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TEXTO ORIGINAL

Legenda Maior - XII,1

Caput XII - De efficacia praedicandi et gratia sanitatum. 

1 
1 Fidelis revera famulus et minister Christi Franciscus, ut cuncta fideliter et perfecte perageret, illis potissime virtutum exercitiis intendebat, quae sacro dictante Spiritu, Deo suo magis placere cognoverat. 
2 Qua de re contigit, illum in magnam dubitationis cuiusdam agoniam incidere, quam multis diebus ab oratione rediens terminandam fratribus sibi familiaribus proponebat. 
3 ”Quid”, inquit, “fratres, consulitis, quid laudatis? An quod orationi vacem, an quod praedicando discurram? 
4 Siquidem ego parvulus, simplex et imperitus sermone (cfr. 2Cor 11,6) maiorem orandi accepi gratiam quam loquendi. 
5 Videtur etiam in oratione lucrum et cumulatio gratiarum, in praedicatione distributio quaedam donorum caelitus acceptorum; 
6 in oratione etiam purificatio interiorum affectuum et unitio ad unum, verum et summum bonum cum vigoratione virtutis; 
7 in praedicatione spiritualium pulverizatio pedum, distractio circa multa et relaxatio disciplinae. 
8 Tandem in oratione Deum alloquimur et audimus et quasi angelicam vitam agentes, inter Angelos conversamur; 
9 in praedicatione multa oportet condescensione uti ad homines et humane inter eos vivendo, humana cogitare, videre, dicere et audire. 
10 Sed unum est in contrarium quod videtur praeponderare his omnibus ante Deum, quod videlicet Unigenitus Dei Filius, qui est sapientia summa, propter animarum salutem de sinu Patris (cfr. Ioa 1,18) descendit, 
11 ut suo mundum informans exemplo, verbum salutis hominibus loqueretur, quos sacri sanguinis et pretio redimeret et emundaret lavacro (cfr. Eph 5,26) et poculo sustentaret, nihil sibi omnino reservans, quod non in salutem nostram liberaliter erogaret. 
12 Et quia nos debemus omnia facere secundum exemplar eorum, quae videmus in ipso tamquam in monte (cfr. Ex 25,40) sublimi, videtur magis Deo placitum, quod intermissa quiete, foras egrediar ad laborem”. 
13 Cumque per multos dies verba huiuscemodi ruminaret cum fratribus, certitudinaliter nequibat percipere, quid horum sibi foret ut Christo vere acceptius eligendum. 
14 Cum enim miranda nosset per spiritum prophetiae (cfr. Apoc 19,10), hanc per se ipsum quaestionem dissolvere non valebat ad liquidum, Deo melius providente, ut praedicationis meritum per supernum manifestaretur oraculum, et servi Christi humilitas servaretur.

TEXTO TRADUZIDO

Legenda Maior - XII,1

Capítulo 12 – Sobre a eficácia da pregação e a graça das curas. 

1 
1 Francisco, verdadeiramente servo fiel e ministro de Cristo, para dar conta de tudo com fidelidade e perfeição, dedicava-se principalmente àqueles exercícios de virtude que, por inspiração do Espírito, sabia que mais agradavam a Deus. 
2 Por isso aconteceu que ele caiu numa grande agonia de uma certa dúvida e, muitos dias, quando saía da oração, propunha aos frades seus familiares como acabar com ela. 
3 Dizia: “Irmãos, o que aconselhais, o que vos parece louvável: que eu me dedique à oração ou que saia a pregar? 
4 É certo que eu, pequeno, simples e mal preparado na palavra, recebi maior graça para orar do que para falar. 
5 Também parece que na oração há lucro e acumulação de graças, na pregação uma certa distribuição dos dons recebidos do céu; 
6 na oração também há uma purificação dos afetos interiores e uma união com o uno, o verdadeiro e o sumo bem, com revigoramento da virtude; 
7 na pregação empoeiram-se os pés do espírito, distrai-se por muitas coisas e há um relaxamento da disciplina. 
8 Finalmente, na oração falamos com Deus e o ouvimos, convivendo com os anjos como se vivêssemos uma vida angélica; 
9 na pregação precisamos ser muito condescendentes com as pessoas e, vivendo humanamente entre elas, pensar, ver, dizer e ouvir coisas humanas. 
10 Mas parece que há algo contrário que parece preponderar em tudo isso diante de Deus: que o Filho Unigênito de Deus, que é a suma sabedoria, pela salvação das almas desceu do seio do Pai, 
11 para formar o mundo com o seu exemplo, falando aos homens a palavra da salvação, remindo-os com o preço de seu sangue sagrado, limpando-os por lavá-los com ele, sustentando-os por faze-lo beber, sem reservar nada absolutamente para si que não desse liberalmente pela nossa salvação. 
12 E como nós devemos fazer tudo segundo o exemplo das coisas que nele vemos como em um monte sublime, parece que agrada mais a Deus que, interrompendo o sossego, eu saia para trabalhar”. 
13 E como tivesse ruminado palavras desse tipo com os frades, não conseguia perceber com certeza qual dessas coisas devia escolher como verdadeiramente aceita para Cristo. 
14 Pois conhecia pelo espírito de profecia coisas admiráveis, mas não conseguia liquidar por si mesmo essa questão. Providenciou Deus que assim era melhor, para que o mérito da pregação se manifestasse por um oráculo superno e fosse preservada a humildade do servo de Cristo.