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TEXTO ORIGINAL

Cronica de Frei Tomás de Eccleston - 118

118. Frater Petrus de Teukesbury, minister Alemanniae, contra regem et legatum et plures falsos fratres, cooperante gratia Dei, statum ordinis defendit in tantum, ut usque in plures provincias fama facti pervenerit et zelus veritatis invincibilis probatus.

Ipse speciali dilectione domini Lincolniae ditari meruit, a quo plura secreta sapientiae frequenter audivit. Dixit enim ei aliquando, quod nisi fratres foverent studium et studiose vacarent legi divinae, pro certo similiter contingeret de nobis, sicut de aliis religiosis, quos videmus in tenebris ignorantiae, proh dolor! ambulare.

Item dixit fratri Johanni de Dya, quod provideret sibi sex vel septem idoneos clericos de partibus suis, quos posset beneficiare in ecclesia sua; qui scilicet, quamvis nescirent Anglicum, exemplo praedicarent. Unde constat, quod non recusavit eos quos papa instituit, et nepotes cardinalium, quia nesciebant linguam Anglicanam, sed quia non quaerebant nisi temporalia. Unde cum diceret ei advocatus in curia: “Canones hoc volunt”; respondit: “Immo, canes hoc volunt”. Surrexit et confessus est Anglice, flexis genibus, coram pueris praesentatis a cardinalibus sibi, et tundebat pectus suum cum fletu et eiulatu, et sic confusi recesserunt.

Praeterea cum quaereret camerarius domini papae mille libras, in quibus visitaverat curiam, volens ut acciperet eas a mercatoribus, respondit, quod noluit dare eis occasionem peccandi mortaliter, sed si sospes veniret in Angliam deponeret eas in templo Londoniae, alioquin nunquam haberet obolum.

Praeterea dixit fratri praedicatori: “Tria sunt necessaria ad salutem temporalem cibus, sommus et iocus”. Item iniunxit cuidam fratri melancholico ut biberet calicem plenum optimo vino pro poenitentia, et cum ebibisset, licet invitissime, dixit ei: “Frater carissime, si haberes frequenter talem poenitentiam, haberes utique meliorem conscientiam”.

TEXTO TRADUZIDO

Crônica de Frei Tomás de Eccleston - 118

118. Frei Pedro de Tewkesbury, ministro da Alemanha, ajudado pela graça de Deus, defendeu de tal modo a posição da Ordem diante do rei, do legado e de muitos falsos irmãos que a fama do fato chegou a muitas províncias, e ficou comprovado seu invencível zelo pela verdade.

Ele mereceu ter o especial afeto do senhor de Lincoln, de quem ouviu frequentemente muitos segredos da sabedoria. Pois, uma vez, disse que, se os frades não fomentassem os estudos e não se dedicassem ativamente à lei divina, por certo aconteceria conosco como com outros religiosos que vimos infelizmente caminhar nas trevas da ignorância.

Ele também disse a Frei João de Dya que lhe providenciasse seis ou sete clérigos idôneos de sua região, aos quais pudesse outorgar os benefícios (42) em sua igreja: mesmo que não soubessem inglês, pregariam pelo exemplo. Por isso, consta que não recusou os que o papa constituiu e os sobrinhos dos cardeais por não saberem a língua inglesa, mas porque eles só buscavam as coisas temporais. Por isso, quando um advogado lhe disse na cúria: “Os cânones querem dizer isto”, ele respondeu: “Pelo contrário, os cães é que querem isso”. Levantou-se e confessou-se em inglês, de joelhos, diante dos jovens que lhe foram apresentados pelos cardeais e batia em seu peito com pranto e lamentações; e deste modo eles, confusos, se retiraram.

Além disso, em sua visita à cúria, quando o camareiro do senhor papa lhe pediu mil libras, querendo que as recebesse de mercadores, respondeu que não queria dar-lhes ocasião de pecar mortalmente, mas, se chegasse são e salvo à Inglaterra, depositá-las-ia no templo (39) de Londres, de outro modo nunca teria nem uma moedinha.

Disse ainda a um frade pregador: “Três coisas são necessárias para a saúde temporal: a comida, o sono e o bom humor”. Também mandou um frade melancólico beber por penitência um cálice cheio de ótimo vinho. Como ele bebeu sem a menor vontade, disse-lhe: “Irmão caríssimo, se fizesses freqüentemente essa penitência, terias certamente uma consciência melhor”.