Página de Estudos das Fontes Pesquisadas

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TEXTO ORIGINAL

Speculum perfectionis - 87

Caput 87. De tribus verbis quae reliquit fratribus ad conservandam perfectionem ipsorum.

1 Quadam vice cum propter infirmitatem stomachi vellet evome­re, ob nimiam violentiam quam sibi fecit evomuit sanguinem per totam noctem usque ad matutinum. 2 Cumque socii ejus cernerent ipsum prae nimia debilitate et afflictione quasi jam mori, cum maximo dolore et lacrimarum effusione dixerunt ad illum: 3 “Pater, quid sine te faciemus? Cui nos orphanos derelinquis (cfr.  Ioa 14,18)?
4 “Tu semper fuisti nobis pater et mater, generans et parturiens nos in Christo (cfr. Gal 4,19). Tu fuisti nobis dux et pastor, magister et corrector, plus docens et corrigens nos exemplo quam verbo. 5 Quo ergo ibimus, oves sine pastore (cfr. Mat 9,36)filii orphani sine patre, homines rudes et simplices sine duce? Quo ibimus quaerere te, o gloria paupertatis, laus simplicitatis et honor vilitatis nostrae?
6 “Quis nobis adhuc caecis viam veritatis ostendet? Ubi erit os loquens et lingua consulens nobis? Ubi erit spiritus fervens, nos in viam crucis dirigens et ad perfectionem evangelicam nos confortans? 7 Ubi eris, ut recurramus ad te, lumen oculorum nostrorum (Tob 10,4)ut quaeramus te, consolator animarum nostrarum? 8 Ecce, pater, ecce tu morieris? Ecce nos sic desolatos deseris, sic tristes et amaricatos relinquis!
9 “Ecce dies illa, dies fletus et amaritudinis, dies desolationis et tristitiae appropinquat! Ecce dies amara quam semper ex quo fuimus tecum videre timebamus, immo quam non poteramus etiam cogitare! 10 Nec mirum certe! quoniam vita tua erat nobis continue lumen, et verba tua erant faculae ardentes et ignientes nos continue ad viam crucis, ad perfectionem evangelicam ad amorem et imitationem dulcissimi Crucifixi.
11 “Ergo, pater, saltem benedicas nobis et ceteris fratribus, filiis tuis, quos genuisti in Christo, et aliquod memoriale tuae voluntatis relinquas nobis, quod fratres tui semper in memoria habeant et possint dicere: 12 Pater noster haec verba reliquit fratribus et filiis suis in morte sua”.
13 Tunc pater piissimus, paternos oculos in filios dirigens, ait illis: “Vocate mihi fratrem Benedictum de Piratro”. 14 Erat enim ille frater sacerdos sanctus et discretus, qui beato Francisco celebrabat aliquando ubi jacebat infirmus; quia semper, cum poterat, volebat audire missam, quantumcumque esset infirmus.
15 Cumque venisset ad eum, dixit illi: “Scribe qualiter benedico omnibus fratribus meis qui sunt in religione, et qui venturi sunt usque ad finem saeculi. 16 Et quoniam propter debilitatem et dolorem infirmitatis loqui non valeo, in iis tribus verbis patefacio breviter voluntatem et intentionem meam cunctis fratribus praesentibus et futuris. 17 Videlicet ut in signum memoriae meae, benedictionis et testamenti semper diligant se ad invicem, sicut dilexi et diligo eos; 18 semper diligant et observent dominam nostram paupertatem; 19 et semper praelatis et clericis sanctae matris Ecclesiae fideles et subjecti existant”.
20 Sic enim pater noster in capitulis fratrum solitus erat semper in fine capituli benedicere et absolvere omnes fratres praesentes et venturos ad religionem, et etiam extra capitulum in fervore caritatis hoc idem multoties faciebat. 21 Monebat autem fratres ut timerent et caverent sibi a malo exemplo, atque maledicebat omnibus qui malis exemplis provocarent homines ad blasphemandum religionem et vitam fratrum, 22 quia boni et sancti fratres de hoc verecundantur et plurimum affliguntur.

