TEXTO ORIGINAL
Caput 86. Qualiter describebat oculos impudicos ut induceret fratres ad honestatem.
1 Inter alias virtutes quas diligebat et desiderabat esse in fratribus, post fundamentum sanctae humilitatis, diligebat praecipue pulchritudinem et munditiam honestatis. 2 Unde volens docere fratres habere oculos pudicos, solebat tali aenigmate confingere (cfr. 1Cor 13,12; Ps 118,120) oculos impudicos: 3 Rex pius et potens misit ad reginam duos nuntios successive. Revertitur primus et verbis tantum verba reportat et nihil loquitur de regina. Siquidem oculos suos tenuerat in capite sapienter (cfr. Qo 2,14),nec aliqualiter prosilierant in reginam. 4 Redit alius, et post pauca verba quae refert, longam de reginae pulchritudine texit historiam: “Vere, inquit, domine, vidi pulcherrimam mulierem: felix qui fruitur illa”.
5 Et rex ad illum: “Tu, serve nequam (Mat 18,32), in sponsam meam jecisti oculos impudicos, patet quod rem prospectam subtiliter emere voluisti.
6 Jubet ergo revocari primum et ait illi: “Quid tibi de regina videtur?”. — “Optime, inquit, mihi videtur, quia libenter et patienter audivit”. Iste respondit sagaciter. 7 Et ait illi rex: “Numquid formositatis aliquid inest ei?”. — Respondit ille: “Domine mi, tuum sit hoc inspicere et discernere, meum autem fuit verba proferre”.
8 Fertur a rege sententia: “Tu, inquit, habes oculos castos: esto in camera mea, corpore castior, et fruere delitiis meis. Hic vero impudicus exeat domum ne polluat thalamum”.
9 Dicebat ergo: “Quis non deberet timere respicere sponsam Christi?”.
TEXTO TRADUZIDO
Capítulo 86. Como descrevia os olhares impudicos para incitar os frades à honestidade.
1 Entre as virtudes que amava e desejava que existissem nos frades, depois do fundamento da santa humildade, amava principalmente a beleza e pureza da castidade. 2 por isso, querendo ensinar os frades a ter olhares pudicos, costumava representar os olhares impudicos com este enigma (cf. 1Cor 13,12; Sl 118,120): 3 Um rei piedoso e poderoso enviou sucessivamente dois mensageiros à rainha. O primeiro voltou e referiu palavra por palavra, sem dizer nada da rainha. Na verdade, sabiamente manteve seus olhos na cabeça (cf. Ec 12,14) e não os levantou para a rainha. 4 Voltou o outro e, depois de dizer poucas palavras, teceu uma longa história sobre a beleza da rainha e concluiu: “Na verdade, senhor, vi uma mulher belíssima! Feliz quem a possui”.
5 Disse-lhe o rei: “Servo mau (cf. Mt 18,32), lançaste olhares impudicos para minha esposa! É claro que sutilmente quiseste comprar aquela que viste”.
6 Então, mandou chamar de volta o primeiro e lhe perguntou: “O que pensas da rainha? Com sagacidade, ele respondeu: “Otimamente, pois me ouviu de boa vontade e com paciência”. 7 Disse o rei: “Existe nela alguma formosura”? Ele respondeu: “Meu senhor, compete a ti ver e julgar isso; meu dever era somente dizer a mensagem”.
8 Então o rei proferiu a sentença: “Tu tens olhares castos: sê mais casto de corpo no meu aposento e goza de minhas delícias. Este impudico, porém, saia da casa para que não profane meu leito”.
9 E acrescentava: “Quem não deveria temer olhar para a esposa de Cristo?”