Página de Estudos das Fontes Pesquisadas

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TEXTO ORIGINAL

Speculum perfectionis - 53

Caput 53. Qualiter humiliter et vere respondit cuidam doctori ordinis Praedicatorum interroganti eum de verbo scripturae.

1 Manente ipso apud Senas, venit ad eum quidam doctor sacrae theologiae de ordine Praedicatorum, vir utique humilis et spiritualis valde. 2 Cumque ipse cum beato Francisco de verbis Domini simul aliquamdiu contulissent interrogavit eum dictus magister de illo verbo Ezechielis: “Si non annuntiaveris impioimpietatem suam, animam ejus de manu tua requiram (cfr. Ez 3,18)”. 3 Dixit enim: “Multos, bone pater, ego cognosco esse in peccato mortali, quibus non annuntio impietatem eorum: numquid de manu mea ipsorumanimae requirentur (cfr. Ez 3,18)?”.
4 Cui beatus Franciscus humiliter dixit se esse idiotam, et ideo magis expedire sibi doceri ab eo quam supra scripturae sententiam respondere. Tunc ille humilis magister adjecit: “Frater, licet ab aliquibus sapientibus hujus verbi expositionem audiverim, tamen libenter super hoc tuum reciperem intellectum”. 6 Dixit ergo beatus Franciscus: “Si verbum debet generaliter intelligi, ego taliter accipio ipsum, quod servus Dei sic debet vita et sanctitate in seipso ardere vel fulgere, ut luce exempli et lingua sanctae conversationis (cfr. 1Tim 4,12) omnes impios reprehendat. 7 Sic, inquam, splendor vitae ejus et odor famae ipsius annuntiabitomnibus iniquitates (cfr.  Ez 3,19) eorum”.
8 Plurimum itaque doctor ille aedificatus, recedens dixit sociis beati Francisci: “Fratres mei, theologia hujus viri, puritate et contemplatione subnixa, est aquila volans(cfr. Iob 9,26); nostra vero scientia ventre graditur super terram (cfr. Gen 1,20.22; 3,14)”.

TEXTO TRADUZIDO

Espelho da Perfeição - 53

Capítulo 53. Como humilde e sabiamente respondeu a um dou­tor da Ordem dos Pregadores que o interrogou sobre uma pala­vra da Escritura.

1 Durante sua permanência em Sena, veio a ele um doutor em Teologia, da Ordem dos Pregadores, um homem realmente hu­milde e muito espiritual. 2 Tendo conversado com o bem-aventurado Francisco sobre as palavras do Senhor, o referido mestre interrogou-o sobre a palavra de Ezequiel: “Se não falares ao ímpio de sua impiedade, pedirei contas a ti (cf. Ez 3,18) de sua alma”. 3 Disse: “Bom pai, conheço muitos que estão em pecado mortal, aos quais não anuncio a sua impiedade: deverei eu prestar conta da alma (cf. Ez 3,18) deles?”
4 O bem-aventurado Francisco disse humildemente que era iletrado e, por isso, era-lhe mais conveniente ser instruído por ele do que respon­der sobre a sentença da Escritura. 5 Então, o humilde mestre acres­centou: “Irmão, embora tenha ouvido de vários sábios a explica­ção dessa palavra, de boa vontade receberia tua opinião sobre ela”. 6 Então, o bem-aventurado Francisco respondeu: “Se a palavra deve ver entendi­da de modo geral, eu a compreendo assim:o servo de Deus deve arder e refulgir por sua vida e santidade de forma que, pela luz do exemplo e pela linguagem de um santo comportamento (cf. 1Tm 4,12), repreenda todos os ímpios. 7 Assim eu digo que o esplendor de sua vida e o perfume da própria fama anunciará a todos as suas iniquidades” (cf. Ez 3,19).
8 O doutor ficou muito edificado e, quando ia embora, disse aos companheiros de São Francisco: “Meus irmãos, a teologia deste homem, apoiada na pureza e na contemplação, é uma águia que voa (cf. Jó 9,26); nossa ciência, em vez, arrasta o ventre pela ter­ra” (cf. Gn 1,20.22; 3,14).