Página de Estudos das Fontes Pesquisadas

  • Fontes Clarianas
  • Fontes Históricas
  • Legendas
  • Legenda Versificada

TEXTO ORIGINAL

Legenda Versificata - 32

XXXII- De finali transitu eius et hiis que in eo visa vel acta sunt.

Circumstant lectum morientis matris alumpne; 
Exundant oculi lacrimas, suspiria cordis 
Intima producunt, et viscera casus acerbus 
Excruciat. Cogit lacrimabilis ille recessus 
Ad lacrimas; non ipsa fames, sompnusve remittit 
Planctum, non requies noctis, nullusque diurne 
Mense delectus: delectat plangere, potus 
Sunt lacrime, merorque cibus. Sic tenpora noctis 
Deducit peragitque dies intensio luctus. 
Inter lugentes Agnes germana precatur 
Cum lacrimis, ne, se dimissa, Clara recedat. 
Quam sic solatur: ‘Placet, o carissima, Christo 
Hinc me transire; set tu plorare quiesce: 
Ad Dominum venies, et me festina sequeris’. 
Addiciens illi, quod consolatio magna 
Eius preveniet, Domino faciente, recessum. 
Cresceret ut plebis devotio, virgo diebus 
Pluribus in mortis concedere fa(c)ta videtur. 
Concurrunt populi, sanctam venerantur, eamque 
Almifice Sedis sacer ille senatus honorat. 
Est satis auditu mirabile: corporis escam 
Cum non sumpsisset denis septemque diebus, 
Tanto fovit eam virtus divina vigore, 
Ut cunctos ad se venientes virgo salubri 
Mulcens affatu Christo servire moneret. 
Cum quidam frater, Rainaldus nomine, longo 
Tritam martirio carnis grandique malorum 
Pondere depressam patienter ferre moneret 
Aspera, respondit promta sibi voce, quod ex quo 
Francisci monitis Domino se vovit, eamque 
Induit ex alto (cfr. Luc 24,49) Christus, sibi nulla molesta 
Pena fuit, morbusve gravis, seu passio dura. 
Iam propius stante Sponso sponsamque vocante, 
Vult per presbiteros et Fratres spirituales, 
Ut lacrimosa sibi recitetur passio Christi. 
Inter quos stabat Domini ioculator amenus 
Frater Iuniperus, qui verbi nectare plenus 
De Domino calida profundere verba solebat. 
Hunc, quodam dulcore novo perfusa, requirit 
Virgo, novum poscens de Christo si quid haberet 
Pre manibus frater; qui de fornace profundi 
Pectoris emittens scintillas eloquiorum, 
Virginis oblectat aures, animumque remulcet. 
Ad flentes tandem se vertit mater alumpnas, 
Et paupertatem Domini conmendat eisdem: 
Laudans commemorat celestia dona, suosque 
Devotos et devotas benedicit, et orat 
Detur ut a Domino benedictio rel[l]igiosis 
Pauperibus cunctis presentibus adque futuris. 
Cetera quis referat sine fletu? quisve subortas 
Contineat lacrimas, ubi casus tam lacrimosus 
Nil preter lacrimas, luctum fletumque refundit? 
Astant Francisci sotii duo, de quibus unus 
Angelus est dictus, qui conlacrimando remulcet 
