TEXTO ORIGINAL
Caput 15. De vitanda mollitie et multitudine tunicarum et habenda patientia in necessitatibus.
1 Indutus homo iste virtute ex alto (cfr. Luc 24,49) plus interius igne calescebat divino quam exterius corporeo tegumento. Exsecrabatur vestitos triplicibus et qui praeter necessitatem mollibus vestibus utebantur in ordine. 2 Necessitatem vero quam non ratio sed voluptas ostentat, signum exstincti spiritus (cfr. 1The 5,19) asserebat: “Spiritu, inquit, tepido et paulatim a gratia frigescente, necesse est carnem et sanguinem (cfr. Gal 1,16; Mat 16,17) quae sua sunt quaerere (cfr Phip 2,21)”.
3 Et dicebat: “Quid enim restat, quando anima caret spiritualibus deliciis, nisi ut caro convertatur ad suas? Et tunc animalis appetitus necessitatis articulum palliat, tunc sensus carnis conscientiam format. 4 Si adest fratri meo vera necessitas et statim satisfacere properat, quid mercedis accipiet (cfr. Gen 29,15)? Accidit enim occasio meriti sed displicuisse sibi studiose probavit. Ipsas namque indigentias non patienter ferre nihil alind est nisi Aegyptum repetere”.
5 Denique nulla occasione volebat fratres habere plures quam duas tunicas, quas tamen concedebat consutis petiis suffultari. 6 Exquisitos pannos horrendos esse dicebat, et acerrime mordebat contrarium facientes; atque ut suo exemplo tales confunderet, semper super tunicam suam saccumasperum consuebat (cfr. Iob 16,16); unde etiam in morte jussit exsequialem tunicam operiri sacco. 7 Fratribus autem quos urgebat infirmitas vel alia necessitas indulgebat aliam tunicam mollem subtus ad carnem, ita tamen quod foris in habitu semper asperitas et vilitas servaretur. 8 Dicebat enim cum dolore maximo: “Adhuc tantum laxabitur rigor et dominabitur tepor quod filii pauperis patris non verebuntur portare etiam scarleticos pannos solo colore mutato”.
TEXTO TRADUZIDO
Capítulo 15. Sobre evitar a maciez e a abundância de túnicas
e ter paciência nas necessidades.
1 Revestido da força do alto (cf. Lc 24,49), este homem se aquecia mais internamente com o fogo divino do que exteriormente com a roupa do corpo. Execrava quem se vestia triplamente ou, na Ordem, usasse vestes macias sem necessidade. 2 Considerava sinal de espírito extinto (cf. 1Ts 5,19) uma necessidade provocada pelo prazer e não pela razão. Dizia que quando “o espírito é morno e, pouco a pouco, a graça esfria,. é necessário que a carne e o sangue (cf. Gl 1,16; Mt 16,17) procurem o que lhes é próprio” (cf. FI 2,21).
3 E dizia: “O que resta, quando a alma não tem delícias espirituais, senão que a carne volte para as suas? Então, o apetite animal se veste de necessidades, e o senso carnal forma a consciência. 4 Se meu irmão tiver uma verdadeira necessidade e correr logo a satisfazê-la, que recompensa terá (cf. Gn 29,15)? Apresentou-se uma ocasião de mérito, mas ele provou com acinte que não lhe agradava. Pois, não suportar com paciência as privações outra coisa não é senão voltar para o Egito”.
5 Enfim, em ocasião alguma queria que os frades tivessem mais do que duas túnicas, ainda que permitisse que fossem remendadas com retalhos. 6 Dizia ter horror aos tecidos finos e repreendia severamente os que faziam o contrário e, para confundi-los com seu exemplo, sobre sua túnica costurava sempre um saco (cf. Jó 16,16) grosseiro. Por isso, até na morte mandou que a túnica exequial fosse coberta com um saco. 7 Mas concedia aos frades forçados pela doença ou outra necessidade que vestissem outra túnica macia sobre a pele, contanto que por fora sempre se preservasse a aspereza e a vileza no hábito. 8 Pois dizia com a maior dor: “Ainda se relaxará tanto a austeridade, e dominará a moleza que os filhos de um pobre pai não se envergonharão de usar vestes de escarlate, mudando apenas a cor”.