássaros, que são chamados cotovias, ficaram voando não muito alto acima do telhado da casa em que jazia o bem-aventurado Francisco, dando voltas em círculo e cantando.
2 Mas nós que estivemos com o bem-aventurado Francisco, que escrevemos isto sobre ele, damos testemunho de que muitas vezes o ouvimos dizer:
3 “Se eu falar com o imperador, vou suplicar que, pelo amor de Deus e pela intervenção de minhas preces, faça um decreto por escrito, para que ninguém capture as irmãs cotovias nem lhes faça nada de mau.
4 De maneira semelhante, que todos os “podestás” das cidades e os senhores dos castelos e das vilas, no Natal do senhor, todos os anos, tenham que levar as pessoas a jogar trigo e outros grãos pelas estradas fora das cidades e dos castelos, para que principalmente as irmãs cotovias e outras aves tenham o que comer num dia de tão grande solenidade.
5 E que por reverência ao Filho de Deus, que sua Virgem Mãe reclinou no presépio entre o boi e o burro nessa noite, toda pessoa, na mesma noite tenha que dar bastante ração para os irmãos bois e burros;
6 de maneira semelhante, que no Natal do Senhor, todos os pobres tenham que ser saciados pelos ricos”.
7 Pois o bem-aventurado Francisco tinha mais reverência pelo Natal do Senhor que por nenhuma outra solenidade do Senhor, porque, embora em suas outras solenidades o Senhor tenha atuado pela nossa salvação, foi desde que nasceu por nós – como dizia o bem-aventurado Francisco – que teve a oportunidade de nos salvar.
8 Por isso queria que nesse dia todo cristão exultasse no Senhor e por seu amor, pois se entregou por nós, e todas as pessoas fossem generosas com alegria não só com os pobres mas também com os animais e as aves.
9 Sobre a cotovia, o bem-aventurado Francisco dizia: “A irmã cotovia tem um capuz como os religiosos, e é uma ave humilde, que faz de boa vontade o seu caminho para encontrar alguma comida, e mesmo que a encontre no meio do esterco dos animais, tira-a e come.
10 Voando louva o Senhor, como os bons religiosos desprezando as coisas da terra vivem sempre nos céus.
11 Além disso, sua roupa, isto é, suas penas, parece terra, dando exemplo aos religiosos, que não devem usar roupas delicadas e coloridas, mas parecida com a terra, como se fosse morta”.
12 Era por isso, porque o bem-aventurado Francisco considerava essas coisas nas irmãs cotovias, que as amava muito e gostava de vê-las.