Página de Estudos das Fontes Pesquisadas

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TEXTO ORIGINAL

Speculum perfectionis - 72

Caput 72. Quod orationibus et lacrimis humilium et simplicium fratrum convertuntur animae quae videntur converti propter scientiam et praedicationem aliorum.

1 Nolebat pater sanctissimus fratres suos esse cupidos scientia et libris, sed volebat et praedicabat eis ut studerent fundari super sanctam humilitatem, 2 et imitari puram simplicitatem, sanctam orationem et dominam paupertatem in quibus aedificaverunt sancti et primi fratres, 3 et hanc solam dicebat esse securam viam ad salutem propriam et aliorum aedificationem; quoniam Christus, ad cujus imitationem sumus vocati, hanc solam nobis ostendit et docuit verbo pariter et exemplo.
4 Ipse enim beatus pater, futura prospiciens, cognoscebat per spiritum sanctum et multoties fratribus dicebat quod multi fratres occasione aedificandi alios dimittent vocationem suam, 5 videlicet sanctam humilitatem, puram simplicitatem, orationem et devotionem, atque dominam nostram paupertatem, 6 et continget illis quod unde putabunt magis imbui, id est impleri devotione et accendi amore et illuminari cognitione Dei, propter intellectum scripturae, inde occasionaliter remanebunt intus frigidi et vacui; 7 et sic ad pristinam vocationem redire non poterunt, quia tempus vivendi secundum vocationem suam in vano et falso studio amiserunt; 8 et timeo quod id quod videbantur habere auferetur ab eis (cfr. Mat 25,29), quia id quod datum erat illis, id est vocationem suam tenere et imitari, penitus neglexerunt. 9 Et dicebat: “Sunt multi fratres qui totum studium suum et totam sollicitudinem suam ponunt in acquirendo scientiam, dimittentes vocationem suam sanctam, extra viam humilitatis et sanctae orationis mente et corpore evagando: 10 qui cum populo praedicaverint, et noverint aliquos inde aedificari vel ad paenitentiam converti, inflantur et extollunt se de opere et lucro alieno tanquam de suo; 11 cum tamen magis in condemnationem et praejudicium suum praedicaverint, et nihil ibi secundum veritatem operati fuerint, nisi tanquam instrumenta illorum per quos Dominus vere fructum hujusmodi acquisivit: 12 nam quos credunt per scientiam et praedicationem suam aedificari et ad paenitentiam converti, Dominus orationibus et lacrimis sanctorum pauperum, humilium et simplicium fratrum, aedificat et convertit; 13 licet ipsi sancti fratres, ut plurimum, hoc ignorent: sic enim est voluntas Dei ut illud nesciant ne inde valeant superbire.
14 Isti sunt fratres mei milites tabulae rotundae qui latitant in desertis et remotis locis ut diligentius vacent orationi et meditationi, 15 sua et aliorum peccata plorantes, viventes simpliciter et humiliter conversantes, quorum sanctitas a Deo cognoscitur et aliquando fratribus et hominibus est ignota. 16 Horum animae cum ab angelis Domino praesentabuntur, tunc Dominus ostendet illis fructum et mercedem laborum suorum (cfr. Sap 10,17), 17 videlicet multas animas quae suis exemplis, orationibus et lacrimis sunt salvatae, 18 et dicet illis: Filii mei dilecti, ecce tot et tales animae salvatae sunt vestris orationibus, lacrimis et exemplis, et quia super pauca fuistis fideles, supra multa vos constituam (cfr. Mat 25,21)19 Alii vero praedicaverunt et laboraverunt sermonibus sapientiae et scientiae suae, et ego meritis vestris fructum salutis operatus sum; 20 ideo suscipite mercedem laborum eorum et fructum meritorum vestrorum qui est regnum aeternum, quod per humilitatis et simplicitatis vestrae atque orationum et lacrimarum vestrarum violentiam rapuistis.
21 Sicque isti portantes manipulos suos, id est fructus et merita sanctae humilitatis et simplicitatis suae, intrabunt in gaudium Domini (cfr. Mat 25,21)  laetantes et exsultantes.
22 Illi vero qui non curaverunt nisi scire et aliis viam salutis ostendere, nihil operantes pro se, ante tribunal Christi (cfr. 2Cor 5,10) adstabunt nudi et vacui, solius confusionis, verecundiae et doloris manipulos deferentes.
23 Tunc veritas sanctae humilitatis et simplicitatis, sanctaeque orationis et paupertatis, quae est vocatio nostra, exaltabitur glorificabitur et magnificabitur; 24 Cui veritati ipsi, inflati vento scientiae (cfr. 1Cor 8,1),detraxerunt vita et vanis sermonibus sapientiae suae, dicentes ipsam veritatem esse falsitatem, et tanquam caeci, eos qui ambulaverunt in veritate crudeliter persequentes. 25 Tunc error et falsitas opinionum suarum per quas ambulaverunt, quas veritatem esse praedicaverunt, per quas in caecitatis foveam (cfr. Mat 15,14) multos praecipitaverunt, in dolore, confusione et verecundia terminabitur, 26 et ipsi cum suis tenebrosis opinionibus in tenebras exteriores (cfr. Mat 25,30) cum tenebrarum spiritibus demergentur”.
27 Unde saepe dicebat beatus Franciscus super illo verbo: Donec sterilis peperit plurimos et quae multos habebat filios infirmata est (cfr. 1Re 2,5)28 “Sterilis est bonus religiosus simplex, humilis, pauper et despectus, vilis et abjectus, qui sanctis orationibus et virtutibus continue alios aedificat et parturit gemitibus (cfr. Rom 8,22.26) dolorosis”.
29 Hoc verbum dicebat saepissime, coram ministris et aliis fratribus maxime in capitulo generali.

