TEXTO ORIGINAL
IV - De naufragis liberatis.
1
1 In magno maris periculo positi quidam nautae, cum per milliaria decem a portu Barulitano distarent, ingravescente nimium tempestate, iam de vita dubii ancoras submiserunt.
2 Verum spiritu procellarum (cfr. Ps 10,7) mari ferventius tumescente, fractis funibus et relictis ancoris, incerto et inaequali cursu per aequora vagabantur.
3 Tandem nutu divino mari placato, ad resumendas ancoras, quarum funes superius enatabant, toto se conamine paraverunt.
4 Cumque id perficere propriis viribus non valerem, plurimorum Sanctorum invocato subsidio multisque iam sudoribus liquescentes, nec unam per totam diem resumere potuerunt.
5 Aderat autem nauta quidam, Perfectus nomine, sed moribus imperfectus, qui cum irrisione quadam dixit ad socios: ”Ecce, Sanctorum omnium invocastis auxilium, et, ut videtis, nullus est, qui succurrat.
6 Invocemus istum Franciscum, qui novellus est Sanctus, si quo modo in mare se mergat et ancoras perditas reddat”.
7 Consenserunt ceteri, non irrisorie, sed veraciter suasioni Perfecti, et ipsius obiurgantes irrisorium verbum, firmaverunt cum Sancto spontaneum votum;
8 statimque in momento sine aliquo adminiculo nataverùnt ancorae super aquas, quasi ferri natura versa foret in ligneam levitatem.
TEXTO TRADUZIDO
IV – Sobre os náufragos libertados
1
1 Alguns marinheiros, colocados num grande perigo do mar, quando estavam a dez milhas do porto de Barletta, vendo a tempestade tornar-se forte demais, já duvidando da vida, lançaram as âncoras.
2 Mas, inchando-se mais ferventemente o mar pelo sopro de um furação, romperam-se as cordas, perderam-se as âncoras e eles vagavam por caminho incerto e desigual no meio das ondas.
3 Finalmente, quando o mar serenou por permissão divina, dispuseram-se com todo esforço a recuperar as âncoras, cujos cabos estavam flutuando.
4 Como não conseguiram fazer isso com as próprias forças, invocaram a ajuda de muitos santos mas, já muito cansados de tanto suor, não conseguiram recuperar nenhuma durante todo o dia.
5 Mas havia um marinheiro, Perfeito de nome mas imperfeito pelos costumes, que disse, rindo, aos companheiros: “Invocastes o auxílio de todos os santos e, como vistes, não há nenhum para socorrer.
6 Vamos invocar esse Francisco, que é um santo novo, para ver se mergulha no mar e devolve as âncoras perdidas”.
7 Os outros concordaram com a idéia de Perfeito, não por caçoada mas de verdade, repreendendo-o por suas palavras e firmando um voto espontâneo com o santo.
8 Na mesma hora, sem que tivessem feito nada, as âncoras boiaram na água, como se a natureza do ferro fosse mudada para a de madeira leve.