TEXTO TRADUZIDO

Espelho da Perfeição - 87

Capítulo 87. As três palavras que ele deixou aos frades para conser­var a perfeição deles.

1 Uma vez, quando quis vomitar por um mal de estôma­go, por causa da demasiada violência que teve para consigo mesmo vomitou sangue por toda a noite até de manhã. 2 Vendo os companheiros que estava quase morrendo por causa de tanta fraqueza e abatimento, disseram com a mais profunda dor e lágrimas: 3 “Pai, o que faremos sem ti? Para quem nos deixas se ficarmos órfãos? (cf. Jo 14,18).
4 Foste sempre um pai e uma mãe para nós, gerando-nos e dando-nos à luz em Cristo (cf. Gl 4,19). Foste para nós guia e pastor, mestre e corretor, ensinando-nos e corrigindo-nos mais pelo exemplo do que pela palavra. 5 Aonde iremos nós, ovelhas sem pastor (cf. Mt 9,36), filhos órfãos sem pai, homens rudes e simples sem guia? Onde iremos procurar-te, ó glória da pobreza, louvor da simplicidade e honra de nossa vileza?
6 Quem nos mostrará, ainda cegos, o caminho da verdade? Onde estará a boca que nos fala e a língua que nos aconselha? Onde estará o espírito ardente que nos dirige no caminho da cruz e nos estimula à perfeição evangélica? 7 Onde estarás para que recor­ramos a ti, luz dos nossos olhos (Tb 10,4); para que te procuremos, consolador de nossas almas? 8 Então, pai, tu vais morrer? Tu nos abandonas desconsolados, nos deixas tão tristes e amargurados!
9 Eis que chega o dia, dia de choro e amargura, dia de desolação e tristeza! Eis o amargo dia que sempre temíamos ver desde que estivemos contigo, dia em que nem sequer podía­mos pensar! 10 Certamente não é de admirar, porque tua vida tem sido uma constante luz para nós e tuas palavras, tochas ardentes e em fogo que nos impelem continuamente no caminho da cruz, na perfeição evangélica e no amor e imitação do dulcíssimo Crucificado.
11 Portanto, pai, ao menos abençoa a nós e aos outros irmãos, teus filhos, que geraste em Cristo e deixa-nos algo que seja recordação de tua vontade, que teus frades sempre tenham na memó­ria e possam dizer: 12 Na sua morte, nosso pai deixou estas pala­vras a seus frades e filhos”.
13 Então, o piedoso pai, dirigindo os olhos paternais para os filhos, disse-lhes: “Chamai Frei Bento de Piratro”. 14 Esse frade era um sacerdote santo e discreto que, algumas vezes, ce­lebrava para o bem-aventurado Francisco, quando ele estava doente; pois sempre que podia, queria ouvir a missa, por mais doente que esti­vesse.
15 Quando chegou até ele, disse-lhe: “Escreve que abençôo todos os meus frades que estão na ordem e os que virão até o fim dos tempos. 16 E porque não consigo falar por causa da fraqueza e dor da doença, nestas três palavras manifesto breve­mente minha vontade e intenção a todos os frades, presentes e fu­turos. 17 Que em sinal de minha memória, bênção e testamento sempre se amem mutuamente, como eu os amei e amo; 18 sempre amem e observem nossa senhora a pobreza; 19 e sejam sempre fiéis e submissos aos prelados e clérigos da santa mãe Igreja”.
20 Pois era assim que, nos capítulos dos frades, nosso costumava, no fim do capítulo, abençoar e absolver todos os frades presentes e que virão para a religião. Também fora do capítulo fazia o mesmo muitas vezes, no fervor da caridade. 21 Admoes­tava os frades a temerem e a guardarem-se do mau exemplo e amaldiçoava todos os que, por maus exemplos, provocavam as pessoas a ultrajar a religião e.a vida dos frades, 22 porque os frades bons e santos se envergonhavam e afligiam muito com isso.