TEXTO ORIGINAL
Caput 60. De visione fratris Pacifici quem vidit et audivit sedem Lucifer reservari humili Francisco.
1 Mane autem facto (cfr. Ioa 21,4) reversus est ad eum frater Pacificus. Beatus Franciscus tunc stabat coram altari in oratione. Et frater Pacificus exspectavit ipsum extra chorum, orans similiter coram crucifixo. 2 Et cum coepisset orare, elevatus est et raptus in caelum —sive in corpore, sive extra corpus, solus Deus (cfr. 2Cor 12,2.3) novit; — et vidit in caelo multas sedes; inter quas vidit unam eminentiorem aliis atque prae omnibus gloriosam, fulgentem et ornatam omni lapide pretioso(cfr. Apoc 21,19). 3 Et admirans pulchritudinem ejuscoepit intra se cogitare (cfr. Dan 4,16) cujus esset illa sedes. Et statim audivit vocem dicentem sibi (cfr. Act 9,4): “Haec sedes fuit Luciferi; et loco illius sedebit in ea Franciscus humilis”.
4 Et cum ad seipsum rediisset, statim exivit foras ad eum beatus Franciscus; ad cujus pedes statim procidit(cfr. Act 10,25) ille frater, in modum crucis brachiis cancellatis. 5 Et considerans eum quasi jam in caelo in illa sede manentem, dixit ei: “Pater, indulgeas mihi, et roga Dominum ut misereatur mei, et peccata mea dimittat mihi”. 6 Extendens autem manum (cfr. Mat 14,31), beatus Franciscus elevavit ipsum; et cognovits tatim quod aliquid in oratione vidisset (Luc 1,22). Videbatur enim totus mutatus, et loquebatur ad beatum Franciscum, non quasi viventem in carne sed quasi jam regnantem in caelo.
7 Postea vero, quia nolebat dicere visionem beato Francisco, coepit loqui sibi verba quasi a longe, et inter alia dixit ei: “Quid credis de te ipso, frater?” 8 Respondit beatus Franciscus et ait illi: “Mihi videtur quod sim major peccator quam aliquis qui sit in hoc mundo”. 9 Et statim dictum fuit animae fratris Pacifici: “In hoc potes cognoscere veram fuisse visionem (cfr. Dan 8,26) quam vidisti, quoniam sicut Lucifer, propter superbiam suam de illa sede fuit ejectus, sic Franciscus propter humilitatem suam merebitur exaltari et sedere in ea”.
TEXTO TRADUZIDO
Capítulo 60. A visão de Frei Pacífico, que viu e ouviu que o trono de Lúcifer estava reservado ao humilde Francisco.
1 Chegada a manhã (cf. Jo 21,4), Frei Pacífico voltou até ele. O bem-aventurado Francisco estava diante do altar em oração. Frei Pacífico esperou-o fora do coro, orando também diante do crucifixo. 2 E quando começou a rezar, foi elevado e arrebatado ao céu — se foi no corpo, ou fora do corpo, só Deus soube (cf. 2Cor 12,2.3) — e viu muitos tronos no céu; entre os quais um mais elevado e mais glorioso que os outros, refulgente e ornado de toda espécie de pedras preciosas(cf. Ap 21,19). 3 E, admirando sua beleza, começou a indagar a si mesmo (cf. Dn 4,16) a quem pertenceria aquele trono. E logo ouviu uma voz que lhe dizia (cf. At 9,4): “Este trono pertenceu a Lúcifer; em seu lugar sentar-se-á nele o humilde Francisco”.
4 Logo que voltou a si, o bem-aventurado Francisco saiu e foi ter com ele; o irmão lançou-se a seus pés (cf. At 10,25), com os braços em cruz. 5 E, considerando-o como se já estivesse no céu sentado naquele trono, disse-lhe: “Pai, perdoa-me e roga ao Senhor que tenha pena de mim e perdoe meus pecados”. 6 Estendendo a mão (cf. Mt 14,31), o bem-aventurado Francisco ergueu-o e compreendeu imediatamente que ele tinha visto (cf. Lc 1,22) alguma coisa na oração. Com efeito, parecia totalmente mudado e falava com o bem-aventurado Francisco não como a alguém que vive na carne, mas como se já estivesse reinando no céu.
7 Depois, porém, não querendo contar a visão ao bem-aventurado Francisco, começou a falar-lhe por rodeios e, entre outras coisas, disse: “Irmão, o que pensas de ti mesmo?” 8 O bem-aventurado Francisco respondeu e lhe disse: “Acho que sou um pecador maior do que qualquer outro que existe neste mundo”. 9 No mesmo instante, foi dito à alma de Frei Pacífico: “Nisto podes saber que a visão que tiveste foi verdadeira (cf. Dn 8,26), porque, assim como Lúcifer, por sua soberba, foi alijado de seu trono, Francisco, por sua humildade, merecerá ser exaltado e sentar-se nele”.