TEXTO ORIGINAL
VI. - De mutis loquentibus et surdis audientibus.
147.
1 Apud Castrum Plebis puer unus erat pauperrimus et mendicus, qui ex toto mutus et surdus erat a nativitate (cfr. Ioa 9,1) sua.
2 Habebat namque linguam ita brevissimam atque curtam, quod multoties a pluribus exquisita, incisa penitus videretur.
3 Sero vero quodam accessit ad domum cuiusdam viri eiusdem castri, qui Marcus vocabatur, per signum, ut solent muti, ab eo petens hospitium.
4 Inclinavit enim caput ex latere, maxiliae supponens manum, ut per hoc intelligeretur quod nocte illa desiderabat hospitari cum eo.
5 Vir autem ille hilariter suscepit eum in domo sua (cfr. Iudt 6,19) et libenter tenuit eum secum, quia competenter noverat famulari iuvenis ille.
6 Bonae indolis (cfr. 3Re 11,28) erat puer, quia licet surdus et mutus esset a cunabulis, persignum tamen quaequae noverat imperata.
7 Coenante viro praedicto nocte quadam cum uxore sua et adstante puero coram eis, dixit uxori suae: “Hoc ego maximum miraculum reputarem, si beatus Franciscus huic auditum redderet et loquelam”.
TEXTO TRADUZIDO
VI. - Dos mudos que falaram e dos surdos que ouviram.
147.
1 No povoado de Pieve, havia um menino paupérrimo e mendigo, completamente surdo e mudo de nascença.
2 Tinha a língua tão curta e reduzida que muitos que a examinaram acharam que tinha sido cortada.
3 Uma tarde foi à casa de um conterrâneo chamado Marcos e lhe pediu pousada por sinais, como costumam fazer os mudos.
4 Inclinando a cabeça para o lado, com as mãos embaixo do queixo, dava a entender que queria pernoitar em sua casa.
5 O homem recebeu-o com alegria e o manteve consigo de boa vontade, porque sabia que aquele moço era um serviçal competente.
6 Era um rapaz de bom caráter que, apesar de surdo e mudo desde o berço, entendia todas as ordens por sinais.
7 Uma noite, o homem jantava com sua esposa e, estando o rapaz presente, disse à mulher: “Acho que seria o maior milagre se São Francisco lhe desse o ouvido e a fala”.