Página de Estudos das Fontes Pesquisadas

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TEXTO ORIGINAL

Speculum perfectionis - 80

Caput 80. De conditionibus quas dixit esse necessarias generali ministro et sociis ejus.

1 Tantus erat zelus quem habebat ad conservationem perfectionis in religione, et tanta videbatur sibi perfectio professionis regulae, quod saepe cogitabat quis esset sufficiens, post mortem suam, ad regimen totius religionis et ad conservationem perfectionis in ipsa cum Dei adjutorio, et nullum idoneum poterat invenire.
2 Unde prope finem vitae ipsius, dixit ei quidam frater: “Pater, tu transibis ad Dominum, et familia haec, te secuta, remanebit in valle lacrimarum (cfr. Ps 83,7); innue ergo nobis aliquem, si cognoscis in ordine, in quo tuus animus conquiescat, cui onus generalis ministerii digne possit imponi”.
3 Respondit beatus Franciscus, inuens cuncta verba suspiriis: “Tam magni et multimodi exercitus ducem, tam ampli et dilatati gregis pastorem, fili mi, nullum sufficientem intueor; 4 sed unum vobis depingam in quo reluceat qualis deberet esse hujus familiae dux et pastor.
5 “Homo, inquit, iste debet esse vitae gravissimae, discretionis magnae, famae laudabilis, privatis affectionibus carens, ne dum in parte plus diligit, in toto scandalum generet. 6 Debet illi orationis studium esse amicum, ita tamen quod certas horas animae suae et certas gregi suo distribuat: 7 nam primo mane debet sanctissimum sacrificium missae praemittere et ibidem longa devotione seipsum et gregem divinae protectioni affectuosius commendare. 8 Post orationem vero se ipsum statuat in medio ab omnibus depilandum, omnibus responsurum, omnibus cum caritate et patientia et mansuetudine provisurum.
9 “Non debet esse acceptor personarum (cfr. Act 10,34), ita quod non minus curet de simplicibus et idiotis quam de scientibus et sapientibus. 10 Cui si donum scientiae est concessum, tamen plus in moribus pietatis et simplicitatis, patientiae et humilitatis imaginem ferat, 11 foveatque virtutes in se et in aliis, atque in praticando eas continue se exerceat, ad hoc alios plus exemplo quam sermonibus incitando. 12 Sit exsecrator pecuniae, quae nostrae professionis et perfectionis est praecipua corruptela; et, tanquam caput et exemplar imitandum ab omnibus, nullis unquam loculis abutatur. 13 Sufficiant autem sibi pro se habitus et libellus, pro aliis vero pennarolus cum calamo et pugillari, et sigillum. 14 Non sit aggregator librorum, nec lectioni multum intentus, ne forte detrahat officio quod praerogat studio. 15 Consoletur pie afflictos, cum sit ultimum remedium tribulatis (cfr. Ps 31,7; 45,2)ne si apud eum defuerint remedia sanitatis, desperationis morbus praevaleat in infirmis. 16 Ut protervos ad mansuetudinem flectat seipsum prosternat, et aliquid sui juris relaxet ut animam lucrifaciat (cfr. Phip 3,8).
17 “Ad refugos ordinis, velut ad oves quae perierunt (cfr. Mat 10,6)viscera pietatis expandat et nunquam misericordiam neget illis, 18 sciens tentationes illas esse pervalidas quae ad tantum possunt impellere casum; quas si ipsum permitteret Dominus experiri, forte in majus praecipitium laberetur.
19 Vellem ipsum tanquam Christi vicarium ab omnibus cum devotione et reverentia honorari, atque sibi ab omnibus et in omnibus cum omni benevolentia, juxta ejus necessitatem et status nostri condecentiam provideri.
20 Verumtamen oportet eum non arridere honoribus, neque favoribus plus quam injuriis delectari, ita quod propter honores non mutentur ejus mores nisi in melius. 21 Si quando vero propensiori et meliori cibo indigeret, non in absconso sed in publico loco assumat, ut aliis tollatur verecundia providendi sibi in infirmitatibus et debilitatibus suis.
22 “Ad eum maxime pertinet latentes distinguere conscientias et ex occultis venis eruere veritatem. 23 Omnes accusationes in principio habeat suspectas, donec veritas ex diligenti examinatione incipiat apparere. 24 Aures etiam non praebeat multiloquis, et multiloquos in accusationibus specialiter habeat suspectos, nec faciliter credat eis. 25 Talis denique debet esse quod, propter cupiditatem retinendi honorem, virilem formam justitiae et aequitatis nullatenus infitiat vel relaxet. 26 Ita tamen quod ex nimio rigore nullius anima occidatur, et ex superflua mansuetudine non nascatur torpor, atque ex laxa indulgentia non proveniat dissolutio disciplinae, sicque ab omnibus timeatur et ab ipsis timentibus diligatur. 27 officium autem praelationis semper putet et sentiat sibi fore potius oneri quam honori.
28 Vellem itaque ipsum habere socios praeditos honestate, rigidos adversus voluptates, fortes in angustiis, pios et compassivos delinquentibus, habentes aequalem affectionem ad omnes; 29 nihil de labore suo recipientes nisi puram corporis necessitatem, et nihil appetentes nisi laudem Dei, ordinis profectum, animae propriae meritum et fratrum omnium perfectam salutem; 30 omnibus convenienter affabiles et omnes convenientes ad ipsos cum sancta jucunditate recipientes, atque formam et exemplum observantiae evangelii juxta professionem regulae in semetipsis pure et simpliciter omnibus ostendentes. 31 Ecce, inquit, talis deberet esse generalis minister hujus religionis et fales socios deberet habere”.