Merentes alios; Alter, Leo nomine, deflens 
Clare decessum lacrimosa dat ob[s]cula lecto. 
Plangunt filiole matrem, matrisque recessus, 
Dum se destitui dulci solamine cernunt; 
Delegant lacrimas in euntem, flentque quod eius 
Transitus ipsarum sepel(l)it solacia tota. 
Vix pudor ipse manus retrahit divellere crines, 
Dilaniare genas: hinc pectora fortius ardent, 
Quod nequit exterius prorumpere flamma doloris: 
“Quoque magis tegitur, tectus magis estuat ignis”. 
Claustralis dominas cogit censura silere, 
Singultusve graves prodit dolor immoderatus. 
Hoc tamen inmensum poterat levigare dolorem; 
Quod iam non moritur moriens, set mortua vivet. 
Esse pium reputo morientem flere, piumque 
Huic congaudere; sibi nam debetur utrumque: 
Infert mors lacrimas, plausum successio vite. 
Ad se conversa sanctissima virgo silenter 
Inquid sic anime: ‘Proficiscere, tuta recede: 
Iam felix conductus adest; tuns ipse Creator, 
Qui te de nichilo fecit, te sanctificavit, 
Teque tuus custos tenere quasi mater alumpnum 
Semper dilexit’. Cum quereret una Sororum 
Cui loqueretur, ait: “Loquor hec anime benedicte’. 
Nec longe distabat ei comitiva superna. 
Ad quamdam sotiam mater conversa: ‘Vides tu’ 
Inquit ‘quem video Regem celi?’ Super illam 
Fit manus Excelsi; felicem concipit inde 
Visum corporeis oculis, aciemque reducens 
Ad portam, videt hoc, quod in albis ingrediuntur 
Virginei cetus, gestantes aurea serta 
In summis capitum; preclarior omnibus una 
Inter eas graditur, gestans diadema coruscum; 
Hocque fenestrati speciem videbatur habere 
Thuribuli, tanto radians splendore, quod ipsam 
Intra claustra domus noctem lucescere cogit. 
Ad lectum, quo sponsa iacet, speciosior illa 
Procedens, more peramantis se super illam 
Incu(n)bat et dulces amplexus donat eidem. 
Hinc a virginibus splendens profertur amictus, 
Quo Clare tegitur corpus, famulantibus illi 
Certatim cunctis, thalamusque paratur eidem. 
Succedente die, postquam Laurentius ille 
Strenuus athleta petiit fastigia celi, 
Egrediens anima superum conscendit in aulam, 
Aureola cum virginibus fruitura perhenni. 
O quam mors felix, quam transitus ille beatus, 
Quam casus dulcis et amena solutio carnis! 
Introitus vite fit mors et ianua celi. 
Omnibus est pene mors pena; bonis via vite, 
Exilii finis, patrieque regressio, per quam 
Vite punctali succedit vita perhennis, 
Et ceno celum, mundo paradisus amenus, 
Splendens gemma luto, pretiosaque purpura sacco, 
Perpetuusque dies nocti, lumenque tenebris, 
Libertas vinctis, peregrinis mansio celebs, 
Gloria sanctorum lacrimis, mercesque labori, 
Currenti bravium, certanti laurea perpes!

