Página de Estudos das Fontes Pesquisadas

  • Fontes Clarianas
  • Fontes Históricas
  • Legendas
  • Legenda Versificada

TEXTO ORIGINAL

Legenda Versificata - 12

XII- De sancta et vera paupertate. 

Pauperibus demo[n]strat iter paupercula mater. 
Quem prius in mente contempserat, ere paterno 
Disperso miserisque dato, iam corpore mundum 
Deserit et, voti compos, cum paupere Christo 
Puperiem sequitur, cum Christi paupere Matre 
Mendicare cupit. Post Christum currere gaudet, 
Mundo de corde pulso foris, exonerata 
Rebus terrenis; et paupertatis in arto 
Dilatat mentem, desiderioque beate 
Vite conculcat presentis gaudia mundi. 
Nil preter Christum iam querit, nil nisi Christum 
Sperat, nilque suas sotias permittit habere. 
Paupertas sibi sola placet, pro cuius amore 
Dulcia desipiunt, pretiosaque viria fiunt. 
Hic sibi nidificat, hic thesauriçat, et ipsa 
Fit sibi munimen, defensio, mentis asylum 
Adversus carnem, mundum, magnumque tyrannum. 
Cum nichilo pugnat, cum paupertate triumphat. 
Res nova! Virgo petit, ob paupertatis honorem, 
Quod novus Ordo suus in paupertate creatus 
Sedis apostolice munimine perpetuetur. 
Sit licet insolitum quod pauper Clara requirit, 
Id tamen inpletur, paupertatisque beate 
Littera papalis titulum confirmat eisdem. 
Post, licet ob sevas corrupti temporis iras 
Terrea pauca sibi vellet concedere Papa, 
Ipsam promittens a voti solvere lege, 
Restitit, et Pape fertur sic esse locuta: 
‘A Christi penitus absolvi nolo sequela’. 
Alta sapit mulier, audens obstare magistro, 
Pontifici summo, solvendi sive ligandi (cfr. Mat 16,19) 
Suppremum cui posse dedit divina potestas! 
Forte quod inbiberat illius pocula, cuius 
Nec falli doctrina potest nec fallere novit, 
Et quod agebat eam divinus Spiritus intus. 
Est ibi libertas, ubi (cfr. 2Cor 3,17) spirat; quos agit, illi 
Non sunt sub lege: legi preiudicat omni. 
Cum sibi questores victus quesita reportant, 
De modicis gaudet, de multis mesta videtur; 
Integer allatus panis sibi displicet, et plus 
Particule seu frustra placent et fragmina panis. 
Et quia despiciens magnum multumque perorrens, 
Proficit ex modico cumulareque gaudet in ipso; 
Virtutum Dominus: (cfr. Ps 23,10), dulcis, pius adque benignus, 
Multiplicare volens modicum, quo virgo meretur, 
Et Clare meritum claris extollere signis, 
Incipit a modicis in laudem virginis huius, 
Conventum satians uno de pane Sororum. 
Clarius ut pateat, subscripta relatio pandit.

TEXTO TRADUZIDO

Legenda Versificada - 12

XII – A santa e verdadeira pobreza

A mãe pobrezinha ensinava o caminho às pobres. Como já tinha desprezado o mundo da mente, desfez-se da herança paterna dando-a aos miseráveis e já abandonou o mundo por voto. Com o Cristo pobre, seguiu a pobreza, desejando mendigar com a mãe pobre de Cristo. Alegrou-se de correr atrás de Cristo, tendo expulsado o mundo para fora do coração, liberada do peso das coisas terrenas. E abriu a mente no aperto da pobreza. Pelo desejo da vida bem-aventurada, pisou aos pés os gozos deste mundo. 
Já não queria mais nada a não ser Cristo. Já não esperava senão Cristo e a suas companheiras não permitia terem nada. Só a pobreza lhe agradava. Por amor a ela, as doçuras perdiam o gosto, as coisas preciosas tornavam-se vis. 
Aqui pôs o seu ninho, aqui juntou o seu tesouro, e ela se tornou a sua munição, a sua defesa, o abrigo da mente contra a carne, o mundo e o grande tirano. 
Lutou com o nada, triunfou com a pobreza, ó novidade! A virgem pediu, pela honra da pobreza, que a sua nova Ordem, criada na pobreza, fosse perpetuada pela garantia da Sé apostólica. Embora fosse insólito o que a pobre Clara requeria, assim foi feito, e uma carta papal confirmou-lhes o título da bem-aventurada pobreza. 
Mais tarde, embora pelas duras iras do tempo corrompido, o papa lhe quisesse conceder umas poucas terras, prometendo dispensá-la do voto, ela resistiu. Conta-se que assim disse ao papa: “Não quero absolutamente ser dispensada de seguir Cristo”. 
Parece ser muito elevada a mulher que ousou ir contra o mestre, o sumo pontífice, a quem o poder divino deu a possibilidade de desligar e ligar (cfr. Mat 16,19)! Talvez porque tinha tomado a bebida daquele cuja doutrina nem pode falhar nem soube o que é falhar, e porque era interiormente movida pelo Espírito Divino. 
Onde ele sopra, aí está a liberdade. Não estão sob a lei os que ele impulsiona: ele está acima de toda lei. 
Quando os esmoleres lhe levavam o necessário para viver, alegrava-se com o pouco e parecia triste com o que era demais. Não gostava do pão que lhe era levado inteiro; gostava mais dos pedaços ou restos, das migalhas de pão. 
Como desprezava o grande e tinha horror ao muito, aproveitava para acumular do pouco e com isso se alegrava. O Senhor das virtudes (cfr. Sl 23,10), doce, piedoso e benigno, querendo multiplicar o pouco, como a virgem merecia, e exaltar o mérito de Clara com sinais claros, começou com as coisas pequenas para o louvor dessa virgem quando o conjunto das Irmãs pôde compartilhar um só pão. Para que isso fique mais claro, demonstra-o o relatório a seguir.