TEXTO ORIGINAL
III - Prephatio super legendam sancte Clare virginis.
Istorie textum levigans sub lege metrorum,
Unum prelibo, quod non figmenta poete
Queram, seu veterum faleras, ut sensus adulter
Vestiat istud opus, vel sermo sophista coloret
Materiam; que luce sua vestita requirit,
Hereat ut gestis scriptor, dictumque reducat
Ad faciem veri, vero det nubere verbum,
Verborum fuco non aures mulceat, immo
Imbuat attentas veri dulcedine mentes.
Non hominum plausus cupio laudesque requiro,
Ne michi subripiat fructum levis aura laboris.
Mens humana loqui tentans de virgine tanta,
Sobria concipiat, non se deleget [ad] illud
Culmen suppremum vel inviolabile lumen
Quod mentem superas hominis, sensumque revincit
Angelice lucis; sic mens versetur in istis
Quod sit firma fides, verbi prolatio sinplex.
Quapropter leviora serene, potiora relinquo
Sensu conspicuis, contentus sinplice verbo.
TEXTO TRADUZIDO
III – Prefácio sobre a Legenda de Santa Clara virgem.
Polindo o texto da história de acordo com a métrica, quero adiantar uma coisa: que não vou buscar as ficções dos poetas ou os adornos dos antigos, de modo que um sentido adúltero revista esta obra, ou uma palavra sofisticada dê cor à matéria, que precisa ser vestida com a sua luz, para que o escritor se prenda aos fatos e dê a feição da verdade àquilo que diz. Que não agrade os ouvidos com o enfeite das palavras mas impregne com a doçura da verdade as mentes atentas.
Não quero o aplauso dos homens nem busco os seus louvores, para que a aura de um trabalho leve não me roube o fruto.
A mente humana, tentando falar de tão grande virgem, conceba coisas sóbrias, não se entregue àquele cume elevado ou luz inviolável que supera a mente humana e que quer chegar ao sentido da luz angélica. Que nestas coisas a mente proceda de forma que a fé seja simples, simples a exposição das palavras. Por isso, vou tratar serenamente das coisas mais leves, deixando as que são mais grandiosas para os que são notáveis por seu talento, contentando-me com a palavra simples.