TEXTO TRADUZIDO

Espelho da Perfeição - 80

Capítulo 80. As condições que disse serem necessárias ao mi­nistro geral e a seus companheiros.

1 Tão grande era o zelo que tinha em.conservar a perfeição na religião e tão importante lhe parecia a perfeita observância da regra que, muitas vezes, refletia sobre quem teria o mínimo par, depois de sua morte, para o governo de toda a religião e para conservar nela a perfeição, com.a ajuda de Deus. E não conseguia encontrar ninguém que fosse idôneo.
2 Por isso, perto do fim de sua vida, disse-lhe um frade: “Pai, tu passarás para o Senhor, e esta família, que te seguiu, permanecerá no vale de lágrimas (cf. Sl 83,7). Indica-nos, pois, alguém, se o conheces na Ordem, que goze de tua confiança e a quem se possa dignamente impor o ministério geral”.
3 Suspirando a cada palavra, o bem-aventurado Fran­cisco respondeu: “Meu filho, não vejo ninguém capaz de ser guia de tão grande e variado exército, pastor de tão amplo e extenso rebanho. 4 Mas vou pintar-vos alguém, em quem apareça quem de­veria ser o chefe e pastor desta família”.
5 E disse: “Este homem deve ser de vida muito austera, de grande discrição, de fama louvável, livre de preferências pessoais, para que amando mais uma parte, não provoque escândalo ao todo. 6 Deve gostar do cuidado da oração, de forma, porém, que divida horas certas para sua alma e horas certas para o rebanho. 7 De manhã cedo, deve começar pelo santíssimo sacrifício da missa e aí, em longa oração, recomendar com o maior afeto ele mesmo e seu rebanho à pro­teção divina. 8 Depois da oração, ponha-se no meio para ser depi­lado por todos, responder a todos, atender a todos com caridade, paciência e mansidão.
9 Não deve fazer acepção de pessoas (cf. At 10,34), de modo que não cuide menos dos simples e incultos do que dos instruídos e sábios. 10  Mesmo que lhe tenha sido concedido o dom da ciência, mostre-se, no seu comporta­mento uma imagem mais de piedade e simplicidade, de paciência e humildade. 11 Fomente as virtudes em si e nos outros e exerci­te-se em sua prática constante, animando os outros a fazer o mesmo mais pelo exemplo do que por palavras. 12 Deve execrar o dinheiro, que é o principal corruptor de nossa profissão e perfeição e, como cabeça e exemplo a ser imitado por todos, jamais abuse de nenhuma bolsa. 13 Baste-lhe para o seu uso, um hábito e uma caderneta; para os outros, um estojo com penas, tabuinhas para escrever e o selo. 14 Não seja colecionador de livros nem muito dedicado à leitura, para não tirar de seu cargo o que dedica ao estudo. 15 Console piedosamente os aflitos, pois é o último remédio dos infeli­zes (cf. Sl 31,7; 45,2), para que, se junto se nele faltarem os remédios da saúde, a doença do desespero não predomine nos doentes. 16 Prostre-se para dobrar os violentos à mansidão e renun­cie a algo de seu direito para ganhar uma alma(cf. FI 3,8).
17 Demonstre entranhas de piedade para com os fugitivos da ordem, como a ovelhas perdidas (cf. Mt 10,6), e jamais lhes negue a misericór­dia, 18 sabendo que essas tentações são tão fortes que podem levar a tão grande queda; poderia cair ele mesmo em um precipício maios se o Senhor permitisse que ele as experimentasse.
19 Gostaria que, como vigário de Cristo, fosse honrado por todos com devoção e reverência e que fosse provido por todos e em todas as coisas com toda a benevolência, segundo suas necessidades e como convém ao nosso estado.
20 Entretanto, convém que não se compraza mais com as honras e os favores do que se alegra com as injúrias, de forma que, por causa das honras, não se alterem seus costumes, senão para melhor. 21 Se alguma vez necessitar de alimentação mais re­vigoradora e melhor, não a tome às escondidas, mas em lugar pú­blico, para evitar que os outros fiquem envergonhados quando tiverem que cuidar de si nas en­fermidades e fraquezas.
22 Compete-lhe, sobretudo, penetrar os segredos das cons­ciências e tirar a verdade dos veios ocultos. 23 A princípio, tenha por suspeitas todas as acusações, até que, por um acurado exame, comece a aparecer a verdade. 24 Não dê ouvidos aos falatórios e tenha os faladores como especiais suspeitos das acusações e não creia neles facilmente. 25 Por fim, seja uma pessoa que, por desejo de manter a honra, jamais corrompa ou relaxe a viril regra da justiça e da equidade. 26 De forma, porém, que ninguém tenha a alma morta por excessivo rigor, não surja indiferença por su­pérflua mansidão, pela relaxada indulgência não resulte a disso­lução da disciplina e, assim, seja temido por todos e amado por aqueles que o temem. 27 Julgue e sinta que o cargo de prelado deve ser para ele mais um ônus do que uma honra.
28 Assim, desejaria que ele tivesse companheiros dota­dos de honestidade, firmes contra os maus prazeres, corajosos nas difi­culdades, amáveis e compreensivos com os que erram, tendo igual afeto para com todos. 29 Nada recebam por seu trabalho, a não ser o estritamente necessário ao corpo, e nada desejem, se­não o louvor de Deus, o proveito da ordem, o bem de sua alma e a perfeita salvação de todos os irmãos. 30 Sejam convenientemen­te afáveis para com todos, acolham com santa alegria a todos que os procuram e, com pureza e simplicidade em si mesmos, mostrem-se modelo e exemplo da observância do Evangelho, segundo a profissão da regra. 31 Eis, concluiu, como deveria ser o ministro geral desta religião e que colaborado­res deveria ter”.