TEXTO ORIGINAL
XXIX - De cotidiana informatione Sororum
per se et per predicatores.
Clara puellarum doctrix rudiumque magistra,
Conmissum servare gregem, sibi frangere panem
Vite, prebere sibi nutrimenta salutis,
Summis invigilat studiis. Quasi mater alumpnas
Moribus informat, blande monet adque benigno
Confevet affectu. Que, dum considerat illud
Quod non conveniunt nec in una sede morantur
Maiestas animi cum feda carnis amore,
Nulla fit ad tenebras, convenctio lucis (cfr. 2Cor 6,14), honestum
Cum turpi se non patitur; docet inde Sorores
Carnalem strepitum de mentis pellere sede,
Quodque vacare Deo studeant, mentisque recessu
Obliviscantur patriam, carnisque propinquos
Abiciant, miseros affectus carnis et eius
Omnes restringant nugas, ratione magistra.
Instruit hinc mater monstratque quod insidiosus
Hostis multiplices laqueos abscondit, ut inde
Puras decipiat animas; aliterque dolosus
Mundanos, aliter sanctos subvertere temptat;
Diversisque viis hostis molitur apertis:
Nunc pugnat vitiis, et nunc virtutis amictum
Mentitur, falsumque struit sub ymagine veri;
Turpe vel obscenum sub tegmine celat honesti.
Et quia multotiens languet mens ipsa quiete,
Orando torpet animus, meditando pigrescit,
Mens variis acta studiis invescit in illis;
Expedit ut mente subeant diversa vicissim:
Nunc foris insistat operi, nunc otia querens
Mens sibi se rapiat. opus intermittat et alte
Conmigret, solisque Dei penetralibus insit.
Istud dum repetit anima, dum decoquit intus,
Pellere desidiam, torporem mentis et omnis
Accidie vitium cupiens sollertia matris;
Tempora distinguit, movet in diversa Sorores:
Nunc orare monet, tranquilla mente supernis
Versari studiis, nunc insudare labori,
Nunc citat exterius ad opus, nunc advocat intus
Ad studium mentis, ut sic fastidia tollat.
Nam dum cedit opus studio, studiumque labori,
Promtius exequitur pondus manus ipsa laboris;
Letius aggreditur summam mens ipsa quietem,
Dulce sapit studium, meditatio sancta calescit.
Non tamen ipsa suis monitis contenta, puellis
Per sanctos doctosque viros alimenta propinat
Celestis vite, qui sacri nectare verbi
Mentes perfundunt Dominarum, pectora flammant;
Quo dulci potu fit eo fecundior ipsa,
Quo magis hunc sitiens haurit, magis imbibit, eius
De quo fit sermo magis exardescit amore.
Sic mellitus eam pastus, sic potio sacra
Celibis eloquii reficit, sic dulcia Sponsi
Cantica delectant, sic deliciatur in illis
Virginis auditus, quod cum de Fratribus unus,
Nomine Philippus, verbum proponeret, ipsi
In visu puer astabat pulcerrimus atque
Oblectabat eam plaudens. Cum talia quedam
De sotiis visu placido de matre videret,
Exhilarabat eam visus plaususque suavis.
Gaudebat, quamvis scripture nescia, virgo
Doctos audire; quorum sacra verba recondens,
De testa nucleum, dulcem de cortice fructum
Noverat elicere, verbi penetrare medullam.
Indictum fuerat ne quis frater Dominarum
Religiosa loca peteret, nisi de speciali
Pape permissu. De tali virgo statuto,
Dum sibi perspiceret illud quod pabula verbi
Rarius acciperent, doluit cunctosque remittens
Fratres qui victus querebant, intulit: ‘Ex nunc
Corporei victus questores nolumus, ex quo
Papa suo vetito verbi subtraxit alumpnos’.
Hoc ubi comperiit, vetitum mox Papa resolvit,
Istud in arbitrium ponens et velle Ministri.
Non solum curat animas, quinimmo puellis
Offitiosa suis servit, pressasque sopore
Algentes operit socias in frigore noctis.
Si qua pati legem communem forte nequiret,
Ordinis indictum non posses ferre rigorem,
Secum materna pietate remissius egit.
Mestis compatitur merens, lacrimansque medetur
Mestarum lacrimis; si cui temptatio mentis
Invasit claustrum, pedibus prosternitur eius,
Consolatur eam blandis affatibus; et sic
Erigit elisas (cfr. Ps 144,14; 145,8) mentes et sublevat egras.
Illud apostolicum retinens et gestibus inplens,
Quod pietas ad (Cfr. 1Tim 4,8) cuncta vales, dum subvenit egris,
Dum supportat (h)onus et dum miseretur egenis,
Dum reparat lapsos, fragiles dum robore firmas,
Omnibus assistit velud omnibus omnia facta.
Dulcia dum recolunt servitia matris alumpne,
Se sibi devotis animis placidisque rependunt:
Ut dulcem matrem studio venerantur amoris,
Moralis vite reverentur in arte magistram,
In Christi sponsa vestigia sancta, benignos
Gestus, perfectos sensus mirantur et actus.
TEXTO TRADUZIDO
XXIX – A formação contínua das Irmãs, por si e através de pregadores.
