Página de Estudos das Fontes Pesquisadas

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TEXTO ORIGINAL

Legenda Perusina - 101

1 Quadam die beatus Franciscus vocavit ad se socios suos: “Vos scitis quemadmodum domina Iacoba de Septem soliis, michi et nostre Religioni extitit et est fidelis plurimum et devota; 
2 quapropter, ut credo, si significaveritis ei statum meum, pro magna gratia et consolatione habebit; 
3 et specialiter significate ei ut mittat vobis pannum pro una tunica de panno religioso, qui colori cineris assimiletur, et est tamquam pannus quem faciunt monachi Cistercienses in ultramontanis partibus; 
4 mittat etiam de illa comestione, quam pluries fecit michi, cum fui apud Urbem”. 
5 Illam autem comestionem vocant Romani “mortariolum”, que fit de amigdalis et zucaro vel melle et aliis rebus. 
6 Erat enim illa spiritualis mulier sancta vidua et Deo devota de nobilioribus et ditioribus totius Urbis, que tantam gratiam consecuta est a Deo meritis et predicatione beati Francisci, ut videretur quasi altera Madalena, plena semper lacrimis et devotione pro amore Dei. 
7 Et scripta littera, sicut dixerat sanctus pater, quidam frater procurabat invenire aliquem fratrem qui portaret litteram, et statim pulsatum fuit ad portam; 
8 cumque aperiret ostium quidam frater, vidit dominam Iacobam, que venerat cum festinatione (cfr. Luc 1,39) de Urbe ad visitandum beatum Franciscum, 
9 et statim quidam frater cum magna letitia ivit ad beatum Franciscum nuntians, qualiter domina Iacoba cum filio suo et aliis multis venerat ad visitandum ipsum, 
10 et ait; “Quid facimus, pater? Dimittemus ipsam intrare et venire ad te?”. 
11 Nam de voluntate beati Francisci statu[tu]m fuit in illo loco in antiquo tempore, propter honestatem et devotionem illius loci, ut nulla mulier deberet intrare claustrum illud. 
12 Et ait beatus Franciscus: “Non est observanda hec constitutio in ista domina, quam tam magna fides et devotio de longinquis partibus fecit huc venire”. 
13 Et sic introivit ad beatum Franciscum, spargens coram ipso multas lacrimas. 
14 Et mira res, quod pannum morticinum, videlicet cinerei coloris, pro tunica, et omnia que scripta erant in littera, ut mitteret, secum apportavit. 
15 Et plurimum admirati sunt inde fratres, considerantes sanctitatem beati Francisci. 
16 Immo dixit fratribus dicta domina Iacoba: “Fratres, dictum fuit michi in spiritu, cum orarem: Vade et visita patrem tuum, beatum Franciscum, et festina et noli tardare, quoniam, si multum tardaveris, non invenies ipsum vivum. 
17 Insuper talem pannum pro tunica eius portabis et tales res, ut facias ei talem comestionem; similiter pro eius luminaribus in magna quantitate de cera tecum apporta et de incenso similiter” 
18 Et incensum non fecit scribi in littera beatus Franciscus; 
19 sed Dominus illi domine voluit inspirare pro mercede et consolatione anime sue, et ut melius cognoscamus, quante sanctitatis fuerit iste sanctus, quem Pater celestis tanto honore in diebus mortis sue voluit honorare pauperem. 
20 Qui regibus inspiravit, ut irent cum muneribus et [ad] honorandum puerum dilectum Filium suum in diebus nativitatis et paupertatis sue, illi nobili domine in remotis partibus voluit inspirare, ut iret cum muneribus ad venerandum et honorandum gloriosum et sanctum corpus sancti servi sui, 
21 qui tanto amore et fervore in vita et in morte dilexit et secutus est paupertatem dilecti Filii sui. 
22 Paravit illa domina quadam die illam comestionem sancto patri, de qua desideravit comedere; sed parum comedit ex ea, quoniam quotidie eius corpus ex infirmitate maxima deficiebat et morti appropinquabat. 
23 Similiter fecit fieri multas candelas, ut post eius migrationem coram sancto suo corpore arderent; et de panno, quem pro tunica eius apportavit, fecerunt inde fratres tunicam sibi, cum qua sepultus fuit. 
24 Et ipsemet iussit fratribus, ut deberent consuere saccum super ipsam in signum et exemplum sanctissime humilitatis et paupertatis. 
25 Et factum est sicut placuit Deo, ut in illa hebdomada, in qua venit domina Iacoba, beatus Franciscus migraverit ad Dominum.

