TEXTO ORIGINAL
XXXIII - Qualiter ad exequias eius Curia romana
confluxit cum multitudine populorum.
Confestim rumor obitu de virginis omnes
Conmovit cives: simul illuc sexus uterque
Confluit, et tantus ibi fit concursus, ut ipsa
Sola remansisse videatur terra. Beatam
Acclamat populus, sanctam veneratur, et intra
Laudes admiscent lacrimas. Properatque Potestas
Septus militibus armatorumque catervis;
Sero pervigiles et toto tempore noctis
Custodes adhibent, thesaurum tam pretiosum
Custodire student, ne forte quid inde sinistri
Accideret; nam tanta fuit devotio cunctis
Ut prelatorum sacra pontificalia signa,
Que splendent digitis, pretiosis insererentur
Defuncte manibus, ut quid sibi querere possent
Virtutis: sperant quod mortua non sit avara
Circa devotos, que grandia dona pluebat
Vivens, et mundo signorum fulgure vivat.
Ad Clare funus festinat mane sequenti
Romane Sedis Antistes cum comitiva
Fratrum: civesque concurunt. Hinc ubi ventum
Esset ad exequias et que de more geruntur
Inciperent Fratres in matris flebile funus,
Offitium de Virginibus magis esse canendum
Proloquitur Papa; set ubi spectabilis ille
Presul cui celebrem dedit Ostia pontificatum
Et vite spendor pariterque scientia famam,
Quod res tam celebris maturius esset agenda
Respondit, misse sollempnia mesta secuntur.
Postea, cum sotiis Papa residente beato,
De vanis mundi labentis temate sumpto
Prefatus Presul mellito gutture mella
Fundens eloquii, Claram,sermone diserto
Conmendat, mundum mentis sprevisse recessu.
Circundant funus a cardine nomen habentes,
Debita percelebri peragunt suffragia more.
Set quia non tutum reputant dignumve quod ipsum
Tam sanctum pignus, tam nobile, tam pretiosum
Sic longe distet a civibus, illud in ymnis,
Laudibus et iubilo plebis, clangore tubarum,
Preclarum Clare corpus transfertur in aulam,
Cui dat cognomen titulumque Georgius.
Illic Francisci tumulata prius sacra membra fuere,
Ut qui viventi dux extitit et via vite,
Defuncte pater ipse; locum tumulumque pararet.
Concurrit populus, numerosis laudibus ipsam
Magnificat, clamat quod vere virgo beata
Regnat in excelsis iam consociata supernis
Civibus et residet sublimis in ethere, cuius
In terris corpus tanto plebs tractat honore.
Post hec paucorum spatio currente dierum
Claram subsequitur Agnes: soror eius, ad Agni
Provehitur cenam. Deus hiis dispensat ut ambe,
Natura, vite merito regnoque sorores,
Christo coniubilent, celo sine fine fruantur;
Quodque repromisit illi soror ante recessum,
Exitus ostendit; ut quam fuit illa secuta
Mundi conten[p]tu, moriens sequeretur eamdem
Signis conspicuam, virtutum luce coruscam,
Ad Christum, vite concors regnique coheres.
Virgo puellarum celebs auriga, precare
Christum pro nobis: tua conversatio sancta
Exuit a culpis multos, ipsosque novatos
Ad vitam, vite quadam novitate reduxit;
Nos, qui te superum regnum gaudemus adeptam
Et tua magnifica preconia laude sonamus,
Celo restituens, predoni subripe mundo.
TEXTO TRADUZIDO
XXXIII – Como em suas exéquias afluiu a cúria romana com a multidão dos povos.
A notícia da morte da virgem comoveu imediatamente todos os cidadãos. Lá chegaram juntos os dois sexos e o ajuntamento foi tão grande que parecia que a cidade tinha ficado abandonada. O povo aclamava-a como bem-aventurada, venerava-a como santa, e misturava louvores com as lágrimas.
Apressou-se o podestá, cercado por pelotões militares de homens armados; ficaram atentos à tarde e usaram guardas durante toda a noite, cuidando de proteger tesouro tão precioso para que não pudesse acontecer nada de sinistro, pois foi tão grande a devoção de todos que os sagrados selos pontificais , que brilham nos dedos foram colocados nas mãos preciosas da defunta para poderem tomar o que fosse possível de sua virtude: esperavam que a morta não fosse avara para com seus devotos pois fizera chover grandes dons enquanto viva, e que vivesse no mundo pelo vigor dos sinais.
Para o funeral de Clara apressou-se na manhã seguinte o bispo da Sé romana, com a comitiva dos Irmãos. Também os cidadãos acorreram.
Quando chegou a hora das exéquias e os frades começaram a cantar como de costume no triste funeral da madre, o papa disse que seria melhor cantar o ofício das virgens. Mas, então, aquele respeitável bispo que deu um célebre pontificado a Óstia, e fama pelo esplendor de sua vida e pela ciência, respondeu que coisa tão importante precisava ser feita com mais maturidade, e continuou a missa triste.
Depois, sentados o bem-aventurado papa com os companheiros, o referido bispo tomou o tema da vaidade do mundo que passa e, juntando a doçura da voz à doçura das palavras, recomendou Clara em um sermão eloquente que desprezou o mundo pelo recesso da mente.
Circundavam o funeral os cardeais , fazendo os sufrágios costumeiros por aquela que era mais do que célebre. Mas, como não acharam seguro ou digno que tão santo penhor, tão nobre, tão precioso, ficasse tão longe dos cidadãos, fizeram levar o precioso corpo de Clara, por entre hinos, louvores e o júbilo do povo, ao som de trombetas, para o edifício ao qual Jorge dá o nome e o título.
Lá tinham sido enterrados anteriormente os membros sagrados de Francisco, de modo que ele, que para ela viva foi guia e caminho da vida, veio a ser seu pai quando defunta: preparou o lugar e o túmulo.
Juntou-se o povo, exaltou-a com numerosos louvores, clamou que, na verdade, a virgem bem-aventurada reinava nas alturas já unida aos cidadãos supernos, e que morava na sublimidade do ar aquela cujo corpo o povo tratava com tanta honra na terra.
Depois disso, passados poucos dias, Inês seguiu Clara: sua irmã foi levada para a ceia do Cordeiro . Deus lhes permitiu que as duas, irmãs por natureza, pelo mérito da vida e pelo Reino, festejassem juntas com Cristo, gozando do céu sem fim. E o que a irmã tinha prometido antes da partida aconteceu de fato. De modo que aquela que a tinha seguido no desprezo do mundo, morrendo seguisse-a também na fama dos sinais, brilhando com a luz das virtudes até Cristo, concorde na vida e co-herdeira do Reino.
Ó Virgem, condutora célibe das moças, roga a Cristo por nós! Teu comportamento santo livrou muitos das culpas e os levou renovados à vida. A nós que nos alegramos porque conseguiste o Reino superno e cantamos com louvor teus magníficos valores, restitui-nos o céu, livra-nos das garras do mundo!