Página de Estudos das Fontes Pesquisadas

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TEXTO ORIGINAL

Compilação de Assis - 103

[103] 
1 Similiter quodam tempore fuit quidam frater novitius qui sciebat legere psalterium, sed non bene; et quia libenter legebat, impetravit licentiam habendi psalterium a ministro generali et minister concessit sibi.
2 Sed ille nolebat illud habere, nisi prius haberet inde licentiam a beato Francisco maxime quia audiverat, quod beatus Franciscus nolebat ut fratres sui essent cupidi de scientia et de libris; 
3 sed volebat et fratribus predicabat ut studerent habere et imitari puram et sanctam simplicitatem, orationem sanctam et dominam paupertatem, in quibus hedificaverunt sancti et primi fratres, et hanc credebat esse securiorem viam pro salute anime. 
4 Non ut contemneret et despiceret sanctam scientiam; immo eos qui erant sapientes in Religione, et omnes sapientes nimio venerabatur affectu, quemadmodum ipse testatur in Testamento suo dicens: 
5 “Omnes theologos et qui ministrant verba divina, debemus honorare et venerari tamquam qui ministrant nobis spiritum et vitam (cfr. Ioa 6,64)”. 
6 Sed futura prospiciens cognoscebat per Spiritum Sanctum et etiam multotiens fratribus dixit, quod multi fratres sub occasione hedificandi alios dimittent vocationem suam, videlicet puram et sanctam simplicitatem, orationem sanctam et dominam nostram paupertatem. 
7 Et accidet illis quod unde crediderunt postea magis imbui devotione et accendi ad amorem Dei propter intellectum scripture, inde occasionaliter remanebunt intus frigidi et quasi vacui; 
8 et sic ad pristinam vocationem reverti non poterunt, maxime quia amiserunt tempus vivendi secundum vocationem suam; 
9 et timeo ne id quod videbantur habere auferatur ab eis (cfr. Mat 25,29), quoniam dimiserunt vocationem suam. 
10 Et dicebat: “Multi sunt qui totum studium suum et sollicitudinem suam die noctuque ponunt in scientia, dimittentes vocationem suam sanctam, et devotam orationem. 
11 Et cum aliquibus vel populo predicaverint et viderint vel noverint aliquos inde hedificari vel ad penitentiam converti, inflantur vel se extollunt de operibus et lucro alieno, 
12 quoniam quos credunt suis verbis hedificari vel ad penitentiam converti, Dominus hedificat et convertit orationibus sanctorum fratrum, licet id ipsi ignorent, quia sic est voluntas Dei ut illud ne advertant, non inde superbiant. 
13 Isti sunt fratres mei milites tabule rotunde, qui latitant in desertis et in remotis locis, ut diligentius vacent orationi et meditationi, sua et aliorum peccata plorantes, quorum sanctitas a Deo cognoscitur, aliquando a fratribus et ab hominibus ignoratur. 
14 Et cum anime ipsorum ab angelis Domino representabuntur, tunc Dominus ostendet illis fructum et mercedem laborum suorum (cfr. Sap 10,17), videlicet multas animas que suis orationibus salvate sunt, dicens illis: 
15 Filii, ecce tales anime salvate sunt vestris orationibus, et quia super pauca fuistis fideles, supra multa vos constituam (cfr. Mat 25,21)”. 
16 Unde propter hoc dicebat beatus Franciscus super illo verbo: Donec sterilis peperit plurimos et que multos ha[bebat] filios infirmata est (cfr. 1Re 2,5), sterilem esse dicebat bonum religiosum, qui sanctis orationibus et virtutibus se et alios hedificat. 
17 Hec verba sepe dicebat coram fratribus in collatione verborum suorum, et maxime ad capitulum fratrum apud ecclesiam Sancte Marie de Portiuncula coram ministris et aliis fratribus. 
18 Unde omnes fratres, tam ministros quam predicatores, informabat ad opera dicens eis quod propter prelationem et officium et sollicitudinem predicandi omnino non deberent dimittere sanctam et devotam orationem, ire pro helemosina, et operari manibus suis (cfr. 1The 4,11; Eph 4,28) sicut alii fratres, propter bonum exemplum et lucrum animarum suarum et aliorum. 
19 Et dicebat: “Multum hedificantur fratres subditi cum eorum ministri et predicatores vacant libenter orationi et inclinam se et humiliantur”. 
20 Unde ipse tamquam fidelis zelator Christi, dum corpore fuit sanus, operabatur in se, quod docebat fratres suos. 
21 Cumque ille frater novitius, de quo supra dictum est in quodam heremitorio moraretur, accidit ut quadam die veniret illuc beatus Franciscus. 
22 Cui frater ille sic locutus est, ei dicens: “Pater, michi magna consolatio esset habere psalterium; sed licet generalis minister illud concedere michi velit, volo tamen illud habere de conscientia tua”. 
23 Cui beatus Franciscus tale responsum dedit dicens: “Carolus imperator, Rolandus et Oliverius et omnes paladini et robusti viri, qui potentes fuerunt in prelio, persequentes infideles cum multo sudore et labore usque ad mortem habuerunt de illis gloriosam et memorialem victoriam et ad ultimum ipsi sancti martyres mortui sunt pro fide Christi in certamine; 
24 et multi sunt qui sola narratione eorum, que illi fecerunt, volunt recipere honorem et humanam laudem”. 
25 Et propter hoc scripsit significationem horum verborum in suis Admonitionibus dicens: “Sancti fecerunt opera, et nos, recitando et predicando ea, volumus inde recipere honorem et gloriam”. 
26 Ac si diceret: scientia inflat, caritas autem hedificat (cfr. 1Cor 8,1).