TEXTO TRADUZIDO

Legenda Perusina - 101

101. Última visita de Frei Jacoba

1 Um dia o bem-aventurado Francisco chamou seus companheiros: “Vós sabeis como dona Jacoba de Settesoli foi e é para mim e para nossa Religião muito fiel e devota; 
2 por isso eu acho que, se a fizerdes saber meu estado, vai ter isso como uma grande graça e consolação; 
3 mas de maneira especial fazei saber que vos mande fazenda para uma túnica de pano religioso, que tenha cor de cinza, e é como o pano feito pelos monges cistercienses nos países ultramontanos; 
4 também mande daquela comida que fez para mim muitas vezes quando estive em Roma”. 
5 A tal comida é chamada pelos romanos de “mortariolum” (mostaciolo), feita de amêndoas e açúcar ou mel e outras coisas. 
6 Essa mulher espiritual era uma santa viúva dedicada a Deus, das mais nobres e ricas de toda Roma, que tinha recebido tamanha graça de Deus pelos méritos e pela pregação do bem-aventurado Francisco, que parecia uma outra Madalena, sempre cheia de lágrimas e de devoção por amor de Deus. 
7 Tendo escrito a carta, como dissera o santo pai, um frade estava procurando encontrar um frade que levasse a carta, e de repente bateram à porta; 
8 e quando um frade abriu a porta, viu dona Jacoba, que viera depressa de Roma para visitar o bem-aventurado Francisco, 
9 e imediatamente o frade foi anunciar ao bem-aventurado Francisco, com a maior alegria, como dona Jacoba com seu filho e muitos outros viera para visitá-lo, 
10 e disse: “Que fazemos, pai? Deixamos que entre e venha a ti”? 
11 Pois por vontade do bem-aventurado Francisco tinha sido estabelecido naquele lugar, no tempo antigo, que nenhuma mulher devia entrar no recinto, pela honestidade e devoção daquele lugar. 
12 E o bem-aventurado Francisco disse: “Não devemos observar esse estatuto com essa senhora, que foi trazida até aqui lá de longe por tão grande fé e devoção”. 
13 E assim ela entrou onde estava o bem-aventurado Francisco, derramando diante dele muitas lágrimas. 
14 E foi admirável que ela trouxe consigo o pano mortuário, isto é, de cor cinzenta, para a túnica, e tudo que estava escrito na carta que era para mandar. 
15 Os frades ficaram muito admirados com isso, considerando a santidade do bem-aventurado Francisco. 
16 A referida dona Jacoba até disse aos frades: “Irmãos, foi-me dito em espírito, quando estava rezando: Vá visitar teu pai, o bem-aventurado Francisco, depressa, sem tardar, porque se demorares muito não vais encontrá-lo vivo. 
17 Além disso, levarás tal pano para sua túnica e tais coisas, para que lhes faças uma comida; do mesmo jeito, leve também bastante cera para as velas e também incenso”. 
18 O bem-aventurado Francisco não tinha mandado falar de incenso na carta; 
19 mas o Senhor quis inspirar aquela senhora para mercê e consolação de sua alma e para que nós conheçamos melhor como foi grande a santidade deste santo, que o Pai celeste quis honrar o pobre com tanta honra nos dias de sua morte. 
20 Aquele que inspirou os reis para irem com presentes para honrar seu dileto Filho nos dias de seu nascimento e de sua pobreza, quis inspirar aquela senhora nobre, em lugar afastado, para ir com presentes para venerar e honrar o glorioso e santo corpo de seu santo servo, 
21 que com tanto amor e fervor amou e seguiu a pobreza de seu dileto Filho na vida e na morte. 
22 A senhora reparou um dia para o santo pai aquela comida que ele desejava comer; mas ele só comeu um pouquinho, porque a cada dia seu corpo estava definhando pela grave doença e estava ficando mais perto da morte. 
23 Da mesma forma, mandou fazer muitas velas, para ficarem ardendo diante de seu santo corpo depois de sua migração; e, com o pano que ela tinha trazido, os frades fizeram-lhe uma túnica, com a qual foi sepultado. 
24 E ele mesmo mandou que os frades costurassem saco sobre ela como sinal e exemplo da santíssima humildade e pobreza. 
25 E foi feito como agradou a Deus, pois naquela semana em que veio dona Jacoba, o bem-aventurado Francisco migrou para o Senhor.