Página de Estudos das Fontes Pesquisadas

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TEXTO ORIGINAL

Legenda Maior - XIII,3

3 
1 Cum igitur seraphicis desideriorum ardoribus sursum ageretur in Deum et compassiva dulcedine in eum transformaretur, qui ex caritate nimia (cfr. Eph 2,4) voluit crucifigi: 
2 quodam mane circa festum Exaltationis sanctae Crucis, dum oraret in latere montis, vidit Seraph unum sex alas (cfr. Is 6,2) habentem, tam ignitas quam splendidas, de caelorum sublimitate descendere. 
3 Cumque volatu celerrimo pervenisset ad aeris locum viro Dei propinquum, apparuit inter alas effigies hominis crucifixi, in modum crucis manus et pedes extensos habentis et cruci affixos. 
4 Duae alae super caput ipsius elevabantur, duae ad volandum extendebantur, duae vero totum velabant corpus (cfr. Is 6,2). 
5 Hoc videns, vehementer obstupuit, mixtumque moerore gaudium cor eius incurrit. 
6 Laetabatur quidem in gratioso aspectu, quo a Christo sub specie Seraph cernebat se conspici, sed crucis affixio compassivi doloris gladio ipsius animam pertransibat (cfr. Luc 2,35). 
7 Admirabatur quam plurimum in tam inscrutabilis visionis aspectu, sciens, quod passionis infirmitas cum immortalitate spiritus seraphici nullatenus conveniret. 
Intellexit tandem ex hoc, Domino revelante, quod ideo huius modi visio sic divina providentia suis fuerat praesentata conspectibus, ut amicus Christi praenosset, se non per martyrium carnis, sed per incendium mentis totum in Christi crucifixi similitudinem transformandum. 
9 Disparens igitur visio mirabilem in corde ipsius reliquit ardorem, sed et in carne non minus mirabilem signorum impressit effigiem. 
10 Statim namque in manibus eius et pedibus apparere coeperunt signa clavorum (cfr. Ioa 20,25) quemadmodum paulo ante in effigie illa viri crucifixi conspexerat. 
11 Manus enim et pedes in ipso medio clavis confixae videbantur, clavorum capitibus in interiore parte manuum et superiore pedum apparentibus, et eorum acuminibus exsistentibus ex adverso (cfr. Mar 15,39); 
12 erantque clavorum capita in manibus et pedibus rotunda et nigra, ipsa vero acumina oblonga, retorta et quasi repercussa, quae de ipsa carne surgentia carnem reliquam excedebant. 
13 Dextrum quoque latus quasi lancea transfixum, rubra cicatrice obductum erat, quod saepe sanguinem sacrum effundens, tunicam et femoralia respergebat.

TEXTO TRADUZIDO

Legenda Maior - XIII,3

3 
1 Por isso, como era carregado para o alto, para Deus, pelos ardores seráficos dos desejos, e por compassiva doçura estava sendo transformado nele, pela demasiada caridade quis ser crucificado. 
2 Uma manhã, perto da festa da exaltação da santa Cruz, quando estava orando em um lado do monte, viu que estava descendo do céu um Serafim com seis asas tão de fogo quanto esplêndidas. 
3 Chegou num vôo rapidíssimo ao ponto do ar perto do homem de Deus, aparecendo entre as asas a efígie de um homem crucificado, com as mãos e os pés estendidos em modo de cruz e na cruz pregados. 
4 Duas asas elevavam-se acima de sua cabeça; duas estendiam-se para voar, e duas velavam todo o seu corpo. 
5 Vendo isso, ficou enormemente espantado, e seu coração incorreu num misto de tristeza e alegria. 
6 Alegrava-se pelo aspecto gracioso pelo qual via Cristo na figura de um Serafim olhando para ele, mas o fato de estar pregado na cruz atravessava sua alma com a espada da dor compassiva. 
7 Estava muito admirado pelo aspecto dessa visão tão inescrutável, sabendo que a enfermidade da paixão não combina absolutamente com a imortalidade do espírito seráfico. 
8 Finalmente acabou entendendo, a partir disso, pela revelação de Deus, que de tal forma aquela visão fora apresentada a ele pela divina providência, que o amigo de Cristo pudesse conhecer com antecedência que não seria todo transformado na figura do Cristo crucificado pelo martírio da carne mas pelo incêndio da mente. 
9 Por isso, quando a visão desapareceu, deixou no coração dele um admirável ardor, mas na carne imprimiu a figura não menos admirável dos sinais. 
10 Pois começaram a aparecer imediatamente em suas mãos e pés os sinais dos cravos, como um pouco antes tinha visto naquela imagem do Crucificado. 
11 As mãos e os pés pareciam pregados com cravos bem no meio, aparecendo as cabeças dos cravos na parte interior da mão e em cima dos pés, e suas pontas do outro lado. 
12 As cabeças dos cravos, nas mãos e nos pés eram redondas e negras, mas as pontas eram compridas, entortadas e como que reviradas, saindo da própria carne mas destacando-se fora da carne. 
13 O lado direito também tinha uma cicatriz rubra, como se tivesse sido transpassado por uma lança e, derramando sangue muitas vezes, molhava a túnica e as calças.