TEXTO TRADUZIDO

Legenda Versificada - 32

XXXII – Sua passagem final e o que nela se viu e aconteceu

As discípulas cercavam o leito da madre moribunda. Os olhos derramavam lágrimas. Do fundo do coração vinham suspiros e a situação dolorosa doía nas entranhas. Aquela partida chorosa forçava as lágrimas: o pranto lhes tirava a própria fome e o sono: não descansavam à noite nem tinham nenhuma alegria à mesa de dia. Só queriam chorar; sua bebida eram as lágrimas, e a tristeza era a comida. Assim a intensidade do luto atravessava as horas noturnas e passava o dia. 
Entre as que choravam, sua Irmã Inês pedia que Clara não fosse embora, deixando-a para trás. Ela assim a consolou: “Ó querida, a vontade de Cristo é que eu seja transferida daqui. Mas, pára de chorar! Virás para o Senhor e me seguirás bem depressa”. Disse-lhe que, por obra do Senhor, teria uma grande consolação antes da partida. 
Para que crescesse a devoção do povo, parece que foi concedido à virgem estar muitos dias à morte. Muitas pessoas acorreram, veneraram a santa, e ela foi honrada pelo sagrado senado da Santa Sé. 
O que é admirável de ouvir: passou dezessete dias sem nenhum alimento corporal, tão grande foi o vigor com que a alimentou a virtude divina, que a virgem admoestava com doçura todos os que vinham a ela para que servissem a Cristo. 
Quando um certo frade, chamado Reinaldo, a aconselhou, esmagada que estava pelo longo martírio da carne e deprimida pelo grande peso dos males, a que suportasse com paciência aquelas asperezas, respondeu prontamente que, desde que se entregara ao Senhor pelos conselhos de Francisco, e Cristo a revestiu do alto (cfr. Lc 24,49), nenhuma pena lhe tinha sido molesta, nenhuma doença grave, nenhum padecimento duro. 
Quando o Esposo já estava mais perto e chamando a esposa, quis que lhe fosse recitada a lacrimosa paixão de Cristo por presbíteros e frades espirituais. Entre eles estava o divertido jogral de Cristo Frei Junípero, que, cheio do néctar da palavra, costumava derramar quentes palavras do Senhor. 
Como que cheia de uma nova doçura, a virgem perguntou se o Irmão tinha algo novo de Cristo em suas mãos. Ele, soltando da fornalha do coração profundo centelhas de boas palavras, agradou os ouvidos da virgem e lhe consolou o ânimo. 
Finalmente, a madre voltou-se para os discípulos em prantos e lhes recomendou a pobreza do Senhor: Louvando, comemorou os dons celestes, abençoou seus devotos e devotas e pediu a Deus que fossem abençoados pelo Senhor todos os religiosos pobres, presentes e futuros. 
Quem vai contar o resto sem chorar? Ou quem vai conter as lágrimas que brotarem onde um caso tão lacrimoso não consegue conter sem lágrimas o luto e o pranto? 
Estão presentes dois companheiros de Francisco. Um dos quais, chamado Ângelo, que, chorando junto, procura consolar os outros tristes; outro, chamado Leão, lamentando a partida de Clara, dá beijos lacrimosos no seu leito. 
As filhinhas choravam a mãe e a partida da madre quando viram que iam ficar sem a doce consolação: entregavam as suas lágrimas à que partia e choravam porque sua morte enterrava todas as consolações delas. Mal conseguia o pudor impedir que arrancassem os cabelos, que arranhassem o rosto. Por isso os corações ardiam mais fortemente, pois a chama da dor não podia irromper para fora. “Quanto mais é coberto, o fogo esquenta ainda mais”. 
A censura do claustro obrigava as senhoras a se calarem, mas a dor sem medida fazia soltar graves soluços. Mas poderia aliviar a dor imensa o fato de que a moribunda não morria, mas a morta ia viver. 
Acho que é uma coisa piedosa chorar por quem morre, como é piedoso celebrá-lo. Pois as duas coisas lhe são devidas: a morte traz as lágrimas; a continuação da vida traz o aplauso. 
Voltando-se para si mesma, a virgem santíssima assim falou baixinho à sua alma; “Vai embora, retira-te segura, pois já tens uma feliz companhia: o teu próprio Criador, que te fez do nada, que te santificou, e que sempre gostou de te guardar como uma mãe guarda o seu filho”. 
Uma Irmã perguntou com quem estava falando, e ela disse: “Falo com esta alma bendita”. 
A comitiva superna não estava longe dela. Voltando-se para uma das Irmãs, a madre disse: “Vês o Rei do céu, que eu estou vendo?”. Pousou sobre ela a mão do Excelso. Por isso concebeu uma visão com os olhos do corpo, e quando olhou para a porta viu que entrava um grupo de virgens vestidas de branco, trazendo grinaldas de ouro na cabeça. Uma destacava-se entre todas: andava no meio delas levando um diadema coruscante, que parecia ter a forma de um turíbulo com janelinhas, irradiando tamanho esplendor que tornou iluminada a própria noite dentro do claustro. Essa mais bonita aproximou-se da cama onde jazia a esposa, inclinou-se sobre ela de maneira super amável e lhe deu doces abraços. 
Então as outras virgens trouxeram uma veste resplandecente com a qual cobriam o coro de Clara. Servindo-a todas elas à porfia, prepararam-lhe o tálamo. 
No dia seguinte, depois daquele em que o valoroso atleta de Cristo São Lourenço chegou ao fastígio do céu, a alma saiu e subiu ao lugar dos que estão no alto, para gozar com as virgens na auréola perene. 
Ó que morte feliz! Que passagem bem-aventurada! Que queda mais suave! Que agradável dissolução da carne! A morte tornou-se entrada da vida e porta do céu. 
Para quase todos a morte é uma pena. Para os bons é o caminho da vida, o fim do exílio, a volta à pátria, pela qual a vida perene sucede à vida que passa. Para o lodo é o céu; para o mundo, um paraíso ameno; para a lama, uma gema brilhante; um dia perpétuo para a noite; luz para as trevas; liberdade para os presos; para os peregrinos, uma mansão célibe; glória para as lágrimas dos santos, recompensa do trabalho, prêmio para o corredor, láurea perene para quem compete.