Clara, doutrinadora das filhas e mestra das rudes, dedicou-se com o maior esforço a guardar o rebanho que lhe fora confiado, repartindo para ele o pão da vida, dando-lhe nutrição para se salvar. Como uma mãe, formava os costumes das discípulas, admoestava com suavidade e animava com bondoso afeto.
Considerando que não era conveniente morarem no mesmo lugar a majestade da alma com o feio amor da carne, que a união com luz não melhora as trevas (cfr. 2Cor 6,14), que o honesto não combina com o torpe, ensinava as Irmãs a expulsarem de dentro da mente o fragor da carne, e a se esforçarem por dedicar-se a Deus, esquecendo-se, no recesso da mente, de sua pátria; pondo para fora os próximos pela carne, restringindo os miseráveis afetos da carne e todos os seus enganos, tendo a razão como mestra.
Por isso, a madre ensinava e demonstrava que o inimigo insidioso esconde muitas armadilhas, para enganar as almas puras. E que, esperto, tenta os mundanos de um jeito e os santos de outro. E que o inimigo tenta por diversos caminhos abertos: às vezes luta com os vícios, às vezes engana vestido de virtude, constrói o falso como se fosse verdadeiro, esconde o que é torpe e obsceno sob a aparência de honesto.
E porque a mente sofre de muitas formas no sossego, o ânimo se entorpece na oração, torna-se preguiçoso na meditação, a mente, agitada por diversas preocupações, nelas se alimenta, é bom que se submetam as diversas coisas à mente uma por uma. Numa hora, que insista nas obras exteriores; em outra, que a mente se arrebate buscando descanso. Pare o trabalho de vez em quando e vá para o alto, ficando só nas coisas profundas de Deus.
Quando a alma repete isso, quando se deixa cozinhar lá dentro, desejando expulsar a desídia, o torpor da mente e todo vício da acídia, a destreza da madre distingue os tempos, move as Irmãs para coisas diferentes: uma hora aconselha a rezar, entregando-se com a mente tranquila aos esforços supernos; outra hora, faz suar no trabalho; ora estimula ao trabalho exterior, ora chama para o trabalho da mente no interior, para evitar, assim, que se cansem.
Porque, quando o trabalho dá lugar ao estudo, e o estudo ao trabalho, a própria mão dá conta melhor do peso do trabalho; a própria mente busca com maior alegria o sumo descanso, saboreia o doce estudo, torna-se hábil na santa meditação.
Entretanto, não contente com suas próprias exortações, propiciava às filhas, através de homens santos e doutos, os alimentos da vida celeste, que com o néctar da palavra sagrada saciavam as mentes das senhoras e lhes inflamavam os corações. Por essa doce bebida, tornava-se ela mesma tanto mais fecunda quanto maior era sua sede, e mais se embebia ardendo no maior amor por aquele de quem se falava.
Assim o doce alimento, a sagrada bebida do elóquio célibe a refaziam. Assim deleitavam-na os doces cânticos do Esposo. Assim se deliciavam os ouvidos da virgem, porque, quando um dos frades, chamado Filipe, estava pregando, aos seus se apresentava como um menino belíssimo, e a alegrava aplaudindo.
Como uma das companheiras percebeu isso no rosto da madre, rejubilava-se com a visão e o aplauso suave.
Embora desconhecesse as escrituras, a virgem gostava de ouvir os doutos, pois aprendera a tirar o miolo das palavras sagradas, tomando da casca o fruto doce, e penetrando na medula.
Foi determinado que nenhum frade fosse aos lugares religiosos das senhoras, a não ser com licença especial do papa. Quando a virgem percebeu que, por causa dessa determinação, teriam mais raramente o alimento da Palavra, sofreu e, despedindo todos os frades que pediam o seu sustento, disse: “De agora em diante não queremos mais ter esmoleres de comida, já que o papa, com sua proibição, tirou-nos dos discípulos da palavra.
Quando soube disso, o papa logo retirou a proibição, deixando o assunto ao arbítrio e querer do ministro.
Mas não cuidava só das almas, pois atendia prestativa a suas filhas, e quando as encontrava dormindo regeladas, cobria-as no frio da noite. Se alguma não podia obedecer à lei comum, e não pudesse submeter-se ao rigor imposto pela Ordem, agia com ela mais brandamente, com piedade materna.
Compadecia-se das tristes, sofrendo com elas e, chorando, curava as lágrimas das sofredoras. Se, para alguma, a tentação da mente invadisse o claustro, prostrava-se a seus pés, consolava-a com palavras amáveis, e assim erguia as mentes caídas (cfr. Sl 144,14) e amparava as doentes.
Lembrava e punha em prática a palavra do apóstolo, que a piedade vale para tudo (cfr. 1Tm 4,8) quando ajuda os enfermos, quando carrega os pesos e quando tem misericórdia dos pobres, quando levanta os caídos e a todos assiste fazendo-se tudo para todos.
Quando as discípulas lembravam os amáveis serviços da madre, retomavam para si, nos ânimos devotos e plácidos: para venerarem a doce mãe com a dedicação do amor; na esposa de Cristo, os santos vestígios, os gestos bondosos, atos e sentidos perfeitos.