Página de Estudos das Fontes Pesquisadas

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TEXTO ORIGINAL

Legenda Maior - Miraculis I,6

6 
1 Apud Potentiam, Apuliae civitatem, erat quidam clericus Rogerus nomine, vir honorabilis et ecclesiae maioris canonicus. 
2 Hic, cum infirmitate quassatus, die quadam ecclesiam oraturus intrasset, in qua erat imago beati Francisci depicta, gloriosa stigmata repraesentans, coepit de illius sublimitate miraculi tamquam de re omnino insolita et impossibili dubitare. 
3 Subito igitur, dum mente plagatus, interius cogitaret inania, in palma sinistrae manus sub chirotheca graviter se sensit esse percussum, sonitum audiens percussurae, veluti cum spiculum prosilit de ballista. 
4 Moxque tam vulnere saucius quem sonitu stupefactus, chirothecam de manu traxit, ut visu dignosceret, quod tactu perceperat et auditu. 
5 Cumque nulla fuisset prius in palma percussio, conspexit in medio manus plagam quasi sagittae percussione inflictam, ex qua tanta vis procedebat ardoris, ut videretur ex illo deficere. 
6 Mirabile dictu! Nullum in chirotheca vestigium apparebat, ut latenti plagae cordis latenter inflicti poena vulneris responderet. 
7 Clamat exinde per duos dies et rugit, dolore gravissimo stimulatus, et increduli cordis velamen explicat universis. 
8 Credere se veraciter sacra stigmata in sancto fuisse Francisco fatetur et iurat, contestans omnis dubitationis abscessise phantasmata. 
9 Orat suppliciter Sanctum Dei per sacra sibi stigmata subvenire et multas cordis preces multo impinguat profluvio lacrimarum. 
10 Mirum certe! Incredulitate proiecta, sanationem mentis sanatio sequitur corporalis. 
11 Omnis quiescit dolor, frigescit ardor, nullum remanet vestigium percussurae, sicque factum est, ut latens mentis infirmitas per patens carnis cauterium superna providente clementia curaretur, menteque sanata, et ipsa caro pariter sanaretur. 
12 Fit homo humilis, Deo devotus, sancto et fratrum Ordini perpetua familiaritate subiectus. 
13 Huius rei tam solemne miraculum iuramentis firmatum fuit, et litteris sigilli episcopi munimine roboratis ipsius ad nos notitia delata pervenit. 
14 De sacris ergo stigmatibus nulli sit ambiguitati locus, nullius in hoc, quia Deus bonus est, nequam sit oculus (cfr. Mat 20,15) quasi huiusmodi doni largitio sempiternae bonitati non congruat. 
15 Si enim illo amore seraphico multa membra capiti cohaererent Christo (cfr. 1Cor 12,12; Eph 1,22), ut et in bello simili armatura invenirentur condigna et in regno ad similem forent gloriam subvehenda, nullus hoc sanae mentis (cfr. Mar 5,15) nisi ad Christi gloriam diceret pertinere.

TEXTO TRADUZIDO

Legenda Maior - Milagres I,6

6 
1 Em Potenza, cidade da Apúlia, havia um clérigo chamado Rogério, homem honrado e cônego da igreja catedral, 
2 Atormentado pela enfermidade, entrou um dia para rezar numa igreja em que havia um quadro de São Francisco, representando os gloriosos estigmas, e começou a duvidar da sublimidade daquele milagre, achando que era uma coisa absolutamente insólita e impossível. 
3 Mas, de repente, enquanto sua mente ferida pensava interiormente em coisas descabidas, sentiu que tinha sido gravemente ferido em sua mão esquerda, por baixo da luva, sentindo o barulho do ferimento como quando um dardo é lançado da besta. 
4 Logo, tão lacerado pela ferida quanto assustado pelo barulho, tirou a luva da mão para ver com os olhos o que tinha percebido com tato e os ouvidos. 
5 E como não havia antes nenhuma ferida na mão, viu no meio dela uma chaga como se fosse um ferimento de flecha, da qual saía um ardor tão violento que pensou que, por causa de, ia desmaiar. 
6 Coisa admirável! Na luva não aparecia nenhum vestígio, para que a chaga escondida do coração correspondesse à pena da ferida infligida escondidamente. 
7 Por causa disso ficou gritando e rugindo por dois dias, levado por uma dor gravíssima, e explicava a todos o véu de seu incrédulo coração. 
8 Confessou e jurou que acreditava que Francisco tinha de verdade os sagrados estigmas, afirmando que todos os fantasmas da dúvida se haviam retirado de seu coração. 
9 Orou suplicantemente ao Santo de Deus para que o ajudasse por seus sagrados estigmas e enriqueceu as muitas preces do coração com um rio de lágrimas. 
10 Coisa admirável! Lançando fora a incredulidade, a cura da mente seguiu à cura do corpo. 
11 Acalmou-se toda a dor, esfriou o ardor, não ficou nenhum vestígio do ferimento e assim se fez que, por providência da superna providência, a doença escondida da mente fosse curada pelo cautério patente da carne e, curada a mente, ficasse curado também o corpo. 
12 O homem ficou humilde, devoto a Deus, submisso por perpétua familiaridade ao santo e à Ordem dos frades. 
13 O caso desse milagre tão solene foi assinado sob juramento e, corroborado por uma carta com o selo do bispo, chegando até nós a informação. 
14 Por isso, a ninguém seja lícito duvidar da autenticidade dos sagrados estigmas. Ninguém, porque Deus é bom, tenha um olho malvado nesta questão, como a dádiva deste dom não combinasse com a bondade sempiterna. 
15 Porque se foram muitos membros que, com aquele amor seráfico, uniram-se a Cristo-cabeça para que fossem julgados dignos de ser revestidos na batalha com semelhante armadura, e dignos de ser elevados no reino a uma glória semelhante, ninguém de são juízo deixaria de afirmar que isto pertence à glória de Cristo.