TEXTO TRADUZIDO

Compilação de Assis - 103

[103] 
1 De maneira semelhante, numa ocasião ouve um irmão noviço que sabia ler o saltério, mas não bem; e como gostava de ler, pediu ao ministro geral licença para ter um saltério, e o ministro lhe concedeu. 
2 Mas ele não o queria ter se não recebesse licença para isso do bem-aventurado Francisco, principalmente porque tinha ouvido dizer que o bem-aventurado Francisco não queria que seus frades fossem desejosos de ciência e de livros; 
3 mas queria, e pregava aos frades, que se esforçassem por ter e imitar a pura e santa simplicidade, uma santa oração e a senhora pobreza, sobre as quais construíram os santos e os primeiros frades, e achava que esse era o caminho mais seguro para a salvação da alma. 
4 Não que desprezasse ou olhasse com desagrado a santa ciência; até venerava com o maior afeto os que eram sábios na Religião e todos os sábios, como ele mesmo testemunhou em seu Testamento, dizendo: 
5 “A todos os teólogos e aos que nos administram as palavras divinas devemos honrar e venerar como a quem nos administra o espírito e a vida”. 
6 Mas, olhando para o futuro, conhecia pelo Espírito Santo e disse muitas vezes aos frades que muitos frades, com a desculpa de edificar os outros, abandonarão sua vocação, isto é a pura e santa simplicidade, a santa oração e nossa senhora pobreza. 
7 E acontecerá com eles que, de onde acharam que depois se imbuiriam de devoção e acenderiam para o amor de Deus por causa da compreensão das Escrituras, justamente por isso ficarão interiormente frios e como que vazios. 
8 E assim não poderão voltar à antiga vocação, principalmente porque perderam o tempo de viver segundo a sua vocação. 
9 E temo que não lhes seja tirado o que parecia que possuíam, porque abandonaram sua vocação. 
10 E dizia: “Há muitos que põem na ciência todo o seu esforço e toda a sua solicitude, dia e noite, deixando sua santa vocação e a devota oração. 
11 E quando pregarem a alguns ou ao povo e virem ou ficarem sabendo que alguns ficaram edificados ou se converteram à penitência por causa disso, vão se inchar e orgulhar-se pelas obras e o lucro alheio. 
12 Porque é o Senhor que edifica e converte aqueles que eles crêem que eles acham que se edificam com suas palavras e se convertem à penitência, com as orações dos frades santos, mesmo que eles não saibam disso, pois assim é a vontade de Deus, que não percebam disso para não se orgulharem. 
13 Estes são os meus frades da távola redonda, que se escondem nos desertos e nos lugares afastados, para se dedicarem mais diligentemente à oração e à meditação, chorando os seus pecados e os dos outros, cuja santidade é conhecida por Deus, algumas vezes pelos frades, mas é ignorada pelos outros. 
14 E quando suas almas forem apresentadas a Deus pelos anjos, então o Senhor vai mostrar-lhes o fruto e o resultado de seus trabalhos, isto é, muitas almas que forma salvas por suas orações, dizendo-lhes: 
15 Filhos, olhem estas almas salvas por suas orações, e porque fostes fiéis no pouco, eu vos constituirei sobre muitas coisas (cfr. Mt 25,21)”. 
16 Por isso, o bem-aventurado Francisco dizia sobre aquela passagem: Enquanto a estéril teve muitos filhos e a quem tinha muitos filhos ficou doente (cfr. 1Re 2,5), que a estéril era o bom religioso, que edifica a si mesmo e aos outros pelas santas orações e e virtudes. 
17 Dizia muitas vezes essas palavras diante dos frades em suas conversas com eles, e principalmente no capítulo dos frades junto à igreja de Santa Maria da Porciúncula, diante dos ministros e dos outros frades. 
18 Por isso formava para as obras todos os frades, tanto ministros como pregadores, dizendo-lhes que por causa da prelatura e do ofício e solicitude de pregar não deviam absolutamente deixar a santa e devota oração, ir pedir esmolas e trabalhar com suas mãos, como os outros frades, por causa do bom exemplo e do lucro de suas almas e das dos outros. 
19 E dizia: “Os frades súditos ficam muito edificados quando seus ministros e pregadores se entregam de boa vontade à oração, e se prostram e se humilham”. 
20 Por isso ele, como um fiel zelador de Cristo, enquanto foi sadio de corpo, fazia em si o que ensinava a seus frades. 
21 Como aquele frade noviço, de que falamos acima, morava num eremitério, aconteceu que certo dia esteve lá o bem-aventurado Francisco. 
22 Então aquele frade falou com ele, dizendo: “Pai, para mim seria uma grande consolação ter um saltério, mas, embora o ministro geral queira conceder-me isso, quero tê-lo de acordo com a tua consciência”. 
23 Esta foi a resposta que o bem-aventurado Francisco lhe deu: “Carlos imperador, Rolando e Olivério, e todos os paladinos e robustos varões, que foram poderosos no combate, perseguindo os infiéis com muito suor e trabalho até a morte, conseguiram uma gloriosa e memorável vitória sobre eles, e no fim os próprios santos mártires morreram no combate pela fé em Cristo; 
24 e sãos muitos os que só pela narração deles, do que eles fizeram, querem receber honra e louvor humano”. 
25 E por isso escreveu qual o significado dessas palavras em suas Admoestações, dizendo: “Os santos fizeram as obras e nós, recitando-as e pregando-as, queremos receber por isso honra e glória”. 
26 Como se dissesse: a ciência incha, mas a caridade edifica (cfr. 1Cor 8,1).