TEXTO TRADUZIDO

Espelho da Perfeição - 72

Capítulo 72. Pelas orações e lágrimas dos frades humildes e sim­ples são convertidas as almas que parecem converter-se pela ciência e pregação dos outros.

1 O santíssimo pai não queria que seus frades fossem ávidos de ciência e de livros, mas queria e pregava-lhes que procurassem fundamentar-se sobre a santa humildade, 2 seguissem a pura simplicida­de, a santa oração e a senhora pobreza,  sobre as quais edificaram os primeiros e santos frades. 3 E dizia que este era o único caminho seguro da própria salvação e da edificação dos outros, porque Cristo, que somos chamados a imitar, só nos mostrou e ensinou este cami­nho tanto com a palavra quanto com o exemplo.
4 Com efeito, prevendo o futuro, o santo pai conhecia pelo Es­pírito Santo e com freqüência dizia aos frades que muitos deles, a pretexto de edificarem os outros, perdem sua vocação, 5 isto é, a santa humildade, a pura simplicidade, a oração e a devoção e também nossa senhora, a pobreza. 6 E acontecer-lhes-á que, en­tão, naquilo em que pensarem que estarão mais imbuídos, isto é, de se encherem de devoção, de se acenderem no amor, e de se iluminarem pelo conhecimento de Deus, pela com­preensão da Escritura, justamente aí estarão interiormente frios e va­zios. 7 E assim, não poderão voltar à primitiva vocação, pois desperdiçaram o tempo de viver segundo sua vocação em estu­dos inúteis e falsos. 8 E receio que lhes seja tirado o que pensa­vam possuir (cf. Mt 25,29), porque negligenciaram totalmente o que lhes havia sido dado, isto é, manter e seguir a sua vocação. 9 E dizia: “Há muitos frades que põem todo o seu empenho e solici­tude em adquirir ciência, abandonando sua santa vocação, va­gando com a mente e o corpo fora do caminho da humildade e da santa oração. 10 Estes, quando pregam ao povo, e percebem que por isso alguns ficaram edificados ou se converteram à penitên­cia, incham-se e se vangloriam com a obra e o ganho do outro, como se fosse seu; 11 porém, pregam mais para sua condenação e prejuízo e nada mais fazem segundo a verdade, senão ser instru­mentos daqueles pelos quais o Senhor obteve realmente estes frutos. 12 Pois, aqueles que eles pensam ter edificado e con­vertido à penitência por sua ciência e pregação, na verdade é o Se­nhor que os edifica e converte pelas orações e lágrimas dos frades santos, pobres, humildes e simples; 13 embora estes santos frades quase sempre ignorem isso, pois é vontade de Deus que não o sai­bam, para que não se ensoberbeçam.
