TEXTO ORIGINAL
XVII- De exercitio sacre orationis.
Eternis afflata bonis, abducta caducis,
Laudibus invigilat, ymnos agit, artius orat.
De gremio mentis excusso pulvere sordis,
Obtutus anime lucem defigit in illam,
Que lucere facit homines (cfr. Ioa 1,4), qua cuncta creata
Subsistunt, vivunt, pariterque moventur in ipsa (cfr. Act 17,28).
Profluit in lacrimas orando, suasque Sorores
Incitat ad fletum: movet has lacrimatio matris.
Assiduat sua vota Deo, noctemque diei
Applicat, et longis post completoria noctis
Tractibus, attente, sotiis orantibus, orat.
Set cum iam fessas oratio longa Sorores
Afficit, et propria vadunt dare membra sopori,
Insistit Sponsumque suum magis anxia querit,
Affectu pulsat, lacrimis compellit, et eius
Predulces gustus furtim sibi sepe requirit,
Procidit in faciem, lacrimarum flumine terram
Infundit, mulcet labiis, ut sic videatur
Devotis manibus iam iam sibi stringere Christum.
Dic, queso, devota Deo dulcissima sponsa,
Quid dempse lacrime cupiant sitiantve, quid orent.
Nunquid naufragium metuis? aut forte remordet
Te nota delicti, que Sponsi digna mereris
Deliciis eiusque bonis potioribus uti?
Aut te forte movent Pauli sacra verba beati,
Qui pia post studia virtutum splendida, multos
Profectus anime:chi nil sum conscius’ inquid;
Non tamen ex hoc se reputat fore iustificatum (cfr. 1Cor 4,4)?
Vel non quod lacrimis delere piacula, set quod
Irriguo tali gaudes potiora mereri?
An est quod sotiis lacrimas fundendo mereris?
Nescio quid. Secreta tua tibi, Clara, relinquo.
Non tamen ignoro, memini, plerumque relegi
Insignes meritis lacrimas effundere, non quod
Supplicium metuant, magis est quod premia tardant.
Prevenit in nocte socias, per signa silenter
Excitat ad laudes; surgitque cubantibus ipsis,
Accenditque speras, signum sepissime pulsat.
Non ibi desidie locus, tepor exulat omnis;
Nec sunt discipule segnes, stimulante magistra.
TEXTO TRADUZIDO
XVII – A prática da sagrada oração.
Inspirada pelos bens eternos, afastada dos perecedouros, vigiava nos louvores, cantava hinos, rezava cada vez melhor. Sacudindo o pó da sujeira de dentro da mente, fixava a atenção da alma naquela luz que ilumina os homens (cfr. Jo 1,4), pela qual subsistem todas as coisas criadas, que nela também vivem e se movem (cfr. At 17,28).
Derramava-se em lágrimas quando orava, e animava suas Irmãs a chorar: eram movidas pelo pranto da madre. Tornava assíduos seus votos a Deus, aplicava a noite ao dia e, nos longos espaços do completório da noite, orava atentamente, enquanto suas Irmãs rezavam. Mas, quando a longa oração pesava sobre as Irmãs já cansadas, e elas iam dar descanso a seus próprios membros, ela continuava a buscar seu esposo com mais ansiedade, latejava de afeto, obrigava-se a chorar e, muitas vezes, buscava furtivamente seus gostos mais do que doces, prostrando-se sobre o rosto, molhando o chão com o rio de lágrimas. Abrandava os lábios, parecendo que já tocava Cristo com as próprias mãos devotas.
Diz, eu te peço, ó esposa dulcíssima devotada a Deus, o que é que essas lágrimas desejam? Têm sede do quê? Oram por quê? Será que temes um naufrágio? Ou tens algum remorso por algum quê de delito, tu que, digna do Esposo, mereces gozar de suas delícias e bens maiores? Ou talvez te movam as palavras sagradas de São Paulo que, depois de piedosos e esplêndidos esforços de justiça, muitos proveitos da alma, disse: “De nada me acusa a consciência”, mas nem por isso se considerava justificado (cfr. 1 Cor 4,4).
Ou não é porque te alegras de destruir com as lágrimas as penas expiatórias, mas sim porque com essa rega tens a alegria de merecer coisas maiores?
Ou é porque adquires mérito para as companheiras derramando lágrimas? Não sei o que é. Deixo os segredos para ti, ó Clara!
Mas não ignoro, lembra-te, já li muitas vezes que os insignes derramaram lágrimas pelos méritos, não porque tivessem medo do suplício. Antes, porque os prêmios demoravam.
Adiantava-se de noite às companheiras, despertando-as com sinais silenciosamente para os louvores. Levantava-se enquanto elas ainda estavam deitadas, acendia as velas, muitíssimas vezes tocava o sinal. Não dava lugar para a preguiça, espantava toda tibieza, e as discípulas, sob o estímulo da mestra, não eram frouxas.