TEXTO ORIGINAL
Caput IV - De dominio quod habuit super sensibilibus creaturis.
20
1 Nitebantur ipsae creaturae amoris vicem rependere sancto Francisco et gratitudine sua pro meritis respondere.
2 Quodam tem-pore, cum transitum faceret per vallem Spoletanam, prope Bevanium ad quemdam locum applicuit, in quo diversi generis avium maxima multitudo convenerat.
3 Quas cum sanctus Dei (cfr. Luc 4,34) vidisset, ob praecipuum Creatoris amorem quo omnes creaturas amabat, alacriter cucurrit ad locum, et eas velut rationis participes more solito salutavit.
4 Cumque aves non surgerent, usque ad eas accessit, et inter eas vadens vel veniens, cum tunica sua capita earum tangebat et corpora.
5 Interim gaudio et admiratione repletus, ut verbum Dei audirent sollicite admonuit, dicens: “Fratres mei volucres! multum debetis laudare Creatorem vestrum et ipsum diligere semper, qui plumis vos induit et pennas tribuit ad volandum.
6 Nam inter creaturas omnes liberas vos fecit, et aeris vobis contulit puritatem.
7 Non seminatis neque metitis (cfr. Luc 12,24), et sine vestra sollicitudine vos gubernat”
8 Ad haec aviculae, suo modo plurimum gestientes, coeperunt extendere colla, protendere alas, aperire ora, et in illum attente respicere.
9 Non sunt motae de loco, donec signo crucis facto, ipsis licentiam et benedictionem dedit.
10 Reversus ad fratres, quod olim non praedicaverat avibus, coepit se negligentiae incusare.
11 Ab illo ergo die, aves et bestias et etiam insensibiles creaturas ad laudem et Creatoris amorem sollicitus hortabatur.
TEXTO TRADUZIDO
Capítulo 4 - Poder que teve sobre as criaturas sensíveis.
20
1 As próprias criaturas procuravam corresponder ao amor de São Francisco e pagar-lhe com a sua gratidão pelos méritos.
2 Uma vez, quando passava pelo vale de Espoleto perto de Bevagna, parou em um lugar em que se ajuntara a maior multidão de pássaros de todo tipo.
3 Quando o santo de Deus os viu, como amava a todas as criaturas por causa do amor principal de Deus, correu alegremente para o lugar e os saudou como se costuma, como se tivessem o uso da razão.
4 Como as aves não voaram, chegou até elas: ia e voltava pelo meio delas, tocando-lhes as cabeças e corpos com sua túnica.
5 Cheio de admiração e gozo, exortou-as a ouvir solicitamente a palavra de Deus, dizendo: “Meus irmãos pássaros! deveis louvar muito ao vosso Criador e amá-lo sempre, porque os vestiu de plumas e lhes deu penas para voar.
6 Pois vos fez livres entre todas as criaturas e vos entregou a pureza do ar.
7 Não semeais nem colheis, e Ele vos governa sem que vos preocupeis”.
8 Ouvindo isso, os passarinhos, correspondendo bem do seu jeito, começaram a esticar os pescoços, a estender as asas, a abrir o bico, olhando atentamente para ele.
9 Não saíram do lugar enquanto ele não fez um sinal da cruz, dando-lhes a licença e a bênção.
10 Voltando aos frades, começou a se culpar de negligência porque não tinham pregado antes às aves.
11 Desde esse dia, foi solícito em exortar ao louvor e amor do Criador as aves, os animais e até as criaturas insensíveis.