TEXTO ORIGINAL
22.
1 Sed cum die quadam Evangelium, qualiter Dominus miserit discipulos suos ad praedicandum, in eadem ecclesia legeretur, et sanctus Dei assistens ibidem utcumque verba evangelica intellexisset, celebratis missarum solemniis, a sacerdote sibi exponi evangelium suppliciter postulavit.
2 Qui cum ei cuncta per ordinem (cfr. Est 15,9) enarrasset, audiens sanctus Franciscus Christi discipulos non debere aurum sive argentum seu pecuniam possidere, non peram, non sacculum, non panem, non virgam in via portare, non calceamenta, non duas tunicas (cfr. Mat 10,9-10; Mar 6,8; Luc 9,3; 10,4) habere, sed regnum Dei et poenitentiam (cfr. Luc 9,2; Mar 6,12) praedicare, continuo exsultans in spiritu Dei (cfr. Luc 1,47):
3 “Hoc est, inquit, quod volo, hoc est quod quaero, hoc totis medullis cordis facere concupisco”.
4 Festinat proinde pater sanctus, superabundans gaudio (cfr. 2Cor 7,4), ad impletionem salutaris auditus, nec moram patitur aliquam praeterire quin operari devotus incipiat quod audivit.
5 Solvit protinus calceamenta de pedibus (cfr. Ex 3,5), baculum deponit e manibus et, tunica contentus, pro corrigia funiculum immutavit.
6 Parat sibi ex tunc tunicam crucis imaginem praeferentem, ut in ea propulset omnes demoniacas phantasias:
7 parat asperrimam, ut carnem in ea crucifigat cum vitiis (cfr. Gal 5,24) et peccatis:
8 parat denique pauperrimam et incultam et quae a mundo nullatenus valeat concupisci.
9 Caetera vero quae audierat, summa cum diligentia, summa cum reverentia facere gestiebat.
10 Non enim fuerat Evangelii surdus auditor, sed laudabili memoriae quae audierat cuncta commendans, ad litteram diligenter impelere curabat.
TEXTO TRADUZIDO
22.
1 Mas, como em um dia foi lido nessa igreja o evangelho de como o Senhor enviou seus discípulos para pregar, o santo de Deus, aí presente, ouvindo bem as palavras do evangelho, depois da celebração da missa suplicou ao sacerdote que lhe explicasse o evangelho.
2 Depois que ele lhe explicou tudo em ordem (cf. Est 15,9), ouvindo são Francisco que os discípulos de Cristo não deviam possuir ouro, prata ou dinheiro, nem levar pelo caminho bolsa, sacola, nem pão ou bastão, não ter calçado nem duas túnicas (cf. Mt 10,9-10; Mc 6,8; Lc 9,3; 10,4), mas pregar o reino de Deus e a penitência (cf. Lc 9,2; Mc 6,12), ficou logo exultante (cfr. Lc 1,47) e
3 disse: “É isso que eu quero, é isso que eu procuro, é isso que eu desejo fazer com todo o meu coração”.
4 Então o pai santo se apressou, transbordando de gozo (cfr. 2 Cor 7,4), para cumprir o salutar aviso, e não suportou nenhuma demora para começar a cumprir o que ouvira.
5 Desamarrou imediatamente os calçados (cfr. Ex 3,5), tirou o bastão das mãos e, contente com a túnica, substituiu a correia por uma corda.
6 Então, preparou para ele mesmo uma túnica que apresentava uma imagem da cruz, para nela repelir todas as fantasias demoníacas.
7 Ele a fez muito áspera para nela crucificar a carne com os vícios (cfr. Gal 5,24) e pecados:
8 Finalmente, ele a fez paupérrima e descuidada, para que nunca pudesse ser desejada pelo mundo.
9 E tratou de fazer as outras coisas que ouvira com a maior diligência, com a maior reverência.
10 Porque não tinha sido um ouvinte surdo do Evangelho. Antes, confiando à sua louvável memória tudo que ouvira, cuidava de levar tudo adiante diligentemente.