TEXTO ORIGINAL
10
1 Eidem Senis infirmo phasianus quidam de novo captus a nobili quodam transmissus est vivus.
2 Qui continuo, ut virum sanctum audivit et vidit, tanta illi amicabilitate cohaesit, ut nullo modo pateretur ab ipso seiungi.
3 Nam pluribus vicibus extra locellum fratrum in vinea positus, ut abiret, si vellet, rapido semper cursu redibat ad patrem, tamquam si ab eodem omni fuisset tempore educatus.
4 Deinde cuidam collatus viro, qui ex devotione servum Dei visitare solebat, velut sibi molestum foret a pii patris absentari conspectu, escam recusavit omnino.
5 Reportatus tandem ad famulum Dei, statim ut conspexit eumdem, quibusdam hilaritatis praetensis gestibus, avide manducavit.
6 Cum ad eremum pervenisset Alvernae propter quadragesimam celebrandam in honorem Archangeli Michaelis, diversi generis aves circa ipsius cellulam volitantes, concentu sonoro et laetitiae gestibus, quasi de eius adventu gaudentes, patrem pium invitare ac allicere videbantur ad moram.
7 Quo viso, dixit ad socium: ”Cerno, frater, voluntatis esse divinae, quod hic aliquamdiu commoremur; tantum sorores aviculae de nostra videntur praesentia consolari”.
8 Cum igitur contraheret ibi moram, falco ibidem nidificans magno se illi amicitiae foedere copulavit.
9 Nam semper horam nocturno tempore, in qua vir sanctus ad divina officia surgere solitus erat, cantu suo praeveniebat et sono.
10 Quod famulo Dei gratissimum erat, eo quod tanta sollicitudo, quam circa eum gerebat, omnem ab ipso desidiae torporem excuteret.
11 Cum vero servus Christi infirmitate plus solito gravaretur, parcebat falco, nec tam tempestivas indicebat vigilias.
12 Siquidem, velut instructus a Deo (cfr. 2Tim 3,17), circa diluculum suae vocis campanam levi tactu pulsabat.
13 Divinum certe videtur fuisse praesagium tam in exsultatione multimodi generis avium quam in cantu falconis, cum Dei laudator et cultor pennis contemplationis subvectus, tunc foret illic apparitione seraphica sublimandus.
TEXTO TRADUZIDO
10
1 Em Sena, quando ele estava doente, um nobre deu-lhe um faisão vivo, que tinha capturado.
2 O qual, logo que viu e ouviu o homem santo, se uniu a ele com tanta amizade, que não aceitava de modo algum ser separado dele.
3 Pois, colocado diversas vezes fora do lugarzinho dos frades, numa vinha, para que fosse embora, se quisesse, voltava sempre rapidamente para o pai, como se tivesse sido o tempo inteiro educado por ele.
4 Depois foi entregue a um homem que costumava visitar o servo de Deus por devoção; mas como se lhe fosse molesto estar longe do piedoso pai, recusou-se absolutamente a comer.
5 Finalmente, trazido de volta ao servo de Deus, logo que o viu, com alguns gestos que pareciam de alegria, comeu avidamente.
6 Quando chegou ao eremitério do Alverne para celebrar a quaresma em honra de São Miguel Arcanjo, aves de diversos tipos voavam ao redor de sua cela, com um canto sonoro e gestos de alegria, como se estivessem contentes com a sua chegada, pareciam convidar e animar o piedoso pai a ficar.
7 Vendo isso, ele disse ao companheiro: “Estou vendo, irmão, que é da vontade divina que moremos aqui por algum tempo, tanto parece que nossos irmãos passarinhos se consolam com nossa presença”.
8 Como, por isso, fixou morada ali, um falcão, que lá tinha seu ninho, uniu-se a ele por uma aliança de amizade.
9 Pois sempre, na hora da noite em que o homem santo costumava levantar-se, avisava-o com seu canto e barulho.
10 O servo de Deus gostava muito disso, porque tanta solicitiude, que tinha por ele, sacudia-o de todo torpor de preguiça.
11 Mas quando o servo de Deus ficava mais doente do que de costume, o falcão poupava-o, e não marcava vigílias tão cedo.
12 Assim, como se fosse instruído por Deus, perto da aurora tocava de leve o sino de sua voz.
13 É certo que havia um preságio tanto na variegada exultação dos passarinhos quanto no canto do falcão, pois o louvador e cultor de Deus, levado pelas asas da contemplação, deveria ser sublimado nesse lugar pela aparição do Serafim.