14 Estes são os meus frades cavaleiros da Távola Redonda, que se escondem nos desertos e lugares ermos para, com maior diligência, entregarem-se à oração e à meditação, 15 cho­rando os seus pecados e os dos outros, vivendo e comportando-se simples e humildemente, cuja santidade é conhecida por Deus e às vezes ignorada pelos irmãos e pelos homens. 16 Quando suas almas forem apresentadas ao Senhor pelos anjos, então o Senhor lhes mostrará o fruto e a recompensa de seus trabalhos (cf. Sb 10,17), 17 isto é, as muitas almas que por seus exemplos, orações e lágrimas foram salvas, 18 e lhes dirá: Meus amados filhos, tantas e tais almas foram salvas por vossas orações, lágrimas e exem­plos, e, porque fostes fiéis em poucas coisas, constituir-vos-ei so­bre muitas (cf. Mt 25,21). 19 Os outros, porém, pregaram e traba­lharam com palavras de sua sabedoria e ciência e eu, por vossos méritos, operei o fruto da salvação; 20 por isso, recebei a recom­pensa dos seus trabalhos e o fruto dos vossos méritos, que é o rei­no eterno, que conquistastes por vossa humildade e simplicidade e pela força das vossas orações e lágrimas.
21 Assim, trazendo seus feixes, isto é, o fruto e os méritos de sua santa humildade e simplicidade, eles, alegres e exultantes, entrarão na alegria do Senhor (cf. Mt 25,21).
22 Mas aqueles que não se preocuparam senão em saber e mos­trar aos outros o caminho da salvação, sem nada fazerem para si, chegarão nus e vazios ante o.tribunal de Cristo (cf. 2Cor 5,10), le­vando somente os feixes da confusão, da vergonha e da dor.
23 Então a verdade da santa humildade e simplicidade e da san­ta oração e pobreza, que é nossa vocação, será exaltada, glorifica­da e engrandecida. 24 Uma verdade que eles, inchados pelo vento da ciência (cf. 1Cor 8,1), diminuíram pela vida e pelas vãs palavras de sua sabedoria, dizendo que a verdade é falsidade e, como cegos, perseguindo cruelmente os que caminhavam na verdade. 25 Então, o erro e a falsidade das opiniões que seguiam, que pregaram ser a verdade e pelas quais precipitaram a muitos na cova da cegueira (cf. Mt 15,14), terminarão em dor, confusão e vergonha 26 e eles, com suas tenebrosas opiniões, serão mergulhados nas trevas exte­riores (cf. Mt 25,30) com os espíritos das trevas”.
27 Por isso, comentando a palavra: Enquanto a estéril deu à luz muitos filhos e a que tinha muitos filhos definhou (1Sm 2,5), muitas vezes, o bem-aventurado Francisco dizia: 28 “Estéril é o religioso bom, simples, humilde, pobre, desprezado, vil e abjeto, que continua­mente edifica os outros com santas orações e virtudes e os gera com dolorosos gemidos” (cf. Rm 8,22.26).
29 Repetia isso muitíssimas vezes diante dos minis­tros e dos outros frades, sobretudo no